Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

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No Blog do Nêumanne: Brasil e Amapá ao deus-dará

José Nêumanne

Bolsonaro e Alcolumbre foram a Macapá em missão oficial inaugurar um gerador a Diesel e pedir votos para o irmão do beneficiário da fraude da eleição da Mesa do Senado, e o apagão continua

Em 3 de novembro, choveu forte no Amapá, e um incêndio na transmissora privada de eletricidade para a rede paralisou o fornecimento do Estado em cujo território corre o rio Oiapoque, no extremo norte do mapa do Brasil. No sábado 21, 17 dias depois, o presidente Jair Bolsonaro deu o ar de sua desgraça, inaugurou um gerador a Diesel, prometeu não cobrar a conta da luz que não foi entregue e pediu votos para José Samuel, irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, escolhido para o posto na Mesa em eleição fraudulenta com 81 eleitores e 82 votos. Pobre Amapá nas trevas, miniatura do Brasil, em cujo mapa no  extremo oposto fica o rio Chuí, durante o maior apagão de gestão da História.

Enquanto no Estado sem força, o povo sofre sem água nem urna e não se decidiu quem é o responsável pelo inferno de calor, treva e seca. E não faltam suspeitos. O primeiro deles é a privatização. A responsável pela transmissão de energia no estado do Amapá, desde 2008, é a Linhas de Macapá Transmissora de Energia, que até o ano passado pertencia à empresa espanhola Isolux, que venceu o leilão de privatização da Linhas de Macapá Transmissão de Energia em 2008, mas a transferiu no ano passado à Gemini Energia. A transmissão passou a depender de concessões de transmissão de empresas privadas, que não prestam o melhor serviço do mundo. O Valor Econômico informou que documentos do Ministério de Minas e Energia e do Operador Nacional do Sistema (ONS) atestam que a subestação atingida opera há mais de dois anos no limite de sua capacidade.

Da discussão em torno da privatização, quimera do liberal Paulo Guedes, que mantém o emprego, mas abandonou as convicções, a responsabilidade pelo caos é transferida para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). É ocioso lembrar que as agências que, em teoria, fiscalizam as empresas para as quais foram repassadas subsidiárias das antigas estatais, sempre foram dirigidas por paus-mandados dos governantes federais de plantão. O caso mais angustiante, mas não o único, é o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dirigida pelo contra-almirante Antônio Barra Torres, negacionista e bajulador do presidente Bolsonaro. André Peppitone foi nomeado para a presidência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em agosto de 2018 pelo ex-presidente Michel Temer. O diretor do ONS,  Luiz Eduardo Barata Ferreira, é petista, foi nomeado por Dilma Rousseff e reconduzido por Temer. Peppitone e Barata foram afastados dos cargos pelo juiz federal João Bosco Costa Soares Batista como óbvios culpados. E as diretorias foram mantidas por decisão do 1.ª Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF 1).

A mera leitura do parágrafo anterior permitirá ao leitor ter uma ideia do saco de gatos que mantém o povo de Macapá no inferno de Dante Alighieri na vida real. Aneel e ONS mantêm relações estreitas com o Ministério das Minas e Energia. O ministro é o contra-almirante Bento Albuquerque que, ao contrário de seu chefe imediato, o capitão Jair Messias, viajou para o Estado em pane duas vezes antes da terceira, agora em companhia do próprio no sábado passado. Dois dias antes, respondeu, meio irritado, a um repórter que ele já tinha cumprido seu dever ao mandar publicar no Diário Oficial instruções para a retomada da normalidade. Em seguida, outra chuva provocou mais um apagão. Que lambança, hein?

Na sexta-feira, 20, o presidente Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto o corregedor-geral do Tribunal de Justiça do Rio (TJ/RJ), desembargador Bernardo Garcez. Este fugiu da imprensa escondendo-se atrás de uma pilastra, onde, imaginou, não seria visto. Como lembrou O Antagonista, Garcez integra o órgão especial que julgará denúncia do MP/RJ contra o senador sonso Flávio Bolsonaro, primogênito do capitão.

No sábado, 21, após ter acompanhado o fiasco de candidatos por ele apoiados, de forma criminosa, em lives gravadas em próprios públicos, o chefe do governo foi a Macapá a convite do presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre. Este perdeu, em 2014, a eleição para o governo do Amapá e conquistou, em 2018, vaga para o Senado, cuja presidência ocupou em fevereiro de 2019 em eleição fraudada, na qual de um total de 81 senadores 82 “votaram”.

Na viagem-relâmpago dos dois presidentes de Poderes, Bolsonaro e Alcolumbre, foi inaugurado, pasme a Nação, um gerador a óleo Diesel, que não encerrou o calvário do rodízio de eletricidade. Pois a providência que o contra-almirante Bento, também protagonista do ridículo atroz, mandou publicar dela não deu cabo. O povo do Amapá, que garantiu a sobrevida de José Sarney na política, quando o ex-presidente foi enxotado do Estado em que reinava, o Maranhão natal, na certa não terá muito a se orgulhar do fato de ter fornecido a tragédia pronta para definir o país inteiro. Como faz com  fúria contra a imunização da covid-19, o chefe do Executivo fez propaganda do irmão do comparsa do Centrão, que preside o Legislativo, sem a menor cerimônia. E este não se fez de rogado ao produzir a pérola que não é besta de jogar aos porcos: “o maior prejudicado com o apagão é meu irmão”. Outra rima que não é solução. Essa versão nortista das irmãs Cajazeiras da telenovela O Bem Amado, de Dias Gomes, inspira Bolsonaro a usar sem medo de ser feliz a retórica de Odorico Paraguaçu, de Sucupira.

Em homeagem à “banana, menina, tem vitamina, engorda e faz crescer”, esta não é a republiqueta de bananas, mas, sim, o principado das trevas, sob um príncipe que dispensa o cérebro para governar com o fígado azedo. O coitado do Amapá continua ao deus-dará, produzindo mais uma mísera rima, que não é solução de nada. E o Brasil todo idem ibidem.

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne, segunda-feira 23 de novembro de 2020)

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Comentário no Jornal Eldorado: Noção de comércio de Bolsonaro é grotesca

O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar em reunião virtual da cúpula do Brics que revelará “nos próximos dias” a lista dos países que compram madeira ilegal da Amazônia, O presidente disse que o País sofre com “injustificáveis ataques” em relação à região amazônica e ressaltou que algumas nações que criticam o Brasil também importam madeira brasileira ilegalmente da Amazônia. “Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que importam essa madeira ilegal nossa através da imensidão que é a região amazônica”, declarou em sua participação no encontro do com governantes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Porque daí sim estaremos mostrando que estes países, alguns deles que muitos nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão”, emendou. Sua noção de comércio é grotesca.

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Assuntos para comentário da quarta-feira 18 de novembro de 2020:

1 – Haisem – No Brics, Bolsonaro diz que países compram madeira ilegal do Brasil – Diz a manchete da edição impressa do Estadão de hoje. Você acha que ainda dá para se assustar com a os vexames internacionais que o presidente da República dá em eventos internacionais em plena pandemia

2 – Carolina – Flávio desviou 6 milhões de reais em ‘rachadinha’, diz MP – É título de chamada no alto da primeira página do jornal hoje. O que há de mais impressionante e relevante no noticiário sobre os crimes pelos quais o primogênito do presidente Jair Bolsonaro foi denunciado no Ministério Público do Rio de Janeiro

3 – Haisem – Apagão atinge todo o Estado do Amapá pela segunda vez – Este é o título de mais uma chamada no alto da primeira página do Estadão hoje. O que há, a seu ver, de mais assustador no descalabro de gestão que ocorre no extremo norte do Brasil

4 – Carolina – Brasil registra média móvel de 557 mortes; total passa de 166 mil – Este é título de chamada de capa do Portal do Estadão. Você se surpreende com a perspectiva cada vez mais real da segunda onda da covid-19 nesta chegada do verão

 

 


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No Blog do Nêumanne: A força da velha política de hábito

José Nêumanne

Do naufrágio de Bolsonaro e Lula nas eleições emergiram seculares e ancestrais oligarquias remoçadas e o aumento do custo do ansiolítico do Centrão de sempre na governabilidade dos espertos

Como em todo evento político brasileiro, o primeiro turno do pleito municipal trouxe motivos de sobra para a necessidade cada vez maior do combate à pós-verdade pelo esclarecimento criterioso de fatos e fakes.

FATO – É possível sempre argumentar que eleições restritas aos municípios não definem resultados posteriores da federal e das estaduais de dois anos depois. O exemplo mais recente desse aforismo pode ser encontrado na comparação entre 2016 e 2018. Há quatro anos o Partido dos Trabalhadores (PT) foi sepultado numa avalanche de votos de repulsa às gestões corruptas de petistas e asseclas pelo mensalão e pelo petrolão. No ano seguinte, a fênix barbuda, Luiz Inácio Lula da Silva, impôs seu poste Fernando Haddad no segundo turno, para tornar inevitável a vitória da direita de reses e robôs e impor o domínio do mau militar sobre civis inocentes. A apuração de agora impôs vexame maior ao maior líder da esquerda, transferindo a banda sinistra da disputa tradicional do segundo turno em São Paulo para o PSOL de Guilherme Boulos e Luíza Erundina, uma das primeiras vítimas da truculência sindical do chefão da organização criminosa. A maior vítima da dicotomia Covas x Boulos agora é o próprio patriarca, que desembarcou do inutilizado “Lula livre” para o atualizado “Xô, Lula”. A situação favorece o presidente Jair Bolsonaro, que fará o possível e o improvável para fazer do PT adversário preferencial em eventual segundo turno da eleição presidencial de 2022. Ou seja, agora é bolsalulismo ou ninguém. Ou melhor, ou nada.

FAKE –Bandeiras ridículas da direita indigesta da fraude eleitoral nas urnas venezuelanas, que levou seu “mito” que mente a denunciar sem provas fraude na disputa por ele vencida, o supremo do grotesco, e do voto impresso como condição de correção deverão ser guardadas no quarto de despejo da retórica. A tentativa mal-sucedida de blogueiros acusados de usarem fake news em inquérito adormecido em mesas do ministro Alexandre de Moraes e do Supremo Tribunal Federal (STF) – como Bernardo Küster  e Oswaldo Eustáquio – é prova cabal de que a direita minoritária é a maior suspeita de tentar fraudar essas eleições. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro do STF Luís Roberto Barroso, garantiu em entrevista exclusiva publicada extraordinariamente na série Nêumanne Entrevista, no YouTube, levada às redes domingo 15, dia da eleição, teve nela o maior aval. Da mesma forma, isso ocorreu com outra afirmação no mesmo vídeo de que disparos de WhatsApp e ações de reses e robôs do gabinete do ódio foram reduzidos em parceria com as redes sociais à insignificância na apuração da Justiça Eleitoral.

FATO – O aval da realidade à lisura dos resultados eleitorais neste pleito não isenta, contudo, a Justiça Eleitoral de seu pecado capital: ela continua inócua na repressão ao crime na eleição. Permitir que Jair Bolsonaro fizesse – como fez – campanha eleitoral em lives gravadas em palácio é um acinte que merece reproche a todos: do criminoso confesso, do juiz omisso e da oposição leniente. Não vale o argumento de que o eleitor lhe puxou a orelha na hora de votar. Dos 59 beneficiários do delito impune, só 9 foram eleitos. Dos 13 candidatos a prefeito de Bolsonaro, 2 foram eleitos, 2 passaram para o segundo turno e um terço permanece na disputa. No Estado de Direito, eleitor escolhe, não pune. Punição é assunto de polícia, Ministério Público e Poder Judiciário, que falharam gravemente no caso. O capitão de milícias jogou todas as suas fichas na votação do filho 02, Carlos, comandante do gabinete do ódio no Planalto, para a Câmara do Rio, base eleitoral e sede territorial da famiglia. Num eleitorado maior e mais exposto à mídia do sobrenome, ele teve 70 mil votos, 36 mil (34%) a menos do que em 2016, quando se contaram 106 mil. Perdeu o primeiro lugar para Tarcísio Motta, do PSOL, com 86.243. E conviverá com uma bancada de 7 “comunistas”, um a mais do que a meia dúzia de quatro anos atrás. Para completar o mal-estar, terá de esperar a próxima passagem do elevador do Palácio Tiradentes quando a viúva de Marielle Franco, Mônica Benício, eleita com 22.99 sufrágios, ocupar um lugar nele.

FAKE – Ressalvando a minoria lúcida, analistas profissionais, amadores ou interessados no resultado das urnas pisaram no tomate ao atribuírem à derrota do “bolsalulismo” o ímpeto nostálgico da experiência administrativa e da velha política e a renovação nos quadros dirigentes do Estado. Mas não houve renovação, estes foram apenas remoçados. João Campos e Marília Arraes, que disputam o segundo turno no Recife, não são apenas netos de Miguel Arraes, ícone da esquerda pré-golpe militar. São herdeiros da mais antiga oligarquia brasileira desde o Império, os Alencar do Cariri cearense. Bruno Covas é neto de Mário Covas, patriarca do PSDB. O fato de as linhagens da nobreza política terem chegado à segunda geração está longe de representar novos ares limpos e arejados no pedaço. Isso também vale para o caso da primeira capital do Brasil, São Salvador da Bahia, na qual o prefeito, neto e xará do cacique Antônio Carlos Magalhães, elegeu no primeiro turno Bruno Reis, que assumirá o bastão na passagem de poder no carlismo baiano.

FATO – Bruno Reis faz parte dos prefeitos que já garantiram seu lugar no poder municipal ao lado de dois correligionários do DEM de Rodrigo e César Maia, este também ungido pelo voto no domingo em que se celebraram 131 anos da insana República. Reforçando a força do Centrão para a barganha com Bolsonaro, Rafael Greca, de Curitiba, e Gean Loureiro, de Florianópolis. O custo da indiferença a 48 processos de impeachment na gaveta de Rodrigo Maia, o Botafogo do propinoduto da Odebrecht, certamente subirá mais do que o dólar norte-americano sob Joe Biden. Quem viver verá crescerem o “Xô, Lula” e o “Vai trabalhar, presidente”, título do editorial do Estadão de segunda-feira, 16, cuja leitura será a cada dia mais recomendável para ele e os brasileiros em geral.

*Jornalista, poeta e escritor

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Artigo na página 2 do Estadão: De volta à boa e velha democracia

Derrota de Trump propicia o retorno às

origens do governo para todos, não para alguns

Na terça-feira 3, o candidato da oposição democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, foi escolhido pelo longevo sistema da representação federativa dos Estados coloniais da Inglaterra para suceder ao republicano Donald Trump. Só quatro dias depois a maior potência política e militar do Ocidente comunicou o fato ao mundo. E o derrotado não recuou de sua postura de denunciar o “roubo” dos vencedores, sem narrar um fato que fosse para apoiar seu “jus sperniandi’, expressão jocosa do juridiquês para o direito de espernear.

Nos quatro anos em que deu expediente no Salão Oval da Casa Branca, o presidente fez o que pôde para impor as ideias de uma direita truculenta e inculta que mantém vivas velhas crendices de obscurantismo, negacionismo, terraplanismo, criacionismo, armamentismo, ignorantismo e anti-imunização. O governo do povo, pelo povo e para o povo, que inspirou os pais fundadores na Revolução Americana, no século 18, e desde então em voga em muitos países – entre os quais o nosso, com interrupções no Estado Novo e sob o golpe militar de 1964 –, depende da Justiça.

Desde sábado, 7 de novembro, ao informar que a apuração lhe dava acesso ao poder na segunda economia do mundo, o vice de Barack Obama esclareceu que a batalha que acabava de vencer tinha o condão de ressuscitar um princípio dos ancestrais. Biden ressaltou o fato de que, embora tenha sido escolhido por mais da metade dos representantes dos Estados da única Federação merecedora dessa definição no mundo, governará para todos os cidadãos norte-americanos. Aí estão incluídos os mais de 70 milhões que sufragaram o atual presidente. Aparentemente esse é um princípio indiscutível, mas não é bem assim. O bilionário eleito em 2016 exerceu o poder em benefício de seus prosélitos, que apressadamente têm seu ideário definido como “ideologia”. Produto político da reação à entrada em cena da nova potência governada pelo Partido Comunista Chinês numa mixagem de capitalismo selvagem com escravidão social e política, o empreendedor imobiliário de sucesso na vida privada armazenou num quarto de despejo bandeiras tradicionais da política ianque, tais como o multilateralismo, o combate à degradação natural e a generosa entrada de estrangeiros no mercado de trabalho mais ambicionado do mundo.

Dos países ao sul do Rio Grande, o que mais tem oscilado na relação com a potência do norte é o nosso. Exemplo mais óbvio disso foi dado por Getúlio Vargas no Estado Novo, quando flertou explicitamente com o nazi-fascismo, mas, ao fim e ao cabo, entrou na guerra mundial contra Hitler e Mussolini. E ainda cedeu aos aliados uma posição geográfica invejável no extremo nordeste de sua conformação continental, onde os norte-americanos instalaram uma base aérea em troca da Companhia Siderúrgica Nacional.

A volta da ditadura após a democracia liberal de 1946, com o golpe de 1964, resultou na sentença mais sabuja da relação de mendicância estabelecida: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, disse Juracy Magalhães, embaixador do Brasil em Washington no primeiro governo militar. Só que, antes de cair a ditadura, o chanceler Azeredo da Silveira, sob o presidente Ernesto Geisel, chefiou uma diplomacia de não alinhamento ainda em plena guerra fria, em reação às objeções ianques ao acordo nuclear com a Alemanha para a construção de uma usina em Angra.

Nunca antes na História das duas nações a relação entre a maior potência e o nosso país, aonde o futuro nunca chega, houve, contudo, subserviência similar à estabelecida entre o Brasil de Bolsonaro e os Estados Unidos de Trump. O laço forte entre os dois é precisamente a comunhão do fanfarrão do norte com o charlatão dos nossos tristes trópicos. Eleito dois anos depois do ídolo, Jair Bolsonaro abandonou provisoriamente seu ideário de baixíssimo clero na Câmara dos Deputados – corporativista, patrimonialista e de simpatia por gestores estatizantes, como o venezuelano Hugo Chávez e o patrício Lula da Silva – por uma narrativa oposta. Na eleição surfou nas ondas do combate à corrupção da Operação Lava Jato de Sergio Moro, por ele nomeado ministro da Justiça, e da privatização, representada pelo ainda ministro da Economia, Paulo Guedes.

No entanto, a derrota de Trump acaba de surpreender seu discípulo latino, tendo doado o governo para o qual foi eleito legitimamente a suspeitos, acusados e condenados por corrupção de um grupo sem princípios e com interesses chamado inadequadamente de Centrão. Tendo defenestrado Moro da Esplanada, renunciou explicitamente à obrigação constitucional de governar para todos para atender a trumpistas olavistas, agora nocauteados pelo malogro do canastrão do pescoço rubro. E, principalmente, para livrar os filhos políticos de velhos hábitos em geral e, em especial, o senador sonso Flávio, seu primogênito, dos rigores da lei. Conforme disse na reunião de 22 de abril, quando admitiu que não permitiria que a polícia os alcançasse. É a famiglia acima de tudo que o afasta do presidente eleito dos Estados Unidos, que reconhece o primado de todos sobre alguns.

*Jornalista, poeta e escritor

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No Blog do Nêumanne: E se Juracy e Jair estiverem certos?

José Nêumanne

Seis redes de emissoras da TV comercial do EUA fizeram bem ao interromper fala de Trump na Casa Branca acusando eleição que perdia de ter sido “roubada” sem se referir a fato nenhum?

Na sexta-feira, 6 de novembro de 2020, correspondentes de meios de comunicação e seus públicos foram mantidos em suspense à espera de um pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja derrota no pleito de terça-feira, 3, parecia a cada segundo mais próxima de ser anunciada. O republicano assomou ao púlpito do qual faz seus pronunciamentos e respondeu a perguntas em entrevistas coletivas, na sala de imprensa da Casa Branca, dando início a um exaustivo e cansativo destampatório, acusando o sistema eleitoral da democracia fundada em 1776 de ter sido fraudado em prejuízo de suas pretensões à reeleição para o cargo político mais importante do mundo. Perdeu tempo quem esperou que ao longo de uma teoria conspiratória surrealista — incluindo o autor destas linhas — surgisse alguma bala de prata, um argumento fatal que desmentisse o otimismo dos adversários. Em vão.

Espectadores de seis redes de televisão comercial em seu país, porém, foram poupados ou não puderam seguir até o fim aquela narrativa absurda, mais apropriada na obra teatral do surrealista romeno Eugène Ionesco. Elas tomaram uma atitude radical, inesperada e arriscada de suspender a transmissão da fábula autoindulgente do potentado vencido. Não era esperado, nem seria comum, que canais de televisão tivessem o topete de suspender uma transmissão ao vivo no momento em que era enunciado o primeiro de episódios sem nomes, endereços e evidências da fala oficial à qual o orador tem o privilégio ao menos até 20 de janeiro de 2021. Todos deram como único motivo o fato de que o principal mandatário da mais importante democracia mundial simplesmente não aprendeu a perder. Esse é, pelo menos na convicção dos executivos dos canais e dos noticiários, motivo suficiente para negar a seus telespectadores o rosário que tem repetido o ocupante do Salão Oval da Casa Branca desde que percebeu que sairia do jogo assim que os votos fossem conhecidos.

A decisão desses profissionais foi, além de inédita, ousada. Pois chegava de forma muito arriscada à margem de um dos direitos mais elementares da democracia instaurada naquele país há 244 anos na convenção que fundou os Estados Unidos da América, em Filadélfia, na Pensilvânia. A direita armamentista mundial, que tem no republicano no poder em Washington seu ícone, agarrou-se, desde então, a alguns conceitos que nunca defendeu, e agora com ardor mais do que inusitado. Ou seja, o máximo palavrão com que nenhum liberal sequer suporta conviver: a censura à expressão e opinião. Estabeleceu-se incontinenti o maior conflito na história da democracia contemporânea: entre liberdade e verdade, seus princípios basilares, nem sempre coincidentes.

A essa dicotomia acrescente-se, nestes tempos de libertinagem das redes sociais na cibernética, o conceito elástico e amoral da pós-verdade: a primeira condição para uma argumentação civilizada dos limites da liberdade que não aceita o direito de mentir, deixando de fora o cinismo. É possível até negar a concessionários de serviços de interesse público como emissoras de televisão o poder de cortar, sem nenhuma delegação popular,  a transmissão que agora, quando parece definida a apuração dos votos dando vitória ao oponente, conta com a adesão de 70 milhões de eleitores norte-americanos que sufragaram o presidente. As redes sociais, que tateiam em busca de um ponto intermediário, têm alertado nos EUA que as declarações de Trump são, no mínimo, duvidosas. A decisão das emissoras ­– que, particularmente, não confundo com censura — poderá ser submetida à Justiça por qualquer cidadão que se sinta prejudicado por ela.

“A democracia às vezes é confusa, então às vezes requer um pouco de paciência”, disse Joe Biden em Wilmington, Delaware, onde vive, quando ainda não tinha certeza da vitória. Naquele momento, ainda era noticiada certa confusão na eleição presidencial, com manifestantes dos dois lados nas ruas e ações judiciais pedindo a paralisação da contagem. Convém esclarecer que a democracia dos pais fundadores, que sempre tentamos copiar, mas nunca conseguimos, é genuína e continua hígida e a salvo de eventuais tentativas de prepotência, de um lado ou de outro.

Seja qual for o resultado a que se chegue sobre essa confusão, fica patente que Donald Trump tem usado o fato de morar na Casa Branca para usá-la como palanque e seu discurso se configura como absurdo por denunciar fraudes sem provas, e apenas em Estados onde perdeu para Joe Biden. Ou onde perdeu terreno no final da apuração em progressão.

É justo esclarecer que, por mais confusos resultados pareça permitir, e apesar de o sistema eleitoral norte-americano não dispor de Justiça Eleitoral nacional, mas estadual, é constrangedor ver o presidente, no exercício de suas funções, questionar a lisura de apurações eleitorais quatro anos após ter vencido numa. É um mau exemplo, vindo de um país que tem a pretensão de servir de modelo democrático para o mundo. Essa atitude representa um sério problema para o funcionamento do sistema eleitoral no futuro, pelas incertezas que desperta, embora não chegue a ameaçar a democracia nem a credibilidade do país no planeta. Como denotam manifestações de aplauso de vários estadistas, incluídos aliados do vencido.

A interrupção da fala de Trump é um momento histórico na ação dos modernos meios de comunicação. Se Juracy Magalhães, autor da sentença “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, e Jair Bolsonaro, que adota aquele país como guia universal dos bons costumes cívicos, estiverem certos, seria talvez provável imitá-los por aqui. Ou não?

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 9 de outubro de 2020)

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Direto ao Assunto no YouTube: TVs interrompem mentiras de Trump

Em decisão inédita na história do jornalismo norte-americano, três emissoras de televisão comercial dos EUA interromperam fala oficial do presidente Donald Trump, direto da Casa Branca, quando ele começou a fazer acusações de roubo de votos republicanos sem apresentar prova ou fato. 2 – BC e Coaf esclareceram à comissão de “juristas” que mudanças pretendidas pela Câmara na lei de lavagem de dinheiro podem quebrar acordos internacionais do Brasil com grupos de Egmont e Palermo, sob vigilância do Gafi. 3 – Na capa da revista Crusoé depoimento do empreiteiro corrupteiro Marcelo Odebrecht revela o que há por trás das indicações para tribunais superiores. Direto ao assunto. Inté. E só a verdade nos salvará.

Para ver vídeo no YouTube clique no play abaixo:

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