Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Política


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Artigo no Estadão desta quarta-feira: Bolsonaro e Mourão são a quintessência da maldade

José Nêumanne

Vice fã de torturador garante distância

de presidente desumano de eventual impeachment

Balanço do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) aponta que, até 21 de novembro de 2020, foram registradas no Brasil 200 mil mortes, 24% mais do que era estimado para o ano findo. Naquela data, as perdas em decorrência da covid-19 chegavam a 168.989, conforme dados divulgados pelo consórcio dos meios de comunicação, já que o Ministério da Saúde se recusa a fornecer dados confiáveis. A coincidência levanta a hipótese de que, mesmo com aumento da população, a pandemia, maior causa de óbitos do País no ano, está muito longe de poder ser definida como mera “gripezinha”. Os números nunca mentem, mas isso não comoveu quem cruzou o marco do calendário gregoriano facilitando a contaminação pelo novo coronavírus.

Alguns brasileiros ilustres agiram como agentes desse contágio. O craque Neymar promoveu festa para 500 convidados em Mangaratiba, aviltando o tema do sucesso de Luiz Gonzaga. O influenciador em redes sociais Carlinhos Maia aglomerou centenas no Natal da Vila, resultando em 47 contaminados. Outro ídolo de crianças e adolescentes nas redes sociais, Felipe Neto, criticou-o, mas foi filmado jogando futebol. O governador de São Paulo, João Doria, jura adesão à ciência, mas fez um bate-volta para Miami a pretexto de “merecido” repouso de guerreiro. Outro tucano, Bruno Covas, festejou a reeleição para a Prefeitura de São Paulo num “covidão” que lembrou bailes funk da periferia, e ainda promoveu um bonde da alegria com aumento de 46% para si, o vice, vereadores e servidores. Merval Pereira definiu-os como “sem noção” em sua coluna no Globo.

Dentre eles, Jair Bolsonaro é hors-concours. Ganhou menção especial porque passou o Natal num forte militar em São Francisco do Sul (SC), pertinho de Presidente Getúlio, no Vale do Itajaí, onde 21 brasileiros morreram afogados numa enchente. Na companhia de um magote de bajuladores, deixou em Brasília a mulher, Michelle, que usufruiu o feriadão rodando de kart com o maquiador Agustin Fernandez no Ferrari Kart do Autódromo Nelson Piquet. Madame pode ser adicionada ao rol.

Depois, o presidente cometeu insanidades tentando desviar sua responsabilidade no combate à vacinação, com exigência de imagens do calo ósseo na mandíbula de Dilma, torturada no regime militar. E na grotesca exposição de sua barriga pseudoatlética ao se jogar de um barco ao mar para nadar até um grupo previamente reunido de apoiadores, que insultaram adversários aos berros e o chamaram de “mito”. Aglomerados e jorrando perdigotos, como só convém ao vírus.

No show de indiferença ao risco de morte de 212 milhões de vítimas desgovernadas por ele, destacou-se sua crítica desastrada à decisão do Congresso argentino de descriminalizar o aborto. Nem isso alterou o sono perpétuo decretado por seu pretenso adversário, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, a mais de 40 processos de impeachment. Parte dessa expressão de inércia se deve ao fato de seu substituto eventual, o vice Hamilton Mourão, ser, como ele, admirador confesso do torturador e assassino Brilhante Ustra, acusado por Dilma de lhe haver fraturado a mandíbula. A tortura, reconhecem os “mansos de coração” do sermão das bem-aventuranças Daquele que ele diz adorar, Jesus Cristo, é a máxima covardia. Só poltrões como Bolsonaro e seu vice podem considerar esse oficial “herói” e “homem de honra”. Covardia é o contrário de bravura, qualidade que dá medalhas a militares em ação nos campos de batalha. E só pode ser pior do que um torturador quem o admire sem coragem de imitá-lo, só por faltar ocasião.

O desgovernante que torna inviável a vacinação, sonhada pelo povo real (e não o fictício na Praia Grande e no “chiqueirinho” do Alvorada) como sopro de sobrevida, não é, contudo, um ponto fora de curva na história dessa “Pátria Amada” ideal de comerciais de promoção da Secretaria de Comunicação. Bolsonaro e Mourão são a quintessência da maldade de momentos abjetos de nossa História. O Brasil foi a última Nação do Ocidente a abolir a escravidão de africanos transportados em brigues imundos através do Atlântico, e da qual se livrou em doses homeopáticas e condições indignas, denunciadas pelo abolicionista Joaquim Nabuco. A República cega e surda não enxergou a ignomínia do massacre dos crentes sertanejos em Canudos, comandado por covardes arrogantes como Moreira César, apesar do relato do gênio Euclydes da Cunha. Nem ouviu os gemidos dos dissidentes no Estado Novo de Getúlio, relatados em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos;

A encenação da grosseria contagiosa nas areias de Praia Grande, a cargo de agentes da morte treinados nas “milícias populares” do capitão terrorista em Polícias Militares (PMs), celebrou a agonia anunciada pelo combate ao uso da máscara, ao isolamento social e à imunização, condizentes com as melhores conquistas civilizatórias do honrado Brasil real. A farsa fúnebre nada tem que ver com a definição de amor, verdade e vida do Deus manso, ao Qual reza o facínora-mor. Só propicia safras malditas de ódio, mentira e dolorosa tortura da morte antecipada.

 Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na página A2 do Estado de S. Paulo, quarta-feira 6 de janeiro de 2020)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.


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No Blog do Nêumanne: Donald afunda no próprio cuspe. Mas, e Jair?

José Nêumanne

Escândalo inócuo, provocado pelo presidente dos EUA a 17 dias da posse de Biden, deveria alertar seu pato Bolsonaro a não tentar repetir lorota da fraude eleitoral se perder em 2022

O mundo parecia levar na gozação a cantilena golpista do presidente da maior potência militar e geopolítica do mundo, Donald Trump, de tentar ganhar no gogó golpista e na empáfia negacionista a disputa eleitoral em que foi amplamente derrotado. No colégio eleitoral, 306 a 232, e na votação popular, 81 milhões e 400 mil a 74 milhões e 200 mil. Mas o derrotado resistiu além da lógica e da sensatez. O ano novo começou com a notícia de que senadores republicanos tentariam reverter a decisão dos cidadãos norte-americanos no Senado, ainda presidido até 20 de janeiro pelo vice-presidente Mike Pence, da chapa vencida. Tudo parecia decidido, definido e distante até que o resiliente perdedor protagonizou escândalo de dimensões ciclópicas e, conforme observadores relevantes, históricas.

O jornal The Washington Post publicou a notícia e divulgou em suas redes sociais a gravação de um telefonema impertinente e antidemocrático do presidente pressionando o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a “encontrar” votos suficientes para reverter sua derrota para Joe Biden naquele Estado. Isso foi feito e provado na reprodução de um telefonema que durou uma hora, feito no sábado 2/1. O jornal obteve a gravação da conversa em que Trump repreende Raffensperger, tenta bajulá-lo, implora-lhe que aja e o ameaça com vagas consequências criminais se o interlocutor se recusar a obedecer-lhe. Chega a alertar Raffensperger de que este assumirá “um grande risco”.

Não bastaram a inconveniência e a grosseria do chefe do Executivo a apenas mais 18 dias na Casa Branca, publicadas pelo veículo de comunicação que revelou ao mundo o celebérrimo caso Watergate. Pois assomou ao noticiário o vulto de um dos repórteres que assinaram a reportagem que levou Richard Nixon a renunciar para evitar o impeachment inevitável. Parceiro de Bob Woodward na cobertura real e como autores e protagonistas do best-seller em livro e filme Todos os Homens do Presidente, Carl Bernstein engrossou o caldo venenoso. Ele cobrou a renúncia de Trump e disse mais: que o grampo atual contra o presidente dos EUA é pior que o de Watergate. “Esta é a fita definitiva de uma arma fumegante”, disparou Bernstein, em entrevista à CNN.

A exemplo de Nixon, que mereceu, à época das manifestações de protesto contra a intervenção militar dos EUA no Vietnã, a alcunha depreciativa de Tricky Dick (Ricardinho Pilantra), Trump abusou da regra três, em que, como alertava a canção de Toquinho e Vinicius de Moraes, “o menos vale mais”. Fê-lo ao abrigar na Casa Branca delinquentes políticos capazes de violar a lei para prestarem serviços ilícitos ao chefe do Executivo. Essa patota de compadritos empreitou o arrombamento do escritório de campanha do democrata George McGovern no edifício Watergate para furtar documentos sigilosos. Para piorar as coisas, comentou o assalto com os responsáveis por ele e assegurou que não o havia feito. Só que as conversas no Gabinete Oval eram gravadas desde a presidência Kennedy. A primeira gravação foi feita no despacho de Lincoln Gordon, então embaixador no Brasil, em que foi selado o apoio da democracia dos “pais fundadores” à ditadura militar brasileira, como registra o documentário O Dia que Durou 21 anos, de Camilo Tavares.

Com o apoio de Katherine Graham, proprietária, e Ben Bradlee, editor-chefe, o Washington Post passou a publicar diariamente o avanço das investigações com a ajuda de uma fonte misteriosa do Pentágono, que confirmava as informações corretas e avisava sobre as pistas falsas. Com o codinome de Garganta Profunda, título de um filme pornográfico de muito êxito, esse funcionário foi fundamental para o sucesso da empreitada. Outro servidor público de muita serventia foi o procurador Archibald Cox, cuja investigação implacável levou Nixon a renunciar. O irônico é que McGovern não tinha, como ficou provado na eleição, nenhuma chance de derrotá-lo. Como Nixon, Trump cometeu a suprema imprudência de derreter sua estratégia golpista cometendo o erro de desprezar a possibilidade de ter seu telefone grampeado, seja por um assessor que não goste dele, seja do próprio interlocutor, como “advertiu” Allan dos Santos.

Dificilmente Trump repetirá Nixon. Mas talvez possa servir de exemplo para seu fâmulo brasileiro, Jair Bolsonaro, que desde seus tempos de baixíssimo clero na Câmara dos Deputados alimenta a ilusão de tirar vantagem de denúncias de fraude eleitoral e da solução estúpida do voto impresso. Recentemente, em declaração na qual negou a esperteza de quem venceu uma disputa eleitoral em que era azarão, o capitão terrorista denunciou ter sido fraudado o pleito por ele vencido. E agora se aproveita disso para “prever” nova fraude na disputa de 2022, em que pretende se reeleger. A possibilidade de voto impresso ser aprovado pelo povo e pelas instituições é muito remota. Mas o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, do PT, advertiu: “A grave menção de que, ‘se não houver voto impresso, esqueça-se a eleição de 2022’, somada à corte que Bolsonaro faz às polícias militares, instigadas contra a imprensa livre, forma um quadro preocupante diante da possível derrota do presidente, que terá preparado o terreno para uma ‘lei marcial’, tal qual a pensada por Trump, dando fim à democracia”, que, aliás, nenhum dos dois, o patrão ianque e o servo patrício, jamais cultuou.

Agora Donald afundou na saliva do golpe retórico, que não tem como dar certo. Ainda que isso não sirva de lição para seu pato latino, convém atentarmos para a advertência judiciosa do jurista. Xô, Bolsonaro!

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 4 de janeiro de 2021)

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No Blog do Nêumanne: O Brasil do bem tem nojo de Bolsonaro

José Nêumanne

Ao perdoar delitos que considera menores, presidente é coerente com seu passado de delinquente desaforado no último país a abolir a escravidão no Ocidente e de forma execrável, como denunciou Nabuco

“Ninguém me pressiona para nada, eu não dou bola para isso”, confessou o presidente Jair Bolsonaro, enquanto circulava ao longo de duas horas em Brasília, sem usar máscara, no sábado, 26 de dezembro, um dia depois da celebração do nascimento do fundador da fé que ele diz professar. No dia seguinte, domingo, 27, fiel ao estilo de carcará, que pega, mata e come, mas depois assopra na ferida, assegurou: “Temos pressa em obter uma vacina, segura, eficaz e com qualidade, fabricada por laboratórios devidamente certificados. Mas a questão da responsabilidade por reações adversas de suas vacinas é um tema de grande impacto, e que precisa ser muito bem esclarecido”. Ou seja, nem sempre ele mente descaradamente a ponto de merecer o apelido de “minto”. Quando morde, é veraz. Quando recua, mente, ao fingir que o fez antes.

Faltou mais com a verdade, de forma repetida e contumaz, no palanque da campanha presidencial, quando prometeu combater a corrupção, a violência, o crime e os privilégios de uma casta, à qual pertence, que trata as burras da República como se fossem propriedade familiar. No exercício do mandato presidencial, que conquistou com o mais extenso, desavergonhado e cínico estelionato da História do País, ele dedicou-se a perdoar os “pequenos delitos”, cometidos por assassinos da velocidade ao volante, desmatadores da Amazônia e destruidores do meio ambiente. Em particular, ele próprio e seus filhotes, que extorquem funcionários fantasmas em seus gabinetes, legitimados pelo voto popular proporcional em seus mandatos, de acordo com provas levantadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP/RJ). Assim como portadores de armas legalizadas e fora do alcance do rastreamento do Exército, que dispensou escoiceando o comando da Força sem a menor cerimônia.

Embora sua eleição majoritária seja uma obra-prima do engodo da venda do bonde e pronta entrega de uma parelha de muares, não se pode, contudo, incriminá-lo por falta de coerência, segundo Assis Chateaubriand a virtude dos imbecis. Afinal, sua ação, resultante na mortandade superior à propiciada pelas bombas atômicas ianques sobre Hiroshina (140 mil mortos) e Nagasaki (74 mil), supera 190 mil numa contagem rasa com subnotificação. Ou seja, deixa ambas para trás em recorde e deverá alcançar, à média de mil por dia, a soma das duas tragédias em um mês.

  Bolsonaro entrou na latrina pública planejando atentados à bomba em quartéis e na adutora do Guandu, no Rio. Condenado em segunda instância por terrorismo, foi perdoado por nostálgicos da ditadura no Superior Tribunal Militar, em decisão estúpida, absurda e funesta. No exercício de sete mandados de deputado federal entre 1991 e 2018, destacou-se pelo apoio irrestrito dado ao capitão PM do Rio Adriano da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras e do empreendimento homicida Escritório do Crime, na base eleitoral dele e de sua famiglia. E também pela associação com o médico, sindicalista e petista Arlindo Chinaglia na autorização para venda da “pílula do câncer”, primeira demonstração explícita de sua vocação para charlatão barato de feira livre.

Na campanha presidencial de 2018, adotou bandeiras populares com desfaçatez e esperteza. E caiu no gosto do Brasil profundo, que, como ele, tem um vasto elenco de vilezas históricas. A maior delas, a escravidão de índios e, depois, africanos degradados em porões infectos de navios negreiros, cospe na honra de quem desfralda o “auriverde pendão”, como denuncia o poeta Castro Alves. Outra, quase das mesmas proporções, é o degredo em território nacional em pocilgas desumanas dos escravos forros, abandonados à própria sorte sem o menor planejamento, conforme denunciou o mais lúcido dos abolicionistas, Joaquim Nabuco.

O presidente, pois, não caiu na História de pára-quedas, que aprendeu a manejar quando conheceu Fabrício Queiroz, subtenente da PM RJ, tesoureiro do peculato de que o MP RJ acusa seu primogênito, Flávio, beneficiário de “doações” de Adriano e benemérito doador de ao menos R$ 98 mil na conta da primeira-dama, Michelle, que o vendedor da cloroquina, destruidora de fígados e devoradora de fetos, assumiu como seus.

Em reveladora entrevista que publico no Blog do Nêumanne no Portal do Estadão desde sábado 26 último, o pioneiro no jornalismo ambiental no Pasquim, Edilson Martins, contou que a famiglia Bolsonaro sempre teve relações íntimas com milícias. Mas não é a única. A modalidade criminosa controla, como ele lembrou, os distritos eleitorais em que o prefeito afastado e não reeleito do Rio, Marcelo Crivella, mais recebeu votos. E nenhum ex-prefeito, entre eles o que agora foi reeleito, Eduardo Paes, nem governador nenhum, incluindo o atual, Cláudio Castro, moleque de recados do clã presidencial, denunciaram as evidências de crime dos bandos na periferia da ex-Cidade Maravilhosa.

O Brasil do bem sabe que o torturador Brilhante Ustra não é “um cidadão de honra” e que o massacre de Canudos é uma nódoa indelével na história do Exército. E sente vergonha e nojo do Brasil do Bê, de Bolsonaro, que deplora a vacina e exalta, não o placebo, mas uma mezinha maldita, que faz mal ao paciente impaciente pela imunização, que ele lhe nega.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 28 de dezembro de 2020)

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No Estadão desta quarta-feira: Bolsonaro investe contra a palavra, a vida e a verdade

José Nêumanne

Presidente não cumpre as próprias promessas,

sabota vacina e ataca meios de comunicação

Gestão Bolsonaro completa 2 anos sem cumprir promessas. Esta é a manchete deste jornal no último dia 21. O texto de Vinícius Valfré relaciona os 12 principais temas da campanha eleitoral que levou o capitão à vitória, todos abandonados no governo.

Já no início da gestão havia deixado de lado promessas de palanque, como privatizações, reforma tributária e apoio à Lava Jato. Para completar, em abril livrou-se de uma promessa pessoal: o ex-juiz Sergio Moro, símbolo da operação contra a corrupção. Outro pilar da lorota para seduzir liberais crédulos, o “posto Ipiranga” na economia, Paulo Guedes, ficou na equipe, mas nenhuma bandeira sua foi desfraldada de fato. “Reformas desidratadas foram encaminhadas ao Congresso sem uma articulação política capaz de viabilizá-las. A simplificação de tributos e a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até cinco salários nunca saíram do papel”, registrou Valfré.

Ele nomeou para cargos poderosos membros do Centrão, indicados por políticos acusados de receber propina, em troca de apoio em eventual processo de impeachment e outros assuntos de interesse pessoal e familiar. Prestigiou as pautas prioritárias para seu eleitorado fiel da extrema direita, o direito de matar dos policiais (presunção de ilicitude), o afrouxamento de limites de velocidade no trânsito e a suspensão de decretos de rastreamento de armas. O principal lema da campanha – “O Brasil acima de tudo e Deus acima de todos” – foi trocado por “aos meus filhos tudo, aos inimigos o rigor da lei”. Disse que era “a Constituição”, superando o rei francês Luís XIV, que se definia como “o Estado”. E que os R$ 89 mil depositados pelo acusado pelo Ministério Público do Rio de ser miliciano Fabrício Queiroz e sua mulher, Márcia Aguiar, para a consorte, Michelle, são irrisórios para configurarem propina. Confessou, sem querer, querendo, ser corrupto.

Para não ter de responder pelos crimes que tem cometido, recorre ao dublê de advogado pessoal de sua famiglia e procurador-geral da República, Augusto Aras, que faz das tropas coração para livrá-lo do escândalo da Agência Brasileira de Informação (Abin), órgão de Estado que usou em proveito próprio e de sua ninhada. Ficou claro, em furo dos jornalistas Guilherme Amado, da Época, e Fábio Leite, da Crusoé, que a agência de informação foi utilizada para ajudar Flávio Bolsonaro a escapar da denúncia da prática de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, em seu gabinete na Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo Aras, a denúncia é “grave”, mas tem de ser “provada”. A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia determinou que as procurasse em investigação e lhe deu 30 dias para informar as providências que terá tomado. Para ela, a Abin só pode fornecer dados quando comprovado o interesse público da medida e sob controle do Judiciário, ficando vedado o repasse de informações de inteligência com objetivo de atender a interesses pessoais ou privados.

A Abin substituiu o Sistema Nacional de Informações (SNI), da ditadura militar, criado pelo general Golbery do Couto e Silva e extinto por Fernando Collor. Foi criada por lei no governo Fernando Henrique, em 1999, a pretexto de fornecer ao presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas, oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão. Mas, na prática, foi, sob FHC, inicialmente, manipulada por Sérgio Motta para perpetuar no poder seu partido, o PSDB.

Usada desde sempre para fins políticos, protagonizou desvios de conduta em vários escândalos nacionais. O mais notório foi o grampo no Supremo, em 2007, sob a égide do PT de Lula: chefiados pelo delegado Paulo Lacerda, arapongas da Abin fizeram escutas ilegais no gabinete de vários ministros e do então presidente do STF, Gilmar Mendes. Por isso o delegado, que também dirigiu a Polícia Federal (PF), e sua diretoria foram afastados.

Outro delegado federal, Alexandre Ramagem, que participou da segurança do candidato Bolsonaro depois do atentado em Juiz de Fora, instalou na agência aqueles que o próprio presidente definiu como sua agência pessoal de informação na fatídica reunião de 22 de abril, cujo vídeo foi visto por todos, por decisão do então decano do STF, Celso de Mello. Se investigar mesmo, Aras poderá deparar-se com o esquema executado, segundo a Crusoé, por um delegado da PF, Marcelo Bovernet, pelo agente Flávio Antônio Gomes, chefe da Abin em São Paulo, e pelo papiloscopista João Paulo Dondelli, diretor de Projetos Especiais do Ministério das Comunicações.

Na sexta-feira 18 de dezembro, Bolsonaro foi à formatura de novos policiais militares do Estado do Rio, que formam o que ele chamou de “milícias populares” na reunião acima referida. Na ocasião, assumiu o compromisso de que não deixará de cumprir o que sempre prometeu contra a verdade e a vida e a favor da mentira e da morte, adotando como inimigo comum a busca da realidade: “Essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei. Sempre estará contra vocês. Pensem dessa forma para poderem agir”. Ao estilo bem lulista de ser, como lhe convém.

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.A2 do Estado de S. Paulo da segunda-feira 21 de dezembro de 2020)

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No Blog do Nêumanne: A malandragem impune dos agressores covardes

José Nêumanne

O jogador branco que gritou “cala a boca, negro”, o parlamentar paulista que apalpou a colega no plenário da Alesp e o juiz que depreciou a Lei Maria da Penha valem-se da impunidade

Em 8 de dezembro último, a partida pela Liga dos Campeões da Europa entre o PSG de Paris e o Istambul Basaksehir foi suspensa aos 23 minutos do primeiro tempo, depois que o atacante Demba Ba, do time turco, acusou o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu, de ter feito ofensas racistas ao ex-jogador camaronês Pierre Webó, membro da comissão técnica do clube turco. Os jogadores dos dois times, entre eles o brasileiro Neymar Jr., saíram do campo e só voltaram a jogar no dia seguinte. O episódio repercutiu muito no mundo inteiro, também no Brasil, é claro.

A maneira como as duas equipes se comportaram foi apontada como exemplo a ser seguido na luta contra o racismo, uma das pragas que assolam os estádios de futebol em todos os quadrantes. Doze dias depois, em prélio pela 26.ª rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol da Primeira Divisão, o armador Gerson, do Flamengo, acusou o meia Índio Ramires, do Bahia, de lhe ter dito, aos 7 minutos do segundo tempo: “Cala a boca, negro”. Câmeras e microfones da transmissão não captaram o insulto. Mas as imagens mostram que o ofendido disse algo ao árbitro do jogo, o paulista Flávio Rodrigues de Souza, que não lhe deu atenção e continuou apitando, como se nada tivesse acontecido de extraordinário. Mas, insatisfeito, o ofendido tentou tomar satisfações do agressor, que foi defendido por seu treinador, Mano Menezes, demitido depois do apito final por causa do mau desempenho do time que treinava.

O comportamento do soprador de apito, que havia alegado a manutenção do próprio controle sobre a disputa para expulsar, aos 9 minutos do primeiro tempo, o atacante do time anfitrião, Gabriel Barbosa, por haver-lhe dirigido um palavrão à distância, lembrou em tudo e por tudo outro episódio lamentável, três dias antes, no plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Durante a sessão, a deputada Isa Penna, do PSOL, foi abraçada por trás pelo colega Fernando Cury, do Cidadania, que levou a palma da mão à lateral de seu seio. A parlamentar empurrou o intruso sob o olhar indiferente do presidente da Casa, Cauê Macriz, do PSDB, que não tomou nenhuma atitude para, pelo menos, repreender o agressor, cujo hálito, segundo a agredida, cheirava a álcool. Ela disse ainda que ouviu comentários de um grupo atrás dela a respeito de seu corpo. O partido do deputado suspendeu-o do exercício de cargos de sua direção. A vítima psolista informou que apelaria à polícia e à Justiça para punir a agressão na forma da lei. O colega ousado prometeu dar “sua versão” assim que fosse convocado pelos companheiros do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e pela Alesp a fazê-lo.

A esses dois episódios, gravíssimos sob todos os pontos de vista, é possível ainda acrescentar um terceiro, denunciado pelo site Papo de Mãe. Ele reproduziu nas redes sociais áudio em que um juiz, não identificado, debochou da Lei Maria da Penha durante audiência da autora da causa num processo de guarda de menor e pensão alimentícia, na presença do ex-casal, de um promotor de Justiça e duas advogadas.

“Se tem Lei Maria da Penha contra a mãe (sic), eu não tô nem aí. Uma coisa que eu aprendi na vida de juiz: ninguém agride ninguém de graça”, disse o magistrado, que também debochou das medidas protetivas. E em outro momento chegou a declarar que, ainda que o agressor fosse “um figo podre”, a “escolha” havia sido da vítima e ela “não tem mais 12 anos”. Além de ter ameaçado tirar a guarda do menor da mãe, a “otoridade” ainda apelou à sua experiência de julgamentos na Vara de Família de São Paulo para assegurar que nunca viu ou ouviu agressão sem causa.

Nos três casos citados repete-se o abuso de autoridade do árbitro, responsável por garantir a realização da partida disputada dentro das regras do jogo, não para satisfazer o próprio senso de superioridade, e do magistrado. Em nome de sua posição superior à dos participantes da agressão, o árbitro de futebol, o juiz de “direito” (direito de quê, de quem?) e o presidente da Alesp agiram como se a omissão fosse o exercício de sua superioridade. Esses casos e outros similares se enraízam na cultura escravagista e machista da História do nosso país, o último a abolir a escravidão no Ocidente — de forma incompleta, resultando no dito “racismo estrutural”, como advertiu o grande abolicionista Joaquim Nabuco. E o voto feminino só foi permitido no Rio Grande do Norte em 1927, 105 anos após a Independência e 38 após a proclamação da República.

O “cala a boca, negro” do colombiano, que se acha no direito de considerar cidadão de segunda categoria um brasileiro por causa da cor de sua pele, e o “tô nem aí” do juiz, servidor público encarregado de aplicar as leis da República de conformidade com sua sesquipedal ignorância, são similares ao abraço forçado da fêmea indefesa pelo macho alfa. Os três fatos têm raízes históricas, mas é preciso reconhecer que a colega Vera Magalhães tem razão, ao escrever no artigo publicado no Estadão em 16 de dezembro último, Boçalidade contagiosa: “Mais que o vírus, é o comportamento indigno do presidente que se alastra”.

O árbitro Flávio Rodrigues de Souza, o técnico Mano Menezes, os colegas de time do colombiano Índio Ramires e os de Gerson, presidente e deputados da Alesp e a cúpula do Judiciário paulista são todos cúmplices daquilo que se pode definir como a malandragem impune dos agressores covardes. Só respiraremos o ar puro de uma democracia de verdade, que não se limite a eleições e solenidades de posse, quando todos puderem repetir a ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia ao se referir à liberdade de expressão: cala a boca, nunca mais, brancos e machos sem penas a cumprir.

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 21 de dezembro de 2020)

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No Blog do Nêumanne: Não há vacina nem cura para estupidez

José Nêumanne

Uma semana após Shakespeare ter sido vacinado e no dia em que norte-americanos são imunizados da covid na gestão Trump, brasileiros não sabem se se livrarão da pandemia nem de Bolsonaro

Com sol nas janelas, os brasileiros começam a semana com esperança no coração. Uma senhora chamada Margaret, como Thatcher, e um William Shakespeare contemporâneo tomaram no dia 8 a primeira dose das duas a que os britânicos têm direito da vacina da Pfizer, norte-americana, em consórcio com a Biontech, alemã, pensando cicatrizes da 2.ª  Guerra Mundial. Nesta segunda-feira, 14 de dezembro, 538 membros do Colégio Eleitoral dos Estados Unidos escolheram Joe Biden sucessor de Trump confirmando o rodízio como valor democrático. Enquanto isso, vacinas da parceria citada começaram a ser injetadas do Atlântico Norte ao Pacífico, da fronteira com o Canadá à margem norte do Rio Grande, em gigantesca operação de logística, aí sim no sentido lato da palavra.

Mas a esperança mora muito longe, no rico, desenvolvido e precavido Hemisfério Norte, que se prepara para um inverno de imunização, enquanto essa tarefa não é cumprida no Brasil, em mais um verão sob um capitão de milícias e um general da passiva (apud Ruy Castro). Este aprendeu em alguma cantina de caserna que o Norte e o Nordeste do Brasil têm inverno à mesma época que o deles, em calendário muito esquisito. O ocupante da pasta, que nunca usou maleta de médico, divulgou um “programa nacional de imunização” (?) em que despreza o calendário gregoriano, que desde 1582 substitui o juliano, elaborado pelo  colega romano Caio Júlio César. “Seria irresponsável darmos datas específicas para o início da vacinação, porque depende de registro em agência reguladora”, disse o tenente-coronel da reserva Élcio Franco, Conselheiro Acácio-geral do Ministério da Saúde, com cofiado, mas nada confiável, cavanhaque de coronel da Guarda Nacional dos tempos do imperador. Com o tom usado por comandantes das Forças Armadas na ditadura militar, de triste memória de chumbo, sangue e mordaça, mas venerada pelo chefão do Poder Executivo, Jair Bolsonaro, que o instalou como número dois do clubinho de usuários de pijamas no QG da luta contra a covid, em que o certo seria usar jalecos, não admite discordância.

Nem do Supremo Tribunal Federal (STF), pois a divulgação do vídeo desaforado do “pijamado” de plantão coincide no tempo com o prazo de 48 horas exigido pelo relator da ação, que cobrou datas de começo e fim da aplicação do imunizante, Ricardo Lewandowski. Pela barbicha do profeta, diriam os 22% de brasileiros que não querem ser vacinados, em nome do livre-arbítrio imposto pelo chefão do ambulatório cujos atendentes nunca manejaram espátulas nem bisturis. Quem confia em sua habilidade em manejar armas de ofício? O que era bom para os Estados Unidos, segundo o chanceler Juraci Magalhães, não é mais bom para o Brasil tratando-se da saúde do povo.

Francamemte, o quase general Franco é mais um arauto escalado pelo charlatão da cloroquina para dar a má notícia de que boas novas do império do Norte não têm vez nestes trágicos trópicos, que nem Lévi-Strauss seria capaz de descrever e analisar. Donald, o charlatão-mor que indicou a cloroquina mágica ministrada pelo fâmulo ao sul do Rio Grande, faz questão de gastar bilhões em vacinas e passar para a História como o estadista que derrotou o novo coronavírus chinês. O pato dele, Jair, não está nem aí para a cor da chita e mandou excluir a Coronavac ­- parceria da chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, que, segundo o general da passiva Pazuello, não é de São Paulo (seria da Austrália, soldado sem combate nem medalha de bravura?) – da relação de fornecedores da prevenção, aceita e aplicada no Reino Unido e nos Estados Unidos.

O passivo Pazuello protagoniza vexames que só não são comparáveis à exposição picareta de terno e vestido presidenciais da posse em próprio público. Atribuiu a autoria do enxundioso e vazio “programa federal de imunização”, com a chancela médica do áulico ortopedista Ronaldo Caiado, a uma plêiade de especialistas convocados para uma palestra, entre os quais alguns reconhecidos e renomados. Os pretensos autores da fake news já negaram sua cumplicidade, mas o Ministério dos reservistas na Saúde já avisou que eles não têm poder de veto sobre o que não assinaram.

Numa demonstração de que a saúde do povo é, para ele, desprezível, o capitão de Artilharia (cuja “modalidade é matar”) rebaixa gradualmente a chefia de órgãos técnicos para os quais não têm “notório saber”, de general para duas patentes abaixo. Este mês o tenente-coronel (reservista) Jorge Kormann, que foi, segundo o próprio Currículo Lattes, “assessor de gestão e planejamento estratégico no Hospital Militar de Área de Porto Alegre” (!), será submetido a sabatina do Senado para ocupar na Anvisa o posto da farmacêutica Alessandra Bastos. O fundador e primeiro presidente da agência, Gonzalo Vecina, manifestou esperança, no vídeo da semana da série Nêumanne Entrevista, no Blog do Nêumanne no portal do Estadão, de que o usuário de pijama e boquinha seja reprovado na sabatina do Senado. O bem-intencionado desejo do respeitado epidemiologista choca-se com a realidade dos fatos: o contra-almirante médico Antônio Barra Torres foi aprovado na sabatina da Comissão de Assuntos Sociais do Senado por 34 votos a 7, ou seja, teve quase cinco vezes a maioria dos votos necessários para assumir o posto ora ocupado pela farmacêutica Alessandra Bastos. Na Anvisa há um ano, nomeado em janeiro e aprovado em outubro, o oficial da reserva da Marinha participou sem máscara nem isolamento social de manifestação contra o STF e o Congresso Nacional e a favor de uma eventual intervenção militar chefiada pelo colega da reserva que o nomeou.

Com a ocupação de cargos técnicos da saúde por fardados que não frequentam mais quartéis, mas clubes (círculos) militares sem comando, Bolsonaro dá sinais de carência de inteligência e excesso de maldade ao instalar não a militarização do ministério que descuida da pandemia, mas a tomada de poder por oficiais de pijama, sem jaleco nem bastão para travar uma guerra prestes a ser perdida por todos nós. A medicina não tem solução para esse desvario: não há vacina nem remédio para prevenir ou curar baixo QI ou desumanidade, mesmo que sejam explícitas e confessas.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne no Portal do Estadão da quarta-feira 15 de dezembro de 2020)

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