Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Biobibliografia


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José Nêumanne: Autógrafos na 25ª Bienal Internacional do Livro

Autografarei o meu livro O silêncio do delator, na 25ª Bienal Internacional do Livro de S. Paulo, no próximo dia 10 de agosto, às 19h30, no estande da Universo dos Livros, E080, Pavilhão do Anhembi. Sinta-se especialmente convidado.

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NÊUMANNE PINTO: HISTÓRIA DE VIDA

 

 


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Posse na APH: Discurso de José Nêumanne Pinto

Discurso de José Nêumanne Pinto

na posse na Cadeira nº 2 da Academia Paulista de História

em 1º de julho de 2015

Recentemente, Isabel, minha mulher, ou melhor, a mulher de minha vida, me convenceu a movimentar pessoalmente meu Twitter, que é administrado por Cláudia Cordeiro, viúva do grande poeta Alberto da Cunha Mello e minha web designer. Fui, então, instado a escrever um resumo do que me proponho na rede social em questão e também na minha vida. Liberdade é meu ofício, escrevi. Anteontem convidei o poeta Paulo Bomfim para esta cerimônia, por telefone, e lhe contei isso. E ele me disse: “Que belo título!” Eu, então, imediatamente resolvi começar esta prosa com vocês por essa frase que resume tudo: minha vida, minha profissão de fé, minha ideologia, minha missão como comunicador na imprensa, no rádio e na televisão… Mais ainda: o que me proponho a fazer nesta Casa. Nada procurarei fazer entre meus queridos confrades que não seja lutar pela liberdade, ou seja, contra qualquer tipo de arbítrio, censura ou agressão a este direito fundamental sem o qual homem nenhum merece a denominação de sapiens.

Ruy Martins Altenfelder (vice-presidente da APH), Paulo Casseb (presidente do Tri8bunal Militar do Estado de São Paulo) Gaudêncio Torquato (acadêmico da APH), Ney Prado (tesoureiro da APH), José Nêumanne Pinto e Luiz Gonzaga Bertelli (presidente da APH)

Ruy Martins Altenfelder (vice-presidente da APH), Paulo Casseb (presidente do Tri8bunal Militar do Estado de São Paulo) Gaudêncio Torquato (acadêmico da APH), Ney Prado (tesoureiro da APH), José Nêumanne Pinto e Luiz Gonzaga Bertelli (presidente da APH)

No entanto, liberdade só não basta. Na vida e nesta Casa preciso assumir outros compromissos e expressá-los logo de saída desta tribuna. Se a liberdade é meu ofício, amo a verdade. Casei-me com a História antes mesmo de contrair núpcias com Minha Isabelescência, historiadeusa da Vila Buarque, baronesa da Borborema e madonnella de Campina Grande. Na verdade, flerto com a História há muito tempo e, neste curto prazo que tenho de 64 anos de vida, já tive oportunidade de cruzar algumas vezes com ela. Era um adolescente de 17 anos quando ouvi num ônibus no Rio de Janeiro a transmissão da visita dos astronautas americanos, representando todo o gênero humano, à lua dos namorados. Lembro-me também da sensação de ver a história acontecendo diante dos meus olhos, em real time, como se diz nestes tempos de devoção à cibernética e à língua de Shakespeare, quando acompanhei a paralisação das linhas de montagem das fábricas de automóveis e as assembleias de metalúrgicos grevistas no ABC paulista. Ou quando acompanhei com emoção incontida o julgamento dos militares argentinos, ocasião em que também entrevistei meu maior ídolo literário, Jorge Luís Borges, em Buenos Aires. A queda da ditadura com a escolha de Tancredo Neves para presidir a Nova República foi outra ocasião destas. Assim como a fatalidade da morte do escolhido e sua substituição na presidência pelo inesperado José Sarney. A sensação de estar sendo observado pela irônica deusa Clio me acompanhou ainda ao longo da primeira eleição para o posto mais importante da política brasileira, em 1989, logo depois de ter visto pela televisão a queda do Muro de Berlim, que eu tinha atravessado antes, na Estação de Alexanderplatz.

Evidentemente, isso não faz de mim um historiador, mas me torna um atento espectador da História, com alguma participação nela. Participei da História, por exemplo, quando meu pai no jornalismo, J. B. Lemos, foi encarregado por seu amigo Marco Antônio Coelho, preso no Doi Codi, de divulgar um documento em que eram descritos e desenhados os instrumentos da tortura a que ele e seus companheiros de prisão eram submetidos. A imprensa ainda estava sob censura, quando o Jornal do Brasil publicou meu relato, ao mesmo tempo em que Ewaldo Dantas publicou o documento numa edição inteira do jornal da arquidiocese, O São Paulo, e Boris Casoy o noticiou na Folha de S.Paulo. A entrevista que fiz com Miguel Arraes, ganhando uma eleição para o governo de Pernambuco depois do exílio forçado pela ditadura, faz parte deste relicário de memórias de momentos iniciados pela emoção de que fui tomado ao ver na revista O Cruzeiro a foto de Getúlio Vargas morto com um lenço branco lhe segurando o queixo, numa coleção que meu pai guardava com zelo em minha casa, na infância do sertão. Como o pânico que senti ao acompanhar passo a passo pelo rádio no trânsito congestionado da Marginal do Tietê, que os bandeirantes paulistas usaram como via para penetrar sertões adentro, a constatação dos atentados contra as Torres Gêmeas em Nova York, enquanto pensava o que aproveitar da entrevista que eu vinha de fazer com Fernando Henrique Cardoso na biblioteca do Palácio da Alvorada.

José Nêumanne Pinto discursa na posse na APH

José Nêumanne Pinto discursa na posse na APH

O amante de Clio não morre de tédio, vocês sabem disso melhor do que eu. Mas não estou aqui para tratar do que vi ou ouvi na vida, mas para cumprir uma missão mais difícil do que registrar a história. Proponho-me a resgatá-la. Como, vocês me perguntarão. A explicação do que pretendo me força a fazer uma digressão. Há uma semana, a sra. Dilma Rousseff, reeleita no ano passado para cumprir mais quatro anos de mandato, louvou a mandioca como uma conquista brasileira. Não propriamente uma peculiaridade nossa, como a jabuticaba, mas algo que conquistamos para usufruto e gáudio da humanidade. Nascido ao lado de uma casa de farinha, como Gaudêncio Torquato, como eu testemunha do funcionamento de muitas bolandeiras no sertão de minhas origens, a mandioca nunca foi para nós um elemento estranho. Minha avó materna, dona Quinou, me alimentou nas férias que passava na casa dela, onde nasci, com tapiocas (tão saborosas quanto as feitas por Maria Betânia Pimentel de Castro, minha sogra, tem feito no café da manhã lá em casa por estes últimos dias) e beijus de sabor tão inesquecível quanto as madeleines de que fala Marcel Proust em À La Recherche du Temps Perdu. Ainda assim, nem essas minhas idiossincrasias nem meu afeto pelo simpático Aldo Rebelo, ministro de Dilma e grande incentivador do culto – e não tanto do cultivo – à mandioca, me permitem interpretar a constatação presidencial como algo a ser encarado como mais de que uma nova patacoada de sua verve insustentável. No discurso em homenagem à mandioca, à bola de folhas de bananeira e às mulheres sapiens, seja lá o que for isso, a presidente me alertou para a necessidade de travar o bom combate da recuperação das qualidades da língua que minha mãe me ensinou a falar e a escrever nas noites quentes do sertão antes que a flor inculta e bela do poeta Olavo Bilac se transforme num erva daninha estúpida e feia.

Na condição de ocupante da cadeira de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, antes ocupada por Epitácio Soares, meu companheiro de redação no Diário da Borborema, na Academia de Letras de Campina Grande, e da cadeira de Augusto dos Anjos, antes honrada por Altimar Pimentel, na Academia Paraibana de Letras, sempre combati o populismo gramatical. Certa feita, o professor Ivan Teixeira, da USP, me lembrou que o Conde Almeida Garrett também costumava submeter advérbios a flexões de gênero quando critiquei o ex-presidente Luiz Inácio da Silva por ter criado o neologismo “menas”. Respondi-lhe que certamente Lula não se inspirou em Garrett para fazê-lo. Irreverência à parte, mesmo não tendo legitimidade acadêmica para fazê-lo, sempre reconheci que o povo faz a língua e, se não a fizesse, ainda hoje falaríamos o latim vulgar das feiras medievais, não tendo chegado ao português de Luís de Camões pela via do galaico-português. Mas acho necessário manter a língua canônica (palavra que prefiro a erudita, que me parece meio esnobe) para preservar os tesouros culturais nela expressos. Acho que a posição populista de corrigir erros gramaticais em textos escritos é excludente, pois impede o acesso do povo mais humilde e iletrado aos tesouros literários que pertence a todos – e não apenas aos letrados.

Por isso, peço que me permitam citar o excelente artigo de minha colega Rosângela Bittar no Valor Econômico de hoje, que acabo de ler, para esclarecer não apenas meu combate contra a bastardização da última flor do Lácio, se me permitem neologismo talvez tão inválido quanto o “menas” do padim Lula, mas também para chegar ao ponto que preciso lhes esclarecer sobre o bom combate da salvação de nossa história. Rosângela cita outra colega, Dad Squarizi, que milita há muito tempo na imprensa brasiliense travando a inglória batalha de tentar manter a graça e a glória da língua de Eça de Queiroz e Machado de Assis. Em resumo, Squarizi lembra que o erro mais elementar é o de grafia, o mais frequente é o da sintaxe, mas o pior de todos, o mais terrível, como ela diz, é o da falta de lógica, que aleija o argumento, o pensamento, o conceito. É nesse erro que deseduca que mais a mulher que pretende ser mestra de uma “pátria educadora” incorre. Os jornais evitam repeti-los, mas o blog do Palácio do Planalto insiste em manter os discursos da presidente incólumes com todos os seus absurdos, as suas grosserias e os seus barbarismos. Não perderei tempo em citá-los, tão repetidos eles são nas alocuções dela.

Prefiro aproveitar o pouco tempo que me resta indo “direto ao assunto”, como sempre prometo em meus comentários na rádio Jovem Pan e na TV Gazeta, em cujos noticiários faço comentários. No meio daquilo que o primeiro editorial do Estado de S. Paulo de hoje define como Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá, de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, dona Dilma acaba de cometer nos Estados Unidos equívocos mais grosseiros e daninhos à História do que idiotices como impor presidenta no lugar de presidente o são. Stalin costumava retirar inimigos como Trótski da iconografia da revolução russa. Os nazistas de Hitler queimavam toda a produção cultural que contradissesse sua ideologia. A Inquisição católica estabeleceu um index proibitorum para vedar publicações que considerava heréticas. Lula recentemente adotou esse tipo de postura ao negar que me conhecia, tentando desqualificar meu livro O que sei de Lula, editado pela Topbooks em 2012. Com isso, ele quis impor a condição sine qua non de conviver com o tema a quem quiser escrever sobre qualquer personagem. Ou seja, o cubano Leonardo Padura, que entrevistei para o Roda Viva, da TV Cultura segunda-feira, não poderia estar fazendo o sucesso que faz com seu magnífico El hombre que amava los perros, sobre o assassinato de Trotski por Ramón Mercader a mando de Stalin, porque não conheceu nenhum deles e nasceu depois de 1940, quando ocorreu o crime em Coyoacán.

O que Dilma acaba de fazer na Casa Branca e na presença de Barack Obama, que nada tinha que ver com o peixe, é muito pior do que isso tudo. Dilma submete a história do País que preside à ignorância, à dislexia e à falta de escrúpulos, atribuída à esperteza política, que são apenas dela própria. Ela se atribui com a faixa presidencial o poder de reescrever nossa História. Atingida pela delação premiada, figura jurídica válida do Direito Penal depois de lei que ela mesma assinou, ela resolveu desqualificar o delator, misturando tempos, conceitos e significados semânticos. Sobre isso Rosângela Bittar, citando Dad Squarizi, escreveu definitivamente melhor do que eu mesmo o faria. Ainda assim, tentarei retomar o tema para pô-los a par do caminho que quero fazer até a conclusão.

Para isso, peço vênia para submetê-los ao sacrifício de ouvir um raciocínio, se é que se pode chamar isso por esse nobre nome, dela. Ela disse exatamente o seguinte: “Eu não respeito o delator, até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora. Eu resisti bravamente”. No dia seguinte, diante de Obama na Casa Branca, ela avançou no terreno movediço da história mal contada para comparar o digno, nobre e corajoso trabalho dos agentes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do juiz Sérgio Moro com “algo um tanto quanto Idade Média”. Anteontem ela citou Joaquim Silvério dos Reis, execrado dedo-duro da Inconfidência Mineira, como antes já havia negado ao próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levi, a condição de Judas Iscariotes, o delator bíblico do Cristo. Ontem ela se queixou de “vazamentos seletivos”. Promoveu uma “mistureba” absurda e abjeta, uma espécie de Xis tudo podre em que contou a história errada em vernáculo mambembe: a ignorância a serviço da impunidade e do pior tipo de marketing político. Rosângela Bittar bateu pesado, ao escrever: “Dilma jogou na fogueira de São Pedro, dia 29 de junho, sua biografia de presa política e torturada. Confundiu-se e confundiu. Misturou torturador com procurador, delação por tortura com delação como instrumento de justiça para chegar ao crime e aos criminosos”. Como diria Nélson Rodrigues, “batata”. E eu ainda diria mais: a candidata a madre superiora nos “ensinou” que Tiradentes equivalia aos petroleiros ladrões, políticos corruptos e empreiteiros corruptores, que se refestelam no chiqueiro do “petróleo” julgado na Lava jato. Ou que, ao contrário, esses réus, entre os quais ela e o padim Lula de Caetés podem vir a ser incluídos, é que são comparáveis ao protomártir da independência do Brasil.

Se essa senhora tivesse o mínimo respeito pelo público que a elegeu e paga seu sustento e pela história do país que governa e governará por mais três anos e meio, ela teria também mais sensibilidade para não misturar os alcaguetes das quadrilhas de traficantes com delatores que não tiveram a “bravura” dela por não terem resistido às humilhações e à dor física da tortura. Pessoalmente, peço-lhes licença para dizer que duvido dessa “bravura” toda, não por pensar que ela possa ter delatado. O que sinceramente acho é que ela tinha pouco a delatar, pois não foi uma combatente de mão armada, como alguns companheiros de guerrilha, mas uma simples “vivandeira”, que varria, lavava a roupa, fazia a comida e atendia a outras necessidades dos combatentes com os quais compartilhava os “aparelhos” em que todos se escondiam. Mas isso pouco importa diante do fato que somente uma pessoa desprovida de qualquer humanidade pode atribuir ao delator torturado o protagonismo da delação sob tortura. O que quero dizer eu já disse com todas as letras no comentário que fiz no Jornal da Gazeta de ontem: essa senhora preside esta República sem ter a noção mínima de que execrar incondicionalmente qualquer delator equivale a justificar a ação do torturador e, em última análise, a tortura. Misturar queima de bruxas na Idade Média com processo jurídico com direito de defesa só por temer as consequências do que for delatado é tão fora da lei que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-relator do mensalão Joaquim Barbosa considerou, como escreveu em seu Twitter, um “crime de responsabilidade”. Ele escreveu e aqui está dito.

Mas foge à alçada deste discurso. O que quero dizer nesta posse solene é que assumo o compromisso também solene de tentar manter a história nos trilhos lutando contra toda a máquina de propaganda que nosso Estado distorcido e assaltado tenta descarrilar sob o patrocínio de uma chefe de governo absolutamente destrambelhada. Gostaria de poder fazê-lo na cátedra. Mas não tenho vocação nem experiência para tanto. Sou filho de professora. Minha mãe, Mundica Ferreira Pinto, formou-se na Escola Normal de Cajazeiras, no sertão da Paraíba. Também o é minha mulher, Maria Isabel Pimentel de Castro Pinto, e ai de mim se não me lembrar de usar o Pimentel, de vez que é o sobrenome da sogra, a também mestre-escola Maria Betânia, que veio de Campina Grande para me ouvir. Isabel está fazendo doutorado em história econômica na USP sob orientação de José Jobson de Arruda, autor de compêndios de História que ela compulsou no ginásio. Isabel tem testemunhado momentos de encantamento assistindo às aulas de Jobson. Ela não é a única. Ele é famoso no Brasil inteiro por sua atuação em classe. Eu a invejo porque testemunha isso. E o invejo ainda mais por não saber ensinar. Então, está fora de questão e é fora de propósito que eu venha militar pelo resgate de nossa história numa sala de aula. Também não posso exercer o sacerdócio de minha amiga e agora confreira Alzira Lobo instruindo futuros doutores em História em cursos de pós-graduação. Falta-me o talento de argumentador de Gaudêncio Torquato, primo, amigo, colega e agora confrade. O que me resta, meu querido amigo Bertelli, meu caro Rui Altenfeder, prezado Sales Gaudêncio, é exercer a profissão de jornalista e comunicador, além de acadêmico, intelectual e poeta para carregar as metralhadoras verbais de Jobson, Isabel, Alzira, Sales e Gaudêncio, que me honrou ao discursar recebendo-me aqui, com a pólvora de meus tiros verbais disparados no jornal, no rádio e na televisão.

Aqui estou no lugar certo. E quando digo lugar certo me refiro à Academia e também a São Paulo. Não nasci aqui, mas aqui fui recebido como se filho fosse. Não foi a primeira vez que isso me ocorreu. Quando comecei em jornal na Rainha da Borborema, também fui adotado. Se vocês me permitem, posso apelar para outra digressão, contando-lhes que aportei neste Planalto de Piratininga no inverno de 1970. Então, morava no Rio de Janeiro e passava os fins de semana aqui. Num deles, conheci o poeta Eurícledes Formiga, por coincidência egresso do mesmo sertão do Rio do Peixe, um rio na verdade, mas sem peixe, pois nem água tem. Em memória dele beijo aqui as mãos da viúva, Anabel, xará de Anabel Lee, musa de Edgar Allen Poe, e de seus filhos Miguel e Quito, autor do projeto do título de Cidadão Paulistano, que a Câmara Municipal me concedeu em 2010. Formiga me levou a Cláudio Abramo na Folha de S.Paulo e fez de mim jornalista, que era o que eu queria ser. Mas não era tudo o que eu queria ser. Como Francesc Petit, brilhante publicitário, perseguiu a glória de ter a fama de seu patrício Joan Miró como pintor; como o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé, que queria ser mesmo era compositor e cantor, eu ainda quero ser reconhecido como escritor, poeta, intelectual. Meu livro O silêncio do delator, título que hoje realiza o sonho institucional de nossa “presidenta”, ganhou o prêmio Senador José Ermírio de Moraes da Academia Brasileira de Letras, como melhor livro de 2004. Mas ainda quero mais. E vou perseguir esse objetivo aqui com vocês, lutando pelo resgate da história das mãos desse bando de abutres que devoram a poupança escassa de um povo pobre em nome de suas ilusões.

Professor José Jobson Arruda, professor do Departamento de História da USP, Isabel do Castro Pinto, doutoranda na USP, e José Nêumanne Pinto

Professor José Jobson Arruda, professor do Departamento de História da USP, Isabel do Castro Pinto, doutoranda na USP, e José Nêumanne Pinto

Quando sobrevoo São Paulo, vejo a obra de milhões de nordestinos que, como eu, participam da fundação desta cidade que nunca fica pronta. Meu sonho de lutar pela liberdade, amando a verdade e sendo amante da história, se realiza plenamente nesta pátria de republicanos e dos meus amados filhos Vladimir, Clarice e Cecília. Pedro, meu neto mais velho também nasceu em São Paulo, capital. Meus netos Stella, Anna e Giulio, nascidos em Milão, Itália e Nolan, em Genebra, Suíça, têm também a ascendência paulistana de suas mães. Não me refiro especificamente aos militares positivistas que depuseram o imperador precocemente envelhecido para levar ao poder um militar monarquista e enfermo, depois substituído por outro soldado alagoano com delírios de grandeza. Refiro-me aos mártires republicanos de 1932 Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo que lutaram praticamente desarmados para impor uma ordem constitucional que até hoje os poderosos que assomam ao poder tentam submeter aos próprios caprichos. Refiro-me à Universidade de São Paulo, verdadeira ágora educadora de uma pátria sem a mínima educação. O convívio com Isabel, que é a melhor coisa que experimentei na vida, mas infelizmente, por motivos pessoais e egoístas, não recomendo a nenhum de vocês, tem sido um exercício permanente de amor e admiração sobre o que ainda se produz de bom naquelas paredes rabiscadas por grafites nem sempre publicáveis. A pró-reitora Maria Arminda Arruda saberá muito melhor do que eu transmitir essa sensação de orgulho que minha amada mulher sente ao pertencer a essa grei. Refiro-me ainda aos colegas que construíram em mais de um século uma tradição de luta pela liberdade no jornal O Estado de S. Paulo, em cujas páginas aprendi a encontrar a resistência dos maquis lendo até versos dos Lusíadas ou receitas de acepipes que ninguém conseguirá provar – o que levou muitos leitores a reclamar.

Ser acadêmico é um título de nobreza do qual me orgulho. Mas me orgulha mais ainda ser de uma Academia Paulista de História, que foi de José Sebastião Witter e agora também é minha. Desde que conheço Isabel que aprendi a venerar figuras uspianas como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Leôncio Martins Rodrigues, José Augusto Guilhon, Antônio Cândido, Celso Lafer e Fernando Henrique Cardoso. Conheci-os todos, com alguns deles convivi. Conheci também Witter, em quem Sérgio Buarque depositava justíssima confiança; Orgulha-me mais agora estar aqui sentado na cadeira dele, cumprindo meu plantão. Witter deixou sua marca na cultura paulista lutando pela preservação de sua memória no Arquivo do Estado. Ele não está mais entre nós, mas sua obra permanece, assim como seu exemplo.

Maria Betânia Pimentel de Castro, mãe de Isabel, José Nêumanne Pinto e Maria Isabel de Castro Pinto na posse na APH

Maria Betânia Pimentel de Castro, mãe de Isabel, José Nêumanne Pinto e Maria Isabel de Castro Pinto na posse na APH

Assim como o mestre de Moji das Cruzes dedicou a vida a evitar que documentos históricos fossem devorados pelas traças e, pior ainda, pela insensibilidade de nossos quase sempre vorazes homens e mulheres sapiens e públicos, espero dar minha contribuição à preservação dos fatos históricos verdadeiros. À sombra dele, ambos sentados na cadeira cujo patrono é Hermann Friedrich Julius Meili, travaremos aquilo que Saulo de Tarso, o homem que inventou o amor tal como o conhecemos hoje, chamava de “o bom combate” contra os insetos que fazem da mentira lucro podre. Não tenho os dons diplomáticos nem o amor pela moeda que nosso patrono tinha, mas espero dar uma contribuição, por mínima que seja, para que nossa História não seja distorcida e aparelhada para servir aos interesses de canalhas que usam o dom de iludir para se dar bem na vida e prejudicar a sobrevivência dos outros.

Como escreveu o citado professor Jobson no resumo de uma aula que deu e à qual Isabel compareceu, Clio “não registra apenas o tempo que passou na água que escorreu [passado], ou na água que escorre [presente], mas também  naquela que escorrerá [futuro], no fundo sua meta principal, ou seja, o julgamento da posteridade que garantirá a entronização dos fatos e feitos dignos de memória no panteão da História”. Portanto, estarei cumprindo uma missão dela se conseguir o que proponho.


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Posse na APH: Discurso da historiadora Isabel de Castro Pinto na posse de José Nêumanne

Discurso da historiadora Isabel de Castro Pinto na posse de José Nêumanne Pinto na cadeira 2 da Academia Paulista de História na quarta-feira

1º de julho de 2015

Isabel de Castro Pinto e José Nêumanne Pinto na posse na APH

Isabel de Castro Pinto e José Nêumanne Pinto na posse na APH

Uma historiadora e um poeta.  Aqueles que antes de se conhecerem suas vidas já se cruzavam em O Silêncio do delator.  Era tudo ficção, invencionices de infância, misturadas às lembranças de adolescente em Campina Grande e a cruzada rumo à Paulicéia. Até que a Musa da História tratou de marcar esse encontro, irremediável pelo mais solene dos motivos: Isabel de Castro e José Nêumanne, desde tempos que não se conhecem em linha imaginária de Cronos, já se reconheciam como servos da musa, responsável por nossos encontros e, por que não, desencontros

Nos encontros nos amamos e o poeta rimou para sua Isabelescência. Nos desencontros travamos embates com a memória, sobre o tempo perdido de Proust e a francesa de Nevers, aquela de Resnais, em Hiroshima, meu amor, que, apaixonada por um alemão em tempos de guerra, foi forçada a esquecê-lo em tempos de paz. Angustiada, nesse diálogo travado com a memória, disse que se lembraria do envolvimento com o soldado germânico como grande símbolo do horror do esquecimento de um amor.  Nossa história, mesmo que nos lembremos dela todos os dias, iremos esquecê-la. Eu irei esquecer, você irá esquecer todo santo dia como se o esquecimento fosse uma espécie de entorpecente sobre o qual não temos como ter controle. Compreendi que o fio de Ariadne desta história é o fato de que, um dia, amando ou não, sendo inteiramente correspondidos ou não, vamos esquecer.

Não! Não, historiador! Graças a Clio e sob as bênçãos de Tucídides, eu não tive que esquecer para sobreviver à dor da sua ausência. Estou aqui. O reencontro aconteceu e o nosso delicioso sacrifício é ter de lembrar todo dia que nos devaneios do tempo e da vida cotidiana o gosto pela notícia, pelos poemas que me presenteia de tempos em tempos e a devoção à Musa dos historiadores nos farão próximos antes que termine este dia, antes que o mundo se acabe e antes que lembremos a Paraíba, Campina Grande, e sintamos vontade de voltar pra São Paulo que acolheu o poeta e agora a historiadora.

A Baronesa da Borborema, agora em plagas uspianas, orgulhosa de ser uma das pupilas do ilustre Jobson Arruda, relembra em uma de suas aulas primorosas, de elevado requinte acadêmico, um resumo de tudo que Santo Agostinho podia ensinar aos historiadores. De próprio punho, divagou com maestria: “Se para o teólogo Santo Agostinho, o ser é o tempo e o tempo é o ser, resta para a história ser o coletivo dos seres no tempo e, ao historiador, o senhor do seu tempo”.  Sei que o bispo de Hipona o toca e prontamente lembrei-me do poeta, não com a máxima do Santo, que em agruras profundas teria dito: “Senhor, dai-me a castidade, mas não agora”; mas do quanto que suas condutas o fazem crer que é, sem qualquer ranço de dúvida, o senhor de seu tempo de poeta, de jornalista, de homem público, de historiador e senhor daquilo que a vida dá de presente a poucos iluminados: talento, inteligência, eloquência e uma intimidade indiscutível com a palavra.

Que soem as trombetas da Clio, mais um imortal para o seu panteão é agraciado neste 1º de julho de 2015, e sua historiadeusa que fazia pose de moça malcriada e ensaiou dar as costas pra Pauliceia, porque desejava esquecer o seu amor perdido, hoje, assim como todos aqui presentes, chega à conclusão, que, assim como a Hiroshima de Alain Resnais, São Paulo foi feita sob medida para o amor.  São Paulo foi feita também sob medida para celebrar historiadores ilustres. Por isso mesmo estamos aqui.

Muito obrigada!


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Posse na APH: Acadêmico Gaudêncio Torquato recebe Nêumanne em nome da APH

SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO JOSÉ NÊUMANNE PINTO PELO ACADÊMICO GAUDÊNCIO TORQUATO, POR OCASIÃO DE SUA POSSE NA ACADEMIA PAULISTA DE  HISTÓRIA.

São Paulo, 1 de julho de 2015

Acadêmico Gaudêncio Torquato recebe Nêumanne em nome da APH

Acadêmico Gaudêncio Torquato recebe Nêumanne em nome da APH

SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO JOSÉ NEUMANNE PINTO PELO ACADÊMICO GAUDÊNCIO TORQUATO, POR OCASIÃO DE SUA POSSE NA ACADEMIA PAULISTA DE HISTÓRIA.
São Paulo, 1 de julho de 2015

Senhor Presidente da Academia Paulista de História
Dr. Luiz Gonzaga Bertelli
Senhor Vice-Presidente
Dr. Ruy Altenfelder
Senhoras e Senhores

“Quando o marinheiro e seu navio são jogados de um lado para o outro por muitos dias, em meio à tempestade e em um mar desconhecido, ele naturalmente utiliza a primeira pausa da tormenta, o primeiro raio de sol, para descobrir qual é a sua latitude e o quanto as intempéries o afastaram de seu verdadeiro curso. Tentarei adotar a prudência do marinheiro antes de ser levado para ainda mais longe nas ondas desta apresentação”.
Essa pequena lição de Daniel Webster, reconhecido como o primeiro grande orador norte-americano por ter proferido magistral discurso, em 1820, por ocasião do bicentenário do desembarque dos peregrinos nos EUA, é a pista a seguir nesta peroração.
Na verdade, temo ser tragado pelas ondas revoltas desse oceano de expressão, que é José Neumanne Pinto, cujas águas inundam continentes, fazendo desaguar suas correntes nas praias do jornalismo e da literatura, nos lagos da poesia e da prosa, nas fontes da pesquisa, esta que é importante ferramenta da história, chegando até as ondas do rádio e da TV, onde se ouve um verbo incisivo, e culminando com a verve hilária do contador de casos.
As águas nêumannianas se espraiam por entrâncias e reentrâncias da palavra, onde ela habite, seja na casa das letras impressas, no abrigo das vias eletrônicas, seja nas novas tecnologias e até nos versos musicais. A par de sua presença nos registros da História. Por que não? Explico: ao usar a lupa jornalística para descrever e interpretar a vida institucional do país ao longo das últimas décadas, a obra de José Neumanne insere-se na vasta coleção de documentos que contam e interpretam fatos sobre nossa moldura histórica.
Daí o lead que resume esta locução: estamos diante do jornalista – que passou pelos corredores da reportagem, da edição e hoje se senta na bancada mais alta dos comentários e editoriais; do escritor – que abriu trilhas no universo da ficção e no mundo real; do poeta de mil facetas; do agudo analista da mídia eletrônica, do historiador de nossa trajetória contemporânea, enfim, do homem cheio de ardor e paixão, prolífero na arte de produzir hinos ao amor. São facetas que se amalgamam em um perfil de talento, que deixa transparecer um espírito irrequieto, ou, como ele mesmo confessa, um “temperamento avoado, difícil, irreverente”.
Tal dualidade, marca permanente do seu caráter, produz dois tipos de linguagem: uma, a de Zaratustra, o profeta de Nietsche, que a designa como a linguagem do povo, dosada de contundência: “de modo por demais grosseiro e sincero falo eu, para o gosto dos casquilhos (Nota: Casquilho significa janota, indivíduo que se veste com o rigor da moda). E mais estranha ainda soa minha palavra aos ouvidos de todos os plumitivos e escrevinhadores”. (Nota: Plumitivo significa escritor ou jornalista sem mérito).
A segunda é a linguagem da paixão, da beleza e da leveza, do canto terno e doce, a linguagem da simulação e da sedução, que junta, nos contextos, conceitos, histórias, mulheres, sonhos e viagens, entes que habitam seu coração; como lembra Jean Baudrillard, esta linguagem é a verdadeira alegria da escrita por expressar “a possibilidade de sacrificar um capítulo inteiro por uma única frase, uma frase inteira por uma única palavra; a possibilidade de tudo sacrificar por um efeito artificial ou uma aceleração no vazio”.
Senhoras e Senhores
Amigas e amigos
Aceitando a sugestão de René Descartes para que uma pessoa perdida na floresta evite andar de um lado para outro e caminhe sempre no mesmo sentido, não retrocedendo, sigo em frente pela linha que começa na região de nossas origens, pelo vínculo que nos une ao centro do polígono da seca, a extremidade do alto sertão paraibano, no oeste, e o extremo oeste potiguar, que se tocam nos confins dos dois Estados, Paraíba e Rio Grande do Norte. (Eis as coordenadas geográficas – latitude -06º 31’03” Sul, longitude 38º 24’28’’ Oeste- onde antigamente era Belém, depois Canaã e, hoje, Uiraúna, terra onde Neumanne apareceu neste mundo, aos 18 de maio de 1951.
Reminiscências povoam minha memória. No topo da Serra, Luís Gomes, onde nasci; embaixo, Uiraúna, a 10 quilômetros, o sonho dos jovens das décadas de 50/60, que desciam a serra para as noitadas na boêmia localidade, que se orgulhava de abrigar a melhor banda de música da região, cujo conceito de qualidade chegava a todo o Nordeste. Que terrinha animada e com gosto de pecado. Quem viveu aqueles tempos há de recordar a estridência do piston de Anchieta Pinto, progenitor do nosso laureado, figura que aparece com destaque no meu painel mental com as bochechas formando duas bolas, soprando com força o instrumento, à moda Dizzy Gillespie, o virtuoso trompetista da corrente bebop no jazz moderno.
Por anos e anos a fio, a banda de música Uiraúna dava o tom maior da Festa da nossa Padroeira, Senhora Santana, culminando com o Baile na noite de 26 de julho. Que figura inesquecível a do cônego Anacleto, cujas histórias, narradas por Nêumanne, fazem gargalhar ouvintes. O pároco foi o primeiro preceptor do nosso escritor e poeta, ao indicar a ele o rumo dos livros nas estantes da Casa Paroquial de Jesus, Maria, José.
Que boa praça o médico e político, ex-prefeito de Uiraúna, Oswaldo Cascudo, obstetra que acompanhou os 11 partos de minha mãe, Chiquita, em Luís Gomes, de quem fui o primeiro, e puxou Neumanne a fórceps do ventre de sua mãe, Mundica. Sei que dei trabalho para nascer, mas não a ponto de ser puxado a fórceps, fato que credito ao formato mais acentuado da cabeça deste meu primo. Basta comparar nossas cabeças. Nossas mães aparentadas nasceram em sítios da região. Muito chegada à leitura, e de quem ouviu, pela primeira vez, a magistral poesia o “Navio Negreiro”, de Castro Alves, dona Mundica escolheu para o filho o nome Newman, em homenagem ao cardeal inglês, grande orador e santo católico, mas a tabeliã acabou cometendo o nome Nêumanne. Coisas da época e da região. Eu mesmo nasci no mês 4, abril, mas o tabelião me registrou no mês 5, maio, pelo que acabei ganhando um mês de lambuja no calendário da vida.
Quanto ao sobrenome Pinto, ele herdou dos seus descendentes da região do Rio do Peixe. Consta que, no século XVIII, a região foi doada em forma de sesmaria ao alferes Alexandre Moreira Pinto e a João Nunes Leitão. Esse Alexandre foi o tronco da grande árvore dos Pintos.
Chego ao final da primeira reta lembrando que, desde sua infância e adolescência, o estudante José Nêumanne Pinto foi um voraz consumidor de livros, o que lhe conferiu sólida bagagem nas ciências humanas e nas artes. Aliás, os livros, para nós, da geração de 50/60, são ainda apreciados do jeito que Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, descrevia a maneira como o imperador Pedro II também os apreciava, ou seja, com a satisfação dos cinco sentidos:
“visual, pela impressão exterior ou o aspecto; tátil, ao manusear a maciez ou a aspereza das páginas; auditivo, pelo brando crepitar ao folheá-lo; olfativo, pelo cheiro pronunciado de seu papel impresso ou fino couro da encadernação e gustativo, seja pelo sabor intelectual do livro, seja pelo meio físico, ao umedecermos ligeiramente as pontas das folhas para virá-las”.
Tais sensações o nosso novo acadêmico passou a desenvolver desde Uiraúna, quando estudou no Grupo Escolar Jovelina Gomes, no Ginásio Professor Afonso Ferreira, da Fundação Padre Ibiapina; e em Campina Grande, onde começou a ascender na escada das letras, estudando no Seminário dos redentoristas em Bodocongó, no Colégio Estadual da Prata, no Centro Estadual Campinense, e dirigindo o Cineclube Glauber Rocha. E mais adiante, por ocasião do deslanche profissional, já no Sudeste, quando a literatura passou a ser o centro de sua atenção, com a ajuda de pessoas que o aproximaram do universo da expressão: nas fontes literárias e poéticas, Ronaldo Cunha Lima, Mario Chamie e Nélida Pinõn; João Batista Lemos, Jaime Negreiros e Mauro Guimarães, na seara jornalística.
Ao longo de mais de quatro décadas, trabalhando nos mais diferentes nichos da palavra, tornou-se José Nêumanne figura exponencial na análise e crítica dos costumes políticos; polemista de primeira grandeza; escritor com a pena focada no inventário de seu tempo; poeta de alma sensível; repórter de faro investigativo.
Amigas e amigos
Passo, agora, a uma segunda abordagem, escolhendo, como mote para o desdobramento desta sequencia, pequena lição de Schopenhauer em seu escrito sobre A Arte de Escrever. Nele, pontua sobre a arte de pensar, a escrita, a leitura, a avaliação de obras, o mundo da erudição.
Diz: “há três tipos de autores- em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. É a classe mais numerosa. Em segundo, há os que pensam enquanto escrevem. Pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. Escrevem apenas porque pensaram. São raros”. Completa a lição com o argumento de que aqueles que escrevem tirando a matéria diretamente de suas cabeças são os verdadeiramente dignos de serem lidos.
Classifico o escritor José Nêumanne Pinto nesta terceira categoria. A matéria-prima de sua escrita provém do intelecto privilegiado, que sabe engrenar de maneira ímpar consoantes e vogais, as primeiras, como lembra Schopenhauer, constituindo o esqueleto das palavras e estas, sua carne. O esqueleto é (no individuo) inalterável, e a carne, muito mutável em termos de cor, qualidade e quantidade. Justapostas, expressam pensamentos significativos de modo que todos compreendam, livrando-os da quantidade dos textos ruins, “essa abundante erva daninha da literatura que tira a nutrição do trigo e a sufoca”, nos termos provocadores do filósofo alemão.
Não por acaso, em seu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, Nêumanne caminha na mesma vereda, ao expressar indignação: “uma literatura vulgar e uma arte mal educada substituem em nossos dias os velhos conceitos de beleza e delicadeza”, seguramente na onda de uma “cafajestice que assola o mundo como as velhas pragas medievais, invadindo a vida familiar, o aprendizado na escola e o primado do demérito”. Sob essa mesma teia crítica, indignou-se Ortega Y Gasset, quando, nos anos 20, gritou do alto de um penhasco em Engadine, nos Alpes suíços: – “Vejo subir a preamar do niilismo”.
José, o paraibano de Uiraúna, construiu sua obra, lapidando cada frase, cada texto, esculpindo cada contexto, procurando seguir o curso das construções nos terrenos da obra investigativa, do romance, do poema e da análise jornalística. Sempre longe dos baixios da vulgaridade. E sempre buscando a qualidade.
Sob essa textura, pinço enxertos do ciclo de conferências que Ítalo Calvino realizou na Universidade de Harvard, em 1985/1986, quando definiu com brilho valores literários que mereciam ser cultivados e preservados neste milênio. Surgiu daí o Livro Seis Propostas para o Próximo Milênio. Receoso de subir o sagrado altar dos hermeneutas literários, porém, usando a bengala da ousadia, atrevo-me ao exercício de identificar no conjunto da obra de José Nêumanne traços das propostas descritas pelo grande autor nascido em Cuba e que viveu na Itália.
Valho-me, antes, para fugir de qualquer excesso, da locução do poeta, escritor, político, o saudoso Ronaldo Cunha Lima, que assim o recepcionou na Academia Paraibana de Letras:
– José Neumanne Pinto é um escritor do cotidiano comunitário, deste gerando poesia à guisa de comunhão social. Tal perspectiva, orientada para a presença humana contingente, porque ligada à consciência de tempo e espaço, permite o livre transitar do poeta pelos domínios da prosa, às vezes temperada com primorosos relatos jornalísticos.
– Os poemas de Nêumanne enunciam os fluxos de relembrança, as paisagens soterradas no espírito do autor.
– Os versos de Nêumanne transmitem motivos neles estampados, como se advindos da geometria de molduras que encerrassem pinturas eloqüentes.
Vejamos o que o nosso novo acadêmico pensa sobre poesia:
– A poesia é algo como um solo de saxofone durante uma noitada de jazz. Nela, o artista se sente desobrigado das imposições da prosa e se ergue diante da platéia, contando apenas consigo mesmo, e começa a produzir uma cascata de efeitos cujas sutilezas e cujos labirintos saltam direto da sua alma para a alma justaposta do espectador, sem intermediários.
Rumemos direto ao assunto (na esteira de um bordão que usa), abrindo o painel de valores desenhado por Calvino. O primeiro é a Leveza, valor que enxergava na poesia de Giacomo Leopardi, o poeta do lirismo, da suavidade, das imagens de extrema leveza, como o vôo e o canto dos pássaros; a voz de uma mulher que canta na janela; a transparência do ar e, sobretudo, a lua. Sim, a lua, a bola iluminada nos céus, que ganhou numerosas aparições em sua obra. Como esta:
– É doce e clara a noite e não há vento
e calma sobre os tetos e entre os hortos
repousa a lua, ao longe revelando
serenas as montanhas
Agora, a Lua de Nêumanne, em Solos do Silêncio:
A lua se estilhaça na água
Como uma granada
Caindo no jardim
Mergulho no lago
Bebo o leite do luar
Me farto todo

A noite tem perfume
De gardênia
E a cidade geme,
Qual fera ferida
Solos do silêncio,
Líquidos
No ar sem brisa,
Embalam mistérios
Neste cais cúmplice!
Um pouco mais da alma nêumaniana.
Em Barcelona, Borborema, que traduz uma viagem física desde o Nordeste até o leste espanhol, deparamo-nos com um jogo surpreendente e emocionante, nas palavras do poeta e crítico Álvaro de Sá.

Barcelona

As abóbadas da Sagrada Família,
Como o templo,
Nunca têm fim.
Alongam-se como as lanças do Cid
E conduzem as cores de seus estandartes,
Na guerra contra os invasores,
Que arrombaram a porta do mar.
O capitão enfrentou os mouros,
O catalão se armou contra o céu.
Pois estas abóbodas ferem
A ordem normal das coisas, anômalas
Superfícies
De formas ondulantes,
Imitando o mar de Cartago.

Borborema

No topo da Borborema,
A cidade se compõe
De cabeça, tronco e membros.
O cérebro engarrafado
Dos poemas tribunos
(Ronaldo, Raimundo),
Profetas e loucos soltos
(Carboreto, Biu do violão).
O peito de aço
Dos robôs da Politécnica
E o ventre maciço
De alguns mascates.
Mãos habilidosas
De mecânicos e artesãos,
Da cartomante Natinha,
Do pistoleiro da Carminha
E dos catadores de algodão.
Milhares de pés
Da centopéia do forró,
Músculos de bailarino
E asas no mocotó.

Sua poesia é recheada de musicalidade, a sonoridade que aprendi a ouvir, no Seminário Santa Terezinha, em Mossoró, quando o padre Frederico nos obrigava a decorar versos de grandes poetas, como aquele de Virgílio, no 8º livro da Eneida. Vejam esta obra prima de composição, que junta o choque sonoro de consoantes fortes e a repetição de sons para imprimir força à descrição:
– Quadrupedante putrem sonitu quatit úngula campum
– Das patas com o bater em pó desfeito
– Soa o chão com o tropel de quadrúpedes

Descrevendo o Encontro de Cristino com Virgolino na Viola de seu Raimundo, Nêumanne nos brinda com a sonoridade do verso:
– Onde o pé e onde o passo,
Onde a espada e o rosário
Bruto e móvel, duro e mira.
Pó, madeira do Calvário,
Pedra imóvel, couro em tira,
Dor sem cura, céu no laço.

Prossigamos na trilha do magistral escritor de O Visconde Partido ao Meio, Os Amores Difíceis e O Cavaleiro Inexistente.
Rapidez, eis o segundo valor.
Calvino explica a rapidez de estilo e de pensamento como desenvoltura, mobilidade, a capacidade de juntar as partes no todo. Também distingo essas qualidades na expressão do nosso poeta, escritor e jornalista. Transparece todo tempo em sua expressão o vulcão expressivo a expelir larvas de criatividade, embaladas na fumaça dos sentimentos mais arrebatados, seja de indignação, repulsa, solidariedade, amor e paixão.
Exemplo é o denso relato no livro “O que sei de Lula”, uma obra que, no dizer do jornalista Flávio Tavares, reúne a “agilidade do repórter com a sensibilidade do poeta”. Ou, como escreveu seu predileto amigo Mario Chamie: “Guardadas as distâncias, as proporções e as diferenças de assunto e época, José Nêumanne realiza neste O que sei de Lula a proeza de uma prosa que ecoa esta advertência de Carlyle – “Centenas de homens são capazes de suportar as suas próprias adversidades, mas não muitos saberão dignificar os seus próprios triunfos”.
Sobre esta obra, o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues também relata:“Os fatos narrados são fatos que viveu. Em alguns casos, esteve presente, Nêumanne conhece os personagens…Poucas pessoas armazenaram tanta informação sobre a política brasileira…..mais do que um simples repórter, descobridor e narrador de fatos, Nêumanne é um analista capaz de aprofundar e conectar os eventos particulares a situações mais gerais, às teorias e interpretações sobre o Brasil. ….um intelectual interessado (e angustiado) pelo que acontece em nossa pátria e na política brasileira.” Capacidade de reunir o maior número de informações gerais e específicas. Com rapidez. E lucidez.
Exatidão é a terceira vertente literária de Ítalo Calvino, o cinzel que o escultor usa para lapidar sua obra, inserir a visão particular, apor um diferencial, narrar o detalhe, ser preciso na narrativa, evitando fórmulas abstratas, anônimas, as dobraduras da linguagem – esses efeitos retóricos que diluem significados, ocupando muito espaço para dizer pouco. Para ele, o gênio de Borges é o exemplo de exatidão: “cada texto seu contém um modelo de universo ou de um atributo do universo – o infinito, o tempo, o inumerável”.
Percebam esse matiz, por exemplo, nesse curto e belo conto que pinço do livro de apontamentos, aforismos e pequenos ensaios, de Elias Canetti, chamado El Suplicio de Las Moscas:
– Misia Sert dominava a arte de caçar moscas. Estudava pacientemente os modos destes animais até descobrir o ponto exato em que havia de introduzir a agulha para pregá-las uma ao lado da outra sem que morressem. Exímia na arte de fazer colares de moscas vivas, entrava em frenesi com a celestial sensação do roçar das patinhas desesperadas em seu colo”.
Em Mengele, a Natureza do Mal, Nêumanne produz um relato da vida, das aventuras e peripécias de um dos mais caçados nazistas de Auschwitz, Joseph Mengele, que vivia num bucólico sítio nas proximidades de São Paulo, e morreu acidentalmente numa praia de Bertioga. A letra precisa pode ser conferida em passagens como esta:
“Em Günzburg, os Mengele são uma família importante. A economia da pequena cidade perdida no meio das colinas depende, basicamente, da boa saúde financeira da fábrica de máquinas agrícolas fundada por Karl Mengele, um filho de fazendeiros nascido em 1885. O comissário sabe que hoje Karl-Heinz, neto do patriarca, é mais importante na região que seus parentes do lado dos Hupfauer, família com cujo capital Karl Mengele abrira a fundidora, depois de casar-se com Walburga, quatro anos mais velha e, então, muitas vezes mais rica”.
Já em Atrás do Palanque, uma aula de jornalismo investigativo, segundo o jornalista Augusto Nunes, Neumanne descreve os bastidores da campanha presidencial de 1989, usando sua condição de observador privilegiado da cena político-institucional para esboçar um dos mais detalhados relatos do pleito que deu a vitória a Fernando Collor de Melo. Urge lembrar que o jornalista acompanhara, anteriormente, toda a trajetória de Luiz Inácio.
Mas é em O Silêncio do Delator, Prêmio Senador José Ermírio de Moraes, da Academia Brasileira de Letras, de melhor livro de 2004, que José Nêumanne chega ao cume da montanha. Trata-se de uma obra que exibe, com força, a capacidade do artista em compor um gigantesco painel de uma época ou, ainda, de uma geração. Usa, com mestria, a imbricação de técnicas do jornalismo e da literatura, nos moldes que Truman Capote o fez no clássico A Sangue Frio, onde narra o brutal assassinato da família Clutter, no Kansas (EUA), em 1959. Como se sabe, o livro de Capote foi um marco na criação do chamado New Journalism, caracterizada pela hibridez da narrativa jornalística com a narrativa ficcional.

Em O Silêncio do Delator, transparece a multiplicidade, que Calvino enxergava como valor insubstituível para a literatura enfrentar o desafio de descrever a complexidade inextricável do mundo, ou, em outras palavras, a visão múltipla de sujeitos, vozes, olhares, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos, frustrações.

A apresentação do livro resume esse painel: “romance e inventário de amor e desamor, aventura e desventura, ilusões e desilusões, encantos e desencantos sobre sexo, política, drogas, moda, art pop e rock and roll, em sete vozes que ressoam canções dos Beatles, Bob Dylan, Caetano Veloso, Belchior…”
Imagine-se, agora, esse “romance e inventário de amor e desamor, aventura e desventura, ilusões e desilusões, encantos e desencantos sobre sexo, política e drogas, art pop e rock and roll” – como se apresenta o livro -– sob a teia dos múltiplos eventos que agitaram a década de 60. Lembro alguns:
– a renúncia de Jânio Quadros; a guerra nuclear por um fio, após mísseis russos retirados de Cuba; a posse de Jango; Martin Luther King e o famoso discurso Eu Tenho Um Sonho; o assassinato de Kennedy; a marcha da Família com Deus pela Liberdade; o golpe militar; os atos institucionais; o show Opinião, com Nara Leão, Zé Keti e João do Vale; os mortos e torturados pela ditadura; os generais e os anos de chumbo; a VPR e a luta armada; a ALN de Marighella; a contracultura; o assassinato de Luther King; a ocupação da Sorbonne; o movimento estudantil e a passeata dos 100 mil no Rio; Bob Dylan, Caetano, Gil, Belchior, os Beatles; a chegada do homem à Lua; e o festival de Woodstock que reuniu 400 mil pessoas, em 1969, na cidade de Bethel, Estado de Nova Iorque.
Quão ricos eram aqueles tempos! Quanta beleza no movimento musical dos mineiros, que culminou, em 72, na criação do Clube da Esquina, onde pontificavam Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, Wagner Tirso e ele, Fernando Brant, que acaba de fazer sua travessia:
– “Quando você foi embora fez-se
Noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é
Meu este lugar
Estou só e não resisto, muito
Tenho pra falar”.

Oh, tempora, oh, mores, caro José!
A amizade era a cola de nossas vidas. Como descrevia Fernando Brant no canto de Milton:
– Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a
Distância digam “não!”

Obrigado, poeta das Minas Gerais!

Quanta beleza a nos cercar naqueles poéticos tempos. Não é mesmo, Neumanne? E aquele seu grande amigo, de cuja amizade também partilhei, Zé Rodrix, que fez sua viagem há 6 anos, deixando-os um toque de saudades e o bucolismo de seu canto:
“Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
……
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais”.

Pois bem, essa majestosa composição ganha traços inesquecíveis em O Silêncio do Delator.

Nêumanne, com seu morto usando a voz para penetrar na consciência e na memória de amigos, sob o arco-íris em um brilhante céu que cobre a passagem entre dois milênios, enche a caneta para fazer a cobertura de uma época, de uma cultura, dos modos de viver de toda uma geração.

O tempo aperta. Que mais posso dizer?
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Que, além dos livros aqui citados, há outros:
• Reféns do Passado – coletânea de artigos e ensaios políticos; A República na Lama – Uma Tragédia Brasileira – reportagem;
• Erundina: A mulher que veio com a chuva. Perfil Perfil jornalístico e biográfico da ex-prefeita;
• As Tábuas do Sol – poemas;
• Veneno na Veia – romance policial;
• As fugas do Sol – CD do CPC-Umes, São Paulo (1999) – com música original do maestro Marcus Vinícius de Andrade;
• Há uma Antologia, onde Neumanne selecionou e apresentou a antologia Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século para a Geração Editorial.
Também é co-autor de diversos livros:
• Partidos e Políticos;
• A Constituição que Nós Queremos ;
• Jornalismo é… –
• Com a palavra –
• Dicionário temático da Lusofonia – foi um dos 358 especialistas lusófonos escolhidos para redigir verbete sobre a história política brasileira no projeto dirigido e coordenado por Fernando Cristóvão, auxiliado por Maria Adelina Amorim, Maria Lúcia Garcia Marques e Suzana Brites Moita);
• Histórias inesquecíveis.
Letrista de canções em parcerias – canções gravadas por Zé Ramalho, Walter Santos, Gereba e Mirabô Dantas.
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Jornalista dos mais cáusticos, de verbo incisivo, Neumanne exibe brilhante travessia nos principais jornais do país, como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde e O Estado de S.Paulo, onde foi editor de política e é articulista, ganhando fama por seus artigos contundentes e por sua expressão como editorialista. Nos últimos tempos, a mídia eletrônica também passou a conhecer sua linguagem cortante e precisa, a partir de um programa no SBT, Direto ao Assunto, e hoje na rádio Jovem Pan e TV Gazeta.
• Entre os Prêmios, títulos, troféus e honrarias, destaco:
• Prêmio Esso de Informação Econômica (com Maria Inês Caravaggi) em 1975, pela série “Perfil do Operário Brasileiro Hoje” (“Jornal do Brasil”);
• Prêmio Senador José Ermírio de Moraes, da Academia Brasileira de Letras, de melhor livro de 2004, com o romance O silêncio do delator;
• Troféu Dom Pedro I, como jornalista que mais prestou serviços à comunidade paulistana em 2006, concedido pela Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo, “Sereníssima”, em 19 de março em 2007;
• Primeiro escritor paraibano a receber a Medalha do Mérito Literário José Lins do Rego, em 28 de outubro de 2007, por projeto do criador da condecoração, deputado estadual Fabiano Lucena;
• Membro da Academia Paraibana de Letras, empossado na cadeira nº 01 (Augusto dos Anjos) em 8 de setembro de 2008;
• Cidadão Paulistano por iniciativa do vereador Quito Formiga;
• Troféu Gonzagão, Campina Grande, PB, 21 de maio de 2013, ao lado de Sivuca, in memoriam, Antônio Barros e Genival Lacerda.

Chego ao final!

Não posso, porém, deixar de dizer duas palavrinhas sobre a pessoa, o homem, o jeito de ser de José Neumanne Pinto.
Vejo um pai cuidadoso e atento. Orgulhoso dos três filhos – Vladimir, Clarice e Cecília; um avô extremado de 5 netos; um perfil regado pelas águas da sedução e do amor. Aliás, tenho de algo a dizer sobre isso.

Essa figura faz do coração a ponte que o liga ao mundo. Não consigo ver Nêumanne afastado das emoções. Sem elas, seria um ente atrofiado. Os muitos amigos que o cercam estão sempre de ouvidos abertos para fruir cantos de paixão e amor. Para você saber, José: os gregos não escreviam obituários. Quando uma pessoa morria, contentavam-se em indagar: “ela viveu com paixão?” Grego, não tenho dúvidas, você seria um desses apaixonados.
Sua visão está sempre focada nos olhos de uma bela mulher. Tem sempre um adjetivo, um substantivo, um advérbio, um mimo expressivo para agradá-la, o que resulta invariavelmente em caudalosa torrente de versos. Vejo a dama Isabel de Castro Pinto, sua magnífica, que o acompanha para todos os lados. Mais um encanto em sua vida. A propósito, vocês sabem por que mulheres mais novas gostam de homens mais velhos? Achei interessante argumento em Baudrillard: “é que elas podem encontrar no olhar deles o reflexo de sua juventude, de sua graça atual e sensibilidade. Não poderiam encontrá-lo igualmente nos olhos de um homem jovem, porque aí o reflexo estaria dividido. Já para os homens, a mulher mais nova é a nostalgia de uma vida anterior, o sonho de um objeto puro com múltiplas diferenças e com um encanto amoroso multiplicado pela idade”.

Viu, garotão, está explicado!

E assim, com essas extensas palavras, concluo minha saudação. Sintetizando: José Neumanne Pinto é um ente plural, um ser polivalente, um amigo doce que, de repente, pode virar uma estátua de sal. Tese e antítese.

Este José não mede o peso ou impacto de suas observações – curta ou longa, doce ou grave, suave ou cáustica -, seja o interlocutor a mulher querida, o homem da rua, o ministro, o rico ou o pobre, o político ou o amigo mais próximo.

Mas esse tipo de índole ganha a explicação dos antigos!
Horácio, em Ars Poetica, proclamava:

“Pictoribus atque poetis quidlibet audendi semper fuit aequa potestas”. Quer dizer: “aos pintores e poetas sempre se concedeu igualmente o poder de ousar o que lhes aprouvesse”.

Outra forma de dizer a mesma coisa é: “poetis et pictoribus omnia licet”. Aos poetas e pintores, tudo é permitido!
Fecho a palavra com Epílogo, pequeno conto de Jorge Luís Borges:
– Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de província, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto”.

O labirinto de linhas e curvas que tentei esboçar é a imagem que minha memória guarda de José Nêumanne Pinto, filho de Mundica e Anchieta.

Parabéns, José, seja Bem-Vindo!

Muito Obrigado!


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Posse na APH: Presidente da APH, Luiz Gonzaga Bertelli, saúda Nêumanne

Pronunciamento do presidente da Academia Paulista de História (APH), acadêmico       Luiz Gonzaga Bertelli, por ocasião da solenidade de posse do jornalista e escritor JOSÉ NÊUMANNE PINTO, no Teatro CIEE,

em 01/07/2015.

Presidente da APH, Luiz Gonzaga Bertelli, saúda Nêumanne

Presidente da APH, Luiz Gonzaga Bertelli, saúda Nêumanne

Platão, figura que desafia a lenda, autor de vasta obra filosófica, preocupou-se com o conhecimento das verdades essenciais, que determinam a realidade e, a partir disso, estabeleceu os princípios éticos, que devem nortear o mundo social.

O seu pensamento foi absorvido pelo cristianismo primitivo e, junto com o seu mestre Sócrates e o discípulo Aristóteles, lançou os alicerces sobre os quais se assentou as bases de toda a filosofia ocidental.

Platão, descendente da melhor nobreza, nasceu em Atenas, por volta do ano de 428 a.C. O seu nome próprio era Aristolles.

À sombra da Aldeia de Platão, criada em 387 a.C., em Antenas, onde o filósofo grego reunia-se com os seus discípulos, no renascimento italiano, vieram a florescer as numerosas instituições na Europa, intituladas Academias. Após a sua morte, alguns dos discípulos deslocaram-se para Assos, onde vieram a fundar uma espécie de filial da Academia.

Nos dias atuais, as academias são organizações estruturadas, voltadas ao cultivo das disciplinas literárias, científicas e às tradições históricas.

As academias, como é o caso da nossa de História, têm o grande mérito de promover a investigação dos fatos notáveis, propiciando a colheita documental, até então desconhecida.

Os franceses utilizavam a palavra Academia para nomear as unidades administrativas mais abrangentes do ensino superior, que correspondem ao que, hoje, na maior parte dos países, se chama Universidade.

Numa tarde de dezembro de 1972, foi lançada a iniciativa de criar-se uma Academia de História no nosso Estado, tomando como modelo o estatuto da Academia Paulista de Letras, por iniciativa do historiador, Tito Lívio Ferreira, que propôs a elaboração da lista dos 40 primeiros integrantes.

O medalhista Álvaro da Veiga Coimbra idealizaria o desenho da insígnia, tendo como lema de Cícero (o maior orador latino, nascido no ano 106 a.C.): “A História é a testemunha do tempo, a luz da verdade e mestra da vida”.

O início do funcionamento da Academia Paulista de História         far-se-ia, contudo, em 2 de fevereiro de 1973, na efeméride comemorativa da instalação da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo.

Em 1989, na presidência do acadêmico Duílio Crispim Farina, seria editado o primeiro número do “Boletim da Academia”, o qual viria a transformar-se no veículo oficial de comunicação dos historiadores paulistas.

A publicação transformou-se na “Revista da Academia (Revista do Historiador)”, publicada, hoje, bimestralmente.

Queremos nas nossas Academias conservar a nossa História, a nossa civilização e a nossa língua, herdada dos colonizadores portugueses.  “Última flor do lácio, inculta e bela.   És, a um tempo, esplendor e sepultura… E em que Camões chorou, no exílio amargo”, como dissera Bilac.

“Bela” sim; inculta, não. Talvez bravia e singela como o povo brasileiro que a adotou. Desconhecida e obscura se não a cultivarmos com afinco. “Nem rude nem doloroso idioma”, pois é sabida a suavidade dos encadeamentos vocálicos da língua portuguesa.

Não diremos como Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa”, pois a nossa identidade é lusófona. Pois, é nessa língua que pensamos, sonhamos e escrevemos.

Parabéns, portanto, à língua portuguesa. Parabéns, sobretudo, a todos nós seus filhos muito amados.

Somos habitantes de um País continental, com temperaturas e ecossistemas dispares, raças, caras e cores distintas, origens, costumes e sotaques os mais diversos.

Contudo, estamos irmanados nos mais de 400 mil vocábulos e na rica sintaxe desse idioma único falado no Brasil, o que se constituiu no mais autentico “milagre brasileiro”.

Logo mais, o notável jornalista, poeta e escritor, José Nêumanne Pinto será saudado pelo também insigne jornalista, professor e escritor, Gaudêncio Torquato.

O novo acadêmico, José Nêumanne Pinto irá ocupar a cadeira nº 02 deste sodalício, cujo patrono é o historiador Júlio Meilli e o antecessor o historiador José Sebastião Witter.

José Nêumanne Pinto nasceu em Uiraúna na Paraíba e escreve poemas desde os 14 anos.

Caríssimo José Nêumanne Pinto, nas academias, nós vivemos da perenidade e renovação dos quadros dos acadêmicos, após as suas mortes.

Para que as academias não pereçam, à cada vaga, temos que pesquisar aquele que a preencha e dignifique.

A parca indomável em sua ceifa, levou-nos a figura do seu antecessor José Sebastião Witter. Quando Witter ingressou nesta academia foi recebido pelo acadêmico e insigne professor emérito da Universidade de São Paulo e da Academia Campinense de Letras.

Legou-nos uma obra valiosa, que o professor Gaudêncio Torquato irá revelar-nos.

José Nêumanne Pinto: Permita-nos manifestar-lhe, mais uma vez, a nossa gratidão pela oportunidade de receber-lhe na cadeira que, a partir de hoje, será sua, em caráter vitalício e que certamente irá ilustrá-la, com o mesmo sentido de dignidade, que sempre soubeste imprimir a todas as suas ações e procedimentos.

Seja bem vindo, nobre amigo e confrade.

Presidente da APH, Luiz Gonzaga Bertelli, saúda Nêumanne

Presidente da APH, Luiz Gonzaga Bertelli, saúda Nêumanne

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