Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

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Artigo semanal no Blog: Censura, o único refúgio de Flávio

José Nêumanne

Juíza do Tribunal de Justiça do Rio proibiu a Globo de divulgar documentos do inquérito do peculato no gabinete do primogênito do presidente na Alerj, em censura comparável à da ditadura militar

A juíza Cristina Serra Feijó, da 33.ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, proibiu a TV Globo de exibir documentos ou peças do inquérito sobre desvio de dinheiro público em proveito particular, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Atendeu a pedido de liminar dos advogados Rodrigo Roca e Luciana Pires.

A esse respeito o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, divulgou nota em que pontuou: “Qualquer tipo de censura é terminantemente vedada pela Constituição e, além de atentar contra a liberdade de imprensa, cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada. Isso é ainda mais grave quando se trata de informações de evidente interesse público. A ANJ espera que a decisão inconstitucional da juíza seja logo revogada pelo próprio Poder Judiciário”. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em nota assinada pelo presidente, Paulo Jerônimo, completou: “Parece estar se tornando praxe no país a censura à imprensa, tal como existia no tempo da ditadura militar e do AI-5”. O protagonista comemorou nas redes sociais, omitindo de forma descarada os delitos de que é acusado e atribuindo crimes aos meios de comunicação que os divulgam por dever de ofício.

O uso de expressões como “extrema imprensa” ou “Globo lixo” por fanáticos do rebanho bolsonarista é a oportuna seara em que o filho que o pai chama de zero um esparrama sementes podres de uma retórica fascistoide, autoritária, truculenta, negacionista, armamentista, anti-imunizatória, terraplanista e criacionista. Nessa safra de ignorância, estupidez e violência, argumento como o de Rech, apesar de inquestionável, de que é o cidadão, e não o meio de comunicação, o beneficiário da livre informação e sua primeira vítima quando esta é tolhida, não encontra eco. Contra essa gentalha, encantada com dedos imitando armas de fogo para esconder a própria covardia, argumentos da lógica e da luz têm parca serventia.

A biografia do rebento do mau militar, indisciplinado e terrorista, convidado a se retirar dos quartéis por ter planejado atentado à bomba na adutora do Guandu, exibe material orgânico ensanguentado. A condição de representante da cidadania fluminense na Alerj autorizou-o, por exemplo, a condecorar o capitão PM Adriano Magalhães da Nóbrega com a Medalha Tiradentes, desonrando o protomártir da Independência e os pobres espoliados e assassinados pela milícia de Rio das Pedras e pela empreiteira de assassínios Escritório do Crime. A favor dele nesse episódio sinistro só se pode dizer que não abandonou o pareceiro quando este foi executado por policiais fluminenses e baianos em Esplanada (BA), ocasião em que denunciou publicamente a covardia do fuzilamento em que seu “herói” foi eliminado.

Desde dezembro de 2018 esse homem público, que deve esclarecimentos à Justiça e aos cidadãos que o sufragaram nas urnas, nunca se dignou dar uma explicação lógica e irrefutável sobre a atividade do subtenente PM Fabrício Queiroz, cujas transações “atípicas” como guarda-livros da famiglia Bolsonaro foram reveladas pelo Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf) no inquérito aberto pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) para apurar tais crimes.

Em vez de defendê-lo, seu advogado Frederick Wassef conseguiu com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de todas as investigações sobre delitos financeiros abertas no País, incluindo suspeitas da Receita Federal sobre a contabilidade da esposa do próprio Dias Toffoli e da de seu colega Gilmar Mendes. Seis meses depois, o plenário do STF abortou esse feto monstruoso, mas nada jamais foi justificado. Wassef foi demitido e o pagador de impostos foi informado de que a linha da defesa do senador seria alterada. Nada, contudo, mudou: o filho nota zero de Jair Bolsonaro nunca apresentou uma ínfima informação sobre as acusações dos procuradores estaduais, a que ele responde, de pagar imóveis, mensalidades escolares dos filhos e despesas domésticas com dinheiro vivo, obtido com a devolução de salários de servidores fantasmas, achacados por Queiroz. Tudo o que tem feito é tentar obstruir quaisquer processos e, agora que os documentos das falcatruas são expostos à luz dos holofotes da TV, conseguir na justiça do Estado do qual é o governador ad hoc a censura, que é infame, mas não mais do que a própria biografia.

O senador que boicotou a CPI da Lava Toga vive de esmolas de liminares dadas por maiorais de tribunais que contam com promoções de fim de carreira prometidas pelo zeloso pai dele. E manda o pudor às favas ao defender a abominável tarefa que o procurador-geral da República, Augusto Aras, cumpre ao desmontar todas as operações de combate à corrupção, com as quais a famiglia Bolsonaro em peso se comprometeu jogando no lixo mentiras pregadas na campanha eleitoral para conquistar com elas milhões de votos. Até agora à sombra do poderio paterno e da covardia abjeta dos responsáveis pela salvaguarda do Estado de Direito no Brasil, Flávio Bolsonaro tem prorrogado o desenlace inevitável das denúncias de lavagem de dinheiro na franquia da Kopenhagen e outros graves crimes apenas aparentemente fuleiros, que nunca negou.

Não é possível saber até quando abusará de nossa paciência, como o fizera Catilina, que tanto contrariava Cícero. Mas talvez seja útil lembrar, como avisava minha avó, que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. A começar pela sentença absurda da incauta magistrada, que não sobreviverá à morte natural da censura, o único refúgio de Flávio Bolsonaro, e de sua pior rima, a ditadura.

*Jornalista, poeta e escritor

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No Estadão nesta quarta-feira: Religião, crime e voto

José Nêumanne

Bolsonaro dá prioridade à reeleição

num Estado corrupto, pentecostal e criminoso

O capitão Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República derrotando todos os caciques da política tradicional brasileira, apoiado em quatro pilares: antipetismo, combate à corrupção, liberalismo econômico e conservadorismo nos costumes. Na campanha, prometeu que, se fosse para adotar o pragmatismo da chamada governabilidade barganhando apoio por verbas públicas, preferia não assumir o cargo ao qual concorria. Sob a condição de ser promovida uma reforma política, que ele estava cansado de saber que não tinha a menor chance de ocorrer.

No governo tornou inviável a permanência do ex-juiz da Lava Jato, símbolo da bem-sucedida faxina nos costumes políticos, Sergio Moro, no Ministério da Justiça e Segurança Pública, substituindo-o por um fâmulo a quem prometeu uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Tem feito o possível e o improvável para ter como adversário na eleição de 2022, à qual dá prioridade absoluta na gestão, o ex-presidente petista Lula ou qualquer poste ou aliado de esquerda que este apontar. Prepara uma cama de faquir para seu “posto Ipiranga”, que para evitar destino idêntico ao do magistrado paranaense não se incomoda em ser reduzido a “imposto Ipiranga”, negando, assim como fez com a pandemia de covid-19, os preceitos da estabilidade da moeda e da responsabilidade fiscal.

A pretexto da governabilidade por pelo menos oito anos, Bolsonaro correu para o abrigo do baixíssimo clero de seus dois anos de vereador no Rio e 28 como deputado federal, que passou a se denominar Centrão sob a liderança de Eduardo Cunha, que, na presidência da Câmara, defenestrou Dilma Rousseff da Presidência da República. Sem se perturbar com a circulação nas redes sociais de um vídeo de seu guarda-costas, general Augusto Heleno, que se lançou na vida artística da política entoando a paródia do samba de Ary do Cavaco, tornado sucesso por Bezerra da Silva, “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”.

E adota qualquer atitude para escapar do inquérito do Ministério Público fluminense sobre a suspeita bem fundamentada de prática de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de seu primogênito, Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). E ainda mais com a extensão do crime ao próprio gabinete na Câmara dos Deputados, onde empregou Nathalia, filha do investigado Fabrício Queiroz, seu colega na brigada de paraquedistas do Exército e amigo da vida inteira, com óbvias conexões com chefões da milícia e do crime organizado, como o capitão PM Adriano da Nóbrega. Para tanto se expõe a constrangimento impróprio para qualquer cidadão de bem, como as perguntas de repórteres sobre os motivos de depósitos de Queiroz e da mulher, Márcia Aguiar, de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle. Perguntas a que tem respondido com a costumeira elegância, ameaçando esmurrar quem as faz ou chamando-o de otário e bundão.

A pauta dos costumes conservadores está exibindo nesta pandemia a terrível, mas nada evangélica, associação entre confissões pentecostais, o crime individual ou organizado e a corrupção, que não é inédita na política e na gestão pública brasileiras, mas nunca foi de tão explícito descaramento. A pastora e cantora gospel Flordelis Souza, acusada na semana passada pela polícia fluminense de ter usado sete filhos e uma neta para executar com 17 balaços o ex-filho, ex-genro e último marido, o também pastor Anderson do Carmo, mereceu a misericordiosa solidariedade de Michelle Bolsonaro nas redes sociais. O presidente achou por bem levar sua cabo eleitoral mais valorizada, mais uma pastora, Damares Alves, à própria live semanal para evitar a contaminação pelo sangue derramado da vítima do projeto reeleitoral, que une todos os personagens desse episódio sórdido. Parceira da assassina num plano de adoção de menores abandonados, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disse que a homicida “enganou todo o Brasil”. Não dá para rir dessa piada tétrica. Para anular o desgaste dos flagrantes de sua relação com a criminosa, Bolsonaro envolveu os “300” que fizeram selfies com ele em Foz do Iguaçu.

O que dizer, então, de o quarto pastor deste texto, Everaldo Dias Pereira, frequentador das delações premiadas do propinoduto das empreiteiras corrupteiras, tê-lo batizado e aos três filhos parlamentares nas águas profanadas do Rio Jordão, na Terra Santa? Presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC), pelo qual Wilson Witzel foi eleito e no qual o próprio capitão cloroquina militou, o espírito santo de orelha do governador afastado do Rio de Janeiro está preso. Exerce o papel de água no chope da comemoração de mais uma baixa entre eventuais oponentes do clã Bolsonaro em sua marcha rumo a novo triunfo.

Resta-nos rezar para o messias salvar seu povo das garras dos sócios dessa conjura que torna o Estado que nos governa uma associação de gângsteres de púlpitos, traficantes de armas e drogas, assassinos de ofício e gatunos da gestão pública.

Como anda a coisa, só Jesus na causa nos salvará.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.A 2 do Estado de S. Paulo da quarta-feira 2 de setembro de 2020)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.


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Comentário no Jornal Eldorado: Casamento de conveniência política

Três dias após o afastamento de Wilson Witzel, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, e a família Bolsonaro explicitaram um processo de aproximação. Castro anunciou ter conversado por telefone com o senador Flávio Bolsonaro. O Rio depende da União para assuntos como o Regime de Recuperação Fiscal, que precisa ser renovado esta semana para garantir o funcionamento da máquina do Estado. Já a família do presidente quer ter influência no Palácio Guanabara. Pois até dezembro, o governador escolherá o novo chefe do Ministério Público estadual. Essa nomeação interessa ao clã Bolsonaro, pois influenciará, por exemplo, no andamento da investigação do esquema de peculato (apropriação do salário de servidores), corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que tira o sono do primogênito do presidente, senador Flávio Bolsonaro.

Para ouvir comentário clique no link abaixo e, em seguida, no play:

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Assuntos para comentário na terça-feira 1 de setembro de 2020-09-01

1 – Castro se alinha ao Planalto; Witzel recorre ao Supremo Tribunal Federal contra o afastamento. Esta notícia passou grande parte do dia de ontem em destaque no Portal do Estadão. Quais serão as conseqüências práticas que você prevê para esta informação

2 – Ministério Público do Rio conclui investigação sobre peculato no gabinete de Flávio Bolsonaro. Aqui, outra notícia ainda destacada nesta manhã na capa do Portal do Estadão. E agora, José? Vai adiantar o novo governador mudar o procurador-geral do Estado em janeiro de acordo com os interesses da família presidencial

3 – Contas da mãe do capitão Adriano revelam transferências, cheques e depósito para Queiroz. Esta é outra notícia dos resultados deste inquérito chocante. Você acha que ainda resta alguma dúvida sobre as relações do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro com as milícias

4 – Honestidade e garantismo de araque é o título de seu artigo no Blog do Nêumanne no Portal do Estadão. Que ângulo você aborda sobre esse caso que parecia não ter mais fim sobre as movimentações atípicas do gestor financeiro do gabinete do primogênito de Jair Bolsonaro na Alerj

5 – A Câmara não pode fugir à sua responsabilidade diante de temas que misturam nojo, indignação e raiva – é o título da chamada de capa do Portal do Estadão para o artigo de Eliana Cantanhêde a respeito do foro privilegiado que evita que a deputada Flordelis Souza responda pela acusação da polícia civil fluminense de ter mandado filhos matarem o marido Anderson do Carmo. Você concorda com esse raciocínio da colega

6 – Governo prevê pelo menos mais 13 anos de déficit fiscal – é a manchete da edição impressa do Estadão hoje. Qual é sua opinião sobre esse prolongamento da agonia econômica da pandemia, que acaba de ser anunciada nesta notícia


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No Blog do Nêumanne: Honestidade e garantismo de araque

José Nêumanne

Afastamento de Witzel do governo do Rio põe em xeque duas tradições inabaláveis da hipocrisia na política e na gestão do Estado no Brasil: probidade a toda prova e pleno direito de defesa

O escândalo em torno da atuação do governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que culminou em processo de impeachment na Assembleia Legislativa e seu afastamento do cargo por 180 dias pelo Superior Tribunal de Justiça, expõe duas farsas na vida pública nacional. A primeira são as juras de lisura na manipulação do erário tendo como base a falta de prática na política. E a outra, a falsa imparcialidade dos ministros das altas Cortes, garantida pela profusão de habeas corpus concedidos a protagonistas de casos escabrosos de desvios de recursos públicos.

Fuzileiro naval e paraquedista militar de origem, juiz de carreira e marinheiro de primeiríssima viagem em disputa de votos, Wilson Witzel nadou de braçada em mares revoltos da eleição estadual fluminense em 2018. Na disputa apoiou e foi apoiado por outro “azarão” nas eleições gerais: Jair Bolsonaro apostou no antipetismo, no combate à corrupção e na necessidade da reforma da máquina pública como armas de persuasão do eleitor. Com diferenças: ele era realmente iniciante, enquanto o capitão proibido de frequentar a escola de formação de majores, ao contrário, disputou a Presidência após dois anos na Câmara Municipal do Rio e 28 na Câmara dos Deputados. De lambujem, este ainda exibia na bagagem um filho deputado estadual que se tornaria senador, outro, reeleito deputado federal e mais um, vereador desde os 17 anos. Toda a descendência tem sustento garantido sem demissão e perda de renda. E com foro privilegiado.

Ambição de ambos e amadorismo do ex-juiz os separaram. Mesmo encarando evidências cabulosas de participação e proteção em esquema de peculato nos gabinetes de dois filhos e no próprio, administrados por ex-colega na brigada de paraquedistas do Exército, o subtenente PM do Rio Fabrício Queiroz, que protagoniza inquérito no Ministério Público do Estado (MP-RJ) em que figuram depósitos vultosos em dinheiro vivo de um chefão de milícia e empresa que agenciava préstimos de pistoleiros profissionais, o capitão PM do Rio Adriano Magalhães da Nóbrega.

Tudo isso, contudo, está imerso num mar tão poluído quanto a Baía da Guanabara, de dejetos morais que não vêm à tona talvez por causa do peso do material orgânico disponível. Sua reação estúpida a questionamentos sobre depósitos de pelo menos R$ 89 mil reais feitos pelo operador do sistema e sua mulher, Márcia Aguiar, em contas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, é tratada de forma jocosa por seus asseclas, como o suspeitíssimo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, e com cínico descaso pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia, que mantém em gaveta trancada mais de 30 processos de impeachment.

Sem capivara similar, Witzel embriagou-se com o ineditismo de seu sucesso eleitoral e apostou todas as fichas em charme inexistente para afundar num pântano que não cuidou de evitar. Como os Bourbons desprezados por Talleyrand, ele fez questão de repetir tudo o que cinco de seus antecessores no Palácio Guanabara fizeram de errado, entre eles o recordista preso por pilantragem, Sérgio Cabral, Mas não deu a mínima atenção aos péssimos resultados penais colhidos pelo inspirador. Como se fartou de citar o copioso noticiário sobre o caso, é acusado de ter lavado dinheiro na contabilidade do escritório de advocacia da mulher, Helena Witzel, assim como foi feito antes com Adriana Ancelmo. As investigações também descobriram que, a exemplo de Cabral, os aliados de Witzel usaram doleiros do Uruguai para movimentar os recursos do esquema. O sistema incluiu ainda cofres e viaturas de uma transportadora de valores, a Fenixx, para guardar o dinheiro, repetindo mais uma vez o grupo de Cabral, que recorria aos serviços da transportadora TransExpert, evitando com isso que o dinheiro passasse pelo sistema bancário oficial. Essa foi a fórmula usada por Cabral e repetida por Witzel para receber e depositar propinas em dinheiro vivo. Método, aliás, similar ao de que é acusado um de seus maiores apoiadores na campanha e hoje inimigo mortal, Flávio, o primogênito de Bolsonaro.

Até agora, contudo, todas as evidências que pesam contra o ex-aliado de campanha, produzidas e vazadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), não causaram o efeito explosivo das revelações da Operação Placebo, que ainda tem a agravante de ter desvendado a malversação de verbas empregadas no combate à pandemia de covid-19. Pois isso adiciona desumanidade à falta de prática e ao desleixo estúpido. O previsível desenrolar dos acontecimentos é a perda do cargo de Witzel retirar de suas mãos o único trunfo importante para enfrentar o inimigo poderoso na Federação: a direção do MP-RJ, que vai ser substituída em janeiro de 2021. A troca pode explicar, embora não justifique, a comemoração da famiglia Bolsonaro da desgraça do paraquedista que não soube esperar sua vez no topo da nova carreira.

Por enquanto, a única carga d’água capaz de alterar o sabor pleno do chope da vitória do aliado que virou inimigo é a prisão do pastor Everaldo Dias Pereira, acusado pela Operação Lava Jato de ter recebido R$ 6 milhões da Odebrecht para dar uma mãozinha amiga a Aécio Neves (PSDB) num debate presidencial na TV em 2014. Ou seja, dois anos antes de ter batizado Bolsonaro (o que também faria com Witzel) no Rio Jordão e quatro antes da eleição dos dois. Mas quem vai prestar atenção nisso? Os bolsonaristas ditos de raiz, ou seja, que vivem enterrados no próprio fanatismo, acreditam piamente que quem o povo elege nunca mais pode perder o mandato, a não ser na eleição seguinte. Embora seu “mito” (ou seja, minto) tenha enterrado os eleitos Collor e Dilma com seus votos e agora trate de sepultar Witzel, eleito com seu apoio em troca de apoiá-lo mesmo tendo a ele faltado a total garantia de seu direito de defesa.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 31 de agosto de 2020)

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No Blog do Nêumanne: Cúmplices secretos do estuprador

José Nêumanne

A exibicionista profissional Sara Giromini, seu “mito”, Jair Bolsonaro, e quem protege o anonimato do estuprador da sobrinha de dez anos que engravidou se associam a este no crime hediondo

A história é tão horripilante que simplesmente ao ver o título da notícia o impulso emocional é fugir dela, não querer nem saber. Uma menina de 10 anos foi engravidada após ter sido estuprada pelo tio. Escapar do horror do caso, contudo, não é possível. Simples assim. Urge encará-lo. Pelo simples fato de que é real e da realidade ninguém escapa, embora seja possível fugir da verdade inexorável dos fatos. Sim. Existem pedófilos, seres humanos abjetos que abusam sexualmente de crianças indefesas. O caso dessa menina do Espírito Santo é comum, mas não se encerra em si mesmo. A criança era abusada sexualmente pelo parente, irmão de algum de seus pais, havia quatro anos, ou seja, desde os 6 anos de idade. E a biologia nos torna a todos, culpados e inocentes, vulneráveis à eventualidade da gravidez de uma mulher que ainda não chegou à adolescência, mas já está em plena puberdade. No caso específico, neste país nada especial, o episódio tem consequências que podem ser consideradas iguais ou até piores do que o fato em si e suas causas.

O desenlace trágico, por implicar a perda da vida da criança gerada, produz resultados talvez tão terríveis quanto o crime imperdoável de um nefasto ser humano, se é que pode ser definido com essas duas palavras quem praticou o crime horrendo. Mas, infelizmente, esse inexorável fruto de uma violência sexual contra uma criança, mesmo inevitável pelas circunstâncias de tudo, não apaga as abominações praticadas pelos exploradores da miséria humana e suas convicções religiosas e morais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com todos os defeitos que tem, protege, pelo menos teoricamente, o direito à privacidade e ao anonimato da primeira vítima, a menor violentada. Além da dor inocente da perda do filho prematuro e não desejado, do trauma com que terá de conviver pelo resto da vida, a pequena capixaba também foi submetida à violação do próprio direito ao esquecimento. Nunca esse conceito, tão desejado em nossos tempos de quebra permanente da privacidade, foi tão necessário quanto o dela. Mas seu nome foi estampado nos paredões de fuzilamento das redes sociais, essas maravilhosas e abomináveis máquinas de distribuição rápida e massiva de dádivas e penas. Certa fanática do exibicionismo egocêntrico e insano, chamada Sara Fernanda Giromini, se autointitula Sara Winter, em homenagem a uma mulher de trajetória deplorável, espiã nazista de nobre e rica estirpe britânica, cujos membros frequentavam a intimidade do maior herói da paz dos tempos modernos, o primeiro-ministro Winston Churchill, literato de talento, orador respeitável, estadista e guerreiro iluminado. Tudo o que essa senhora persegue é a notoriedade, bezerro de ouro da sociedade submetida ao primado da glória, não nos campos de batalha, mas no fuzilamento cruel e covarde de reputações pelos logaritmos dos computadores. Caçadora de prestígio pelo caminho mais fácil da perversão, ela foi feminista soit-disant de esquerda e depois virou militante totalitária de direita, conectada com a tragédia torpe do racismo, da violência e da fratura da inocência. Foi em busca dessas migalhas apodrecidas do cruento banquete nazi-fascista que ela pretendeu liderar um grupo que se apelidou de 300 do Brasil, em homenagem aos 300 heróis do general espartano Leônidas, que enfrentou o poderoso exército do rei persa Xerxes no desfiladeiro de Termópilas, na Grécia antiga. Nunca passaram de 30 e, mesmo assim, ela, que bem merece ser comparada com o zero à esquerda que faltou à direita, em todos os sentidos, se jacta da ignomínia, a pretexto de banalizar o sagrado conceito da liberdade de expressão, garantida em Estados de Direito como o nosso. Por isso desafiou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais ao pugilato tremendo e participou de um bombardeio da sede da mais alta instituição jurídica com fogos de artifício. Com justiça, foi presa. Por descuido da toga máxima, solta. Agora mostrou que a segunda decisão foi temerária. No gozo de imerecida liberdade, violou a lei, a infância e a inocência, rasgando o ECA, ao revelar em letras capitais o nome da vítima. Talvez por se sentir aliada, e cúmplice, do estuprador, não mencionou seu nome, como, aliás, ninguém o fez até agora, em omissão conivente. Preferiu açular grupos de fanáticos da fé a ameaçarem a paz e a vida de pacientes do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, no Recife. Convocados por seu chamamento, arruaceiros abortistas e antiabortistas tentaram invadir o hospital, cujo endereço, também em letras capitais, foi por ela revelado. Tanto os vândalos da Comunidade Católica Porta Fidei, que insultaram o médico, Olímpio Barbosa, que fez a cirurgia para preservar a vida sã da pequena mãe de “aborteiro” *e a ela de “assassina”), covarde e cruel infâmia, quanto seus adversários deveriam ficar em casa. Em vez de contribuírem para a arruaça, preservando o inocente (no sentido jurídico) direito à paz e ao anonimato que o tio canalha tentou roubar da sobrinha. Vídeos que circulam na internet, assim como os que foram retirados do ar da lavra da fanática exibicionista, mostram a confusão. São provas de que o descumprimento da violação denunciada pelo advogado Ariel de Castro, especialista em direitos da infância e juventude consultado por Universa, segundo o UOL, estupra o artigo 17 do ECA e o 286 do Código Penal, que proíbe incitar publicamente à prática de crime.

Cúmplice do estuprador anônimo, assim como o são algumas autoridades e certos meios de comunicação que não o identificaram como deveriam, Sara Fernanda Giromini não merece a liberdade que usufrui por omissão da Justiça, acomodada e lerda. E para ser mais convincente em sua atual pose de estadista de araque, que interpreta sem convicção nem talento, o presidente Jair Bolsonaro já deveria ter, no mínimo, parado de defender e avalizar esses asseclas, que dizem segui-lo e tentam imitá-lo.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne, na segunda-feira 17 de agosto de 2020)

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Comentário no Jornal Eldorado: Bolsonarista encalacra Eduardo Bolsonaro

O deputado estadual paulista Douglas Garcia (PTB) disse em um processo na Justiça de São Paulo que não foi ele quem enviou à embaixada dos Estados Unidos no Brasil uma cópia do dossiê com dados pessoais de opositores do governo federal que participam de um movimento chamado “antifascista”, mas sim, que a versão foi entregue às autoridades norte-americanas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro. Ele tinha sido processado por ter produzido documento com dados pessoais de manifestantes que participaram de um protesto em favor da democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro em 31 de maio, na Avenida Paulista. Os manifestantes se autodeclaravam “antifascistas”. Antes, ele disse ter enviado o tal dossie a outras autoridades, incluindo a Polícia Federal.

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Assuntos para comentário da terça=feira 11 de agosto de 2020:

1 – Haisem – O que você tem a dizer sobre a notícia de que o deputado estadual bolsonarista paulista Douglas Garcia disse que o deputado federal também bolsonarista e de São Paulo Eduardo Bolsonaro entregou o tal dossiê dos servidores antifascistas ao governo dos Estados Unidos

2 – Carolina – Você acha que até quando o ministro da Justiça, André Mendonça, vai insistir em negar às instituições que lhe exigem o tal relatório produzido por sua Secretaria de Operações Integradas, agora repetindo isso na resposta à requisição pelo Ministério Público Federal

3 – Haisem – O que você acha da decisão do relator no Supremo Tribunal Federal de recusar a demanda do procurador-geral da República, Augusto Aras, contra sua ordem para não permitir que invada os arquivos sigilosos da Operação Lava Jato em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, mandando o recurso para julgamento do plenário da Corte

4 – Carolina – Que conseqüências poderão produzir nas decisões do presidente da República, Jair Bolsonaro, a renúncia do primeiro-ministro do Líbano, Hassah Diab, e a vitória expressiva do único ditador europeu, Aleksander Lukashenko, nas eleições presidenciais da Belorus

5 – Haisem – Que bons motivos institucionais o ministro interino há três meses da Saúde, general Eduardo Pazuello, poderá ter tido para declarar em entrevista coletiva que não importa o número de mortos pela covid-19, que passou de 100 mil no Brasil, mas cada brasileiro que morre

6 – Carolina – De que tema específico no noticiário do dia você trata em seu artigo semanal publicado desde ontem em seu Blog do Nêumanne sob  o título A volta eterna dos que nunca vão

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Criação de sites em recife Q.I Genial

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