Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

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No Estadão desta quarta-feira: Que diacho de democracia é esta?

Será que os tucanos pensam que, anistiando Lula agora, eles também serão perdoados?

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso praticamente lançou uma campanha nacional pela anistia exclusiva de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, na convenção de seu partido, o PSDB, que fingiu, ao longo de 13 anos e meio, ser oposição e depois entrou, mas agora saiu, do governo-tampão de Michel Temer. “Prefiro combatê-lo na urna do que vê-lo na cadeia”, disse. Noves fora o erro de português na frase (do que no lugar de uma simples preposição a), a sentença é um habeas corpus preventivo que nem Gilmar Mendes concederia. O “presidenciável” do PT foi condenado a nove anos e meio de prisão na primeira instância, aguarda julgamento de recurso na segunda e as possibilidades de ele vir a ser inocentado são mínimas. O que autoriza o sociólogo a considerá-lo apto a ser votado, se a Lei da Ficha Limpa não o permitiria?

Bem, os destaques da reportagem que relatou esse disparate, assinada por Anne Warth, Daiene Cardoso, Felipe Frazão e Pedro Venceslau, publicada na página A4 deste jornal no domingo 10, a respeito da convenção da véspera, sábado 9, passam a impressão, talvez imprecisa, de que os tucanos têm uma razão forte para isso. “As urnas os condenarão (Lula e o PT) pelo desgoverno, pelo desmonte e pelas obras inacabadas”, disse o presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e pule de dez na posição de disputante da sucessão presidencial pela legenda. Como Mané Garrincha perguntou ao técnico Feola no vestiário da partida contra a União Soviética na Copa da Suécia, os senhores combinaram com os russos?

Que nada! As ruas roucas de tanto gritar se calaram, mas qualquer pessoa que frequente um bar de periferia em qualquer metrópole brasileira sabe que nada disso resiste a um átimo de raciocínio racional. Primeiramente, para Lula se candidatar a Justiça terá de absolvê-lo, partindo do pressuposto de que o multirréu está certo: é perseguido pela Polícia Federal (PF), pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Justiça. Ou seja, sem chance!

Last but not least – por último, mas não menos importante –, como diriam os súditos de Elizabeth II, o ninho do tucanato empavonado afunda na titica. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou tão perto de vencer a eleição contra Dilma e Temer que não faltam argumentos lógicos a quem acredita que a disputa foi fraudada. Desse fato emergiu a possibilidade de o neto do dr. Tancredo brilhar no cenário nacional como a voz do contra, aquele que poria fim aos desmandos e à roubalheira patrocinados pela aliança PT-PMDB na dúzia de anos anteriores. Mas qual o quê?! O sonho de consumo da sociedade indignada perdeu o cartaz ao ser identificado como “Mineirinho” no propinoduto da Odebrecht.

Flagrada com a boca na botija imunda, a esperança nacional reencarnada passou a ser vista como um réprobo, uma figura a respeito da qual nenhuma família decente comenta algo na ceia diante das crianças. Seus instintos assassinos revelados entre palavras de baixíssimo calão lhe reservaram um lugar no fundo do lixo da História, ao lado dos notórios Eduardo Cunha e Sérgio Cabral. E o partido afundou junto no lamaçal da vergonha alheia. Sua passagem pelo ato em que Fernando Henrique e Alckmin falaram foi sintetizado no olho da reportagem do Estado a esse respeito: “Investigado na Lava Jato, senador mineiro não foi anunciado em convenção, não fez discurso e foi vaiado”.

Essas duas evidências, se não eliminam, no mínimo dificultam esse paraíso na Terra dos tucanos emplumados no qual o multirréu será perdoado e ungido candidato só para perder para Alckmin. Baseados em quê? “Eu ganhei de Lula duas vezes”, contou Fernando Henrique. É verdade. E daí? Por enquanto, o PSDB perdeu até o respeito pela própria História, ao aceitar cargos do presidente que os derrotou nas urnas e não fechar questão em prol da reforma da Previdência – não por ele, mas por nós.

Há, entretanto, algo ainda mais sórdido e grave na escolha de Lula como rival preferencial pelos tucanos nas eleições gerais do ano que vem: é a suprema soberba que os maiorais do partido assumem de que eles se acham acima do bem, do mal e da Constituição. Que autoridade tem o PSDB para abolir o Estado de Direito, no qual o império deve ser da lei (e não dos parlapatões da política), para atropelar uma norma legal de iniciativa popular e firmar um alvará de soltura para um condenado contra o qual foram apresentadas carradas de denúncias, delações e provas? A Veja da semana traz uma foto de Lula com o ex-ditador líbio Muamar Kadafi ilustrando a notícia de que, em sua proposta de delação, o ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de madame Rousseff promete contar que o PT recebeu US$ 1 milhão para a campanha do então candidato e presidente, em 2002. Agora já não se trata apenas de corrupção pesada, mas de grave crime de traição à Pátria. Ao qual os tucanos se acumpliciam.

Enquanto Lula “voltava à cena do crime” (no dizer de Alckmin) no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e cometia o desatino de inculpar policiais federais, procuradores e o juiz Sergio Moro pela roubalheira na Petrobrás, cometida em seus dois mandatos e em mais um e meio de sua afilhada, os tucanos ofereciam seu pescoço ao eleitorado. Isso lembra o conselho de Antônio Carlos Magalhães, que os tucanos adotaram como deles, de não votarem o impeachment do “sapo barbudo” (apud Brizola) para “sangrarem o porco” na eleição de 2006. Resultado: Lula esmagou Alckmin em 2006 e Dilma repetiu o feito sobre Serra em 2010 e Aécio em 2014. Como disse Talleyrand sobre os Bourbons, os sabichões “não aprenderam nada e não esqueceram nada”.

Será que eles acham que, se anistiarem seu adversário preferido, também serão eles perdoados? OK, está tudo muito bom, está tudo muito bem, eles venceram, batatas fritas… Mas, nesse caso, que diacho de democracia é a esta, hein?

Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.2ª do Estado de S. Paulo da quarta-feira 13 de dezembro de 2017)


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Artigo do Blog do Nêumanne: E tudo está no seu lugar mesmo?

Ao comemorar vitória sobre oposição, Marun cantou Tudo está no seu lugar., mas talvez nem tudo esteja

“O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI mista da JBS e defensor de primeira hora do presidente Michel Temer, está sendo processado por improbidade administrativa quando era presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab). Em denúncia do Ministério Público Estadual, aceita pela Justiça, Marun é acusado, com outros 13 réus, de causar lesão ao erário em valores estimados em R$ 16,6 milhões.”

O parágrafo acima não foi escrito pelo autor deste texto, mas tem as credenciais de qualidade e veracidade do repórter Luiz Maklouf de Carvalho. E o aval, dado em 26 de setembro de 2017 por este Estado mais que centenário, cuja credibilidade foi amealhada mercê de suas lutas contra a escravidão, pela República, pela Constituição em 1932, contra o Estado Novo e contra a ditadura militar, que ajudou a deflagrar. Lá se vão 72 dias desde então e ela pode ser reproduzida praticamente na íntegra. A única substituição a fazer é a do cargo do parlamentar. Nestes primeiros dias da semana ele encerra o serviço que faz para o chefe Temer para desacreditar o trabalho nada defensável de Rodrigo Janot na tentativa de investigar o presidente. Sem, evidentemente, convencer ninguém de que o chefe do governo tem razão em proclamar a própria inocência na conversa que manteve com o réprobo Joesley Batista, da JBS, no porão do Palácio do Jaburu. O encontro só ocorreu por ter este berrado o codinome Rodrigo, prenome do então estafeta de confiança do presidente, que trocaria logo depois o gabinete do Palácio do Planalto pelo próprio lar no qual cumpre prisão domiciliar por haver sido filmado correndo com uma mala na qual foram encontrados R$ 35 mil a menos que os proclamados R$ 500 mil, depois também devolvidos ao dono desconhecido, que nunca surgiu para recolher a bufunfa e depositá-la num banco, sempre depois, como sói acontecer com correntistas normais, de justificar e provar a origem. Trata-se de Rodrigo Rocha Loures, deputado afastado após haver protagonizado a piada pronta: o cenário do vídeo é a Pizzaria Camelo, confirmando o ditado popular de que neste país malfeitos tendem a terminar em pizza.

Concluída a tarefa inglória, o ex-presidente da Agehab de Mato Grosso do Sul dedicar-se-á à outra, talvez mais árdua: articular o eufemismo dos eufemismos, de preferência pronunciado entre mesóclises e apodos, a dita base do governo. Sua missão será garantir os três quintos – 308 dos 513 votos de deputados federais e 47 dos 81 senadores – para aprovar a reforma da Previdência. Ou seja, lá o que for que esta tenha virado depois de devidamente pasteurizada por providências atenuadoras patrocinadas pelo relator Arthur Maia, sob a vigilância do chefe-mor e a débil aprovação de Henrique Meirelles.

O réu por improbidade administrativa vai realizar o sonho de consumo dos colegas que pertencem ao soit-disant Centrão, que, em troca de sua fidelidade canina, farão tudo o que o mestre desejar para minorar no que for possível o enorme sacrifício a ser feito pelo contribuinte para bancar mais uma vez, com a ajuda do alarido da esquerda que perde, mas não desanima, o déficit previdenciário nas contas públicas. Ele comandará o ambicionado gabinete onde se articulam as relações ditas institucionais (nem sempre confessáveis, ainda que se tornem públicas) do Poder Executivo com o Legislativo. Quando a chefia da Casa Civil era ocupada no primeiro governo Lula pelo comissário José Dirceu, o encarregado da tarefa era Valdomiro Diniz, flagrado em vídeo achacando o bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira. Este foi condenado. E Dirceu também, embora goze no momento do privilégio de sambar de tornozeleira na mansão em que se diverte com a mulher e a filha enquanto cumpre pena por furto qualificado. Valdomiro perdeu o poder, o cargo e a fama, mas desliza sorrateiramente pelo anonimato nas quadras de Brasília.

Tendo o cargo recebido nome pomposo e poder real, assumiu-o no governo Temer o amigo do peito do chefe Geddel Vieira Lima. Filho do ex-deputado Afrísio e irmão do deputado Lúcio, o listado como “Carainho” no propinoduto da Odebrecht era chamado de suíno nos bancos da escola de que saiu qualificado de in-su-por-tá-vel por pelo menos um colega célebre, o poeta Renato Russo, aquele do Legião Urbana. Geddel meteu-se em palpos de aranha. Na Secretaria de Governo e amigo do “home”, chamou na chincha o ministro da Cultura, Marcelo Calero, para forçar a liberação pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de certo edifício de luxo que ultrapassava gabaritos e tinha contabilidade pouco ortodoxa na Bahia de Todos os Santos, alguns nem tanto. Calero perdeu o emprego, mas logo Geddel se enredou na própria teia e também dançou. Na cela chorou como um bebê inconformado e foi premiado pela loteria dos habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas logo perderia a liberdade porque a Polícia Federal (PF) atribuiu ao clã Vieira Lima a propriedade de um apartamento que serviu de depósito para R$ 51 milhões em cédulas. Foi preso de novo e as investigações incriminaram a mãe, dona Marluce, e o mano deputado, levando o relator do caso no STF, o ministro Luiz Edson Fachin, a interditar a obra do edifício que, antes de ser construído, derrubou dois ministros. Que obra, hein?

No gabinete do Planalto o amigo-em-chefe instalou outro baiano, o tucano Antônio Imbassahy, formado nas hostes do dr. Antônio Carlos Magalhães e atualmente sob a égide do tucanato de fina plumagem. O chefe de todos recebeu a sugestão de aliados leais do tal Centrão de trocá-lo por alguém mais confiável e correligionário, o deputado de primeiro mandato Carlos Marun, para tornar viável o que até agora parece no mínimo incerto: aprovar a emenda constitucional da reforma da Previdência. O tucano ficou furioso, disse que dali não saía, dali ninguém o tirava e Aécio Neves foi a palácio exigir tratamento digno para os seus. Imbassahy foi, então, mantido até sexta, 8, véspera da convenção do PSDB, na qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi feito presidente nacional do partido e seu presumível candidato à Presidência da República em 2018. Mas há quem diga que quem ainda mandava e desmandava era o presidiário, não o ministro.

Carlos Marun não é um anônimo. Ele se destacou como feroz defensor de Eduardo Cunha quando o ex-presidente da Câmara dos Deputados e também ex-deputado, ainda filiado ao PMDB, seu amigo e protetor, entrou na alça de mira das operações de combate à corrupção. Organizou uma festa de aniversário do “Caranguejo” da Odebrecht com uísque e bolo de chantilly. Foi o único colega a discursar em defesa do mestre e um dos dez minguados votos que ele teve no plenário contra a cassação do mandato. Visitou o padrinho na cadeia, cobrando a passagem do contribuinte. Flagrado em pleno delito bajulando o amigo dileto, devolveu o dinheiro da passagem. E, quando isso aconteceu, já era o homem de confiança do chefe geral. Nessa condição, cantou Tudo está no seu lugar, sucesso de Benito de Paula, a cuja letra original ele acrescentou que a oposição nunca vai ganhar.

Agora, Sua Excelência assume a Secretaria de Governo com a dura responsabilidade de aprovar a reforma. Não vai ser fácil. Qualquer jejuno em matemática, caso do autor destas linhas, é capaz de prever que o Centrão tem força para derrotar qualquer emenda constitucional e, por isso, condição de chantagear. Mas, ao contrário do que os governistas esperam, faltam-lhe votos para aprovar, mesmo por pequena margem. A respeito da acusação, cuja notícia abriu este texto, tudo o que ele teve a dizer a Maklouf foi publicado no segundo parágrafo da reportagem, para sua defesa: “Estou me defendendo, e tenho certeza de que o processo resultará na minha absolvição”. Omitiu, é claro, as evidências que policiais, promotores e juiz possam ter a seu favor, como ele acredita e profetiza piamente.

Resta ainda saber até que ponto ele atenderá à expectativa de convencer 457 parlamentares a se deixarem seduzir por seu estilo truculento, que o colunista da Folha Bernardo de Mello Franco definiu como de “um pitbull no palácio”. Só aí se saberá se, enfim, de fato “tudo está no seu lugar”. Ou nem tudo?

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne, Politica, Estadão, na segunda-feira 12 de dezembro de 2017)

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No Blog do Nêumanne: Crime em nome da lei

Uma sequência de erros judiciais fica impune por indiferença de Cármen, Dodge e Segóvia

O ano de 2018 não será marcado por conflitos ideológicos ou por embates entre populismo e choque do capitalismo. Seus 365 dias serão lembrados pela guerra sem sono e sem quartel dos cem parlamentares investigados e seus aliados suspeitos no Poder Legislativo contra a sociedade indignada, que não poderá cochilar diante dos truques e armadilhas dos detentores do foro de prerrogativa de função para manterem a jabuticaba envenenada e escaparem do martelo pesado de Sérgio Moro, em Curitiba, Vallisney de Souza Oliveira, em Brasília, e Marcelo Bretas, no Rio. Com a ajuda da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal  (MPF) na investigação dos crimes de colarinho-branco, que continuam desgraçando a gestão pública nestes tristes trópicos de Lévi-Straus.

O Estado de Direito à brasileira terá reforçada, então, sua natureza peculiar de consagrar como heróis da liberdade não os profissionais da resistência política civil aos abusos das autoridades constituídas para exercerem o monopólio da força, mas os agentes portadores de insígnias que vasculham suas casas, seus escritórios e até seus gabinetes em busca de indícios comprometedores de práticas ilícitas. Há uma razão forte para isso: a República é presidida por um daqueles cidadãos em seu estranho dialeto juridiquês que, entre circunlóquios e golpes de mãos, traçam trilhas para fugir do pão, pão, queijo, queijo de explicações lógicas que possam ser facilmente entendidas. A plebe tem todas as razões do mundo para desconfiar desses finórios. Et pour cause, a polícia que mata pobres e pardos na rua, em vez de protegê-los dos delinquentes que ocupam o território onde vivem. Mas, mesmo truculenta, ela tem sido elogiada nas mesmas manifestações populares que execram os elegantes mandatários feitos gestores por decisão da maioria dos sufrágios populares.

Nessa condição, policiais viram mocinhos de capa e espada, promotores públicos tornam-se justiceiros munidos de powerpoints e juízes são tratados como deuses do Olimpo especial das varas dos crimes de colarinho- branco. Antes o altar foi ocupado por Joaquim Barbosa. Hoje Moro, Vallisney e Bretas são as bolas da vez rumo à caçapa para onde encaminham gatunos das receitas estatais. Pouco importa para eles, que não abrem mão de privilégios de jeito e maneira, se os gastos que tornam inviáveis as escritas contábeis da autoridade que recolhe e paga também fogem ao uso racional pelos excessos dos cabides de emprego, dos vencimentos além do teto e, sobretudo, dos penduricalhos nos porta-chapéus das delegacias, promotorias e fóruns, onde todos são julgados de acordo com uma lei que varia para cada caso.

Recentemente, até a próspera prole do metalúrgico-modelo teve seus telefonemas grampeados por federais, que o chefe imediato, Márcio Thomaz Bastos, chamava de “republicanos”, num desafio à altura inatingível onde, no trono, se postava o prestimoso pai, chefe de todos os chefões, Luiz Inácio Lula da Silva. É que a PF, à época, se dividia em grupos sob os auspícios de diferentes correntes: os tucanos de Marcelo Itagiba, os herdeiros de Romeu Tuma, os petistas de Paulo Lacerda, etc. Hoje os repórteres que frequentam os gabinetes dos agentes e delegados reportam a existência de uma nova geração que aposta no conhecimento das leis e na isonomia dos investigados. Por uma feliz coincidência, os velhos promotores e juízes também foram substituídos por jovens que se orgulham de seus princípios de fé na justiça e na ordem. É bom, mas a ordem elevada a extremos chega a virar repressão pela repressão e a justiça pode esconder-se nos porões quando se modifica numa espécie de profissão de fé de meras convicções. Isso produz um efeito perverso na mudança da velha democracia grega num novo cavalo de Troia, em cujo ventre crenças se metamorfoseiam em verdades absolutas, como no jogo de luzes e sombras que fazia a graça de “As aparências enganam”, seção semanal de Carlos Estêvam no Cruzeiro dos anos 30 a 60. em que a luz iluminava a tragédia que parecia comédia à sombra. Ou vice-versa.

Excelente reportagem de Luiz Maklouf Carvalho no Estado de domingo 3 de dezembro revela como é preciso vigiar para evitar abusos de autoridade. Muito embora também não se deva permitir que a ausência dessa vigilância facilite a fuga dos delinquentes perfumados pelos desvãos dos tribunais de juízes que escondem nas dobras de suas togas penas de ganso prontas para promoverem a impunidade de seus afilhados de casamento. O repórter comparou a tragédia do ex-reitor da Universidade de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Concellier de Olivo, o Cau, com a saga de Josef K, perseguido pela lei implacável e sombria na criação de ficção do maior romancista do século 20, o judeu tcheco Franz Kafka. A abertura de O Processo, o romance que virou clássico de cinema na versão irretocável de Orson Welles, ressurge na abertura do texto no jornal: “Alguém devia ter caluniado Luiz Carlos Cancellier de Oliveira, porque foi preso numa manhã, sem que houvesse feito alguma coisa de mal”.

No entanto, nem Kafka seria capaz de descrever o frio roteiro de Florianópolis: Cau foi preso pela Polícia Federal, na Operação Ouvidos Moucos, em 14 de setembro. Era investigado, sem saber, pela delegada Érika Mialik Marena, ex-coordenadora da Operação Lava Jato em Curitiba, e depois da Ouvidos Moucos, em Florianópolis. Fora denunciado pelo corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, que não omitiu à polícia sua condição de desafeto do denunciado pela mesquinha razão de que este, para economizar gastos na instituição, subtraíra uma gratificação de R$ 1 mil de seu holerite mensal. A PF usou 115 agentes para prender os sete denunciados, entre os quais Cancellier, encaminhado, como se condenado fora, à penitenciária. “Teve os pés acorrentados, as mãos algemadas, foi submetido, nu, à revista íntima, vestiu o uniforme de presidiário e ficou em uma cela na ala de segurança máxima”, descreveu Maklouf. Dezoito dias depois, jogou-se do sétimo andar de um shopping na capital catarinense. Tudo começou numa investigação corriqueira sobre um programa de educação a distância. A PF informou em manchete em seu site que a Operação Ouvidos Moucos combatia desvios de R$ 80 milhões. A delegada reconheceu que esse total era a soma dos repasses do Ministério de Educação para a UFSC ao longo de dez anos (de 2005 a 2015), sendo que Cancellier assumiu a reitoria em maio de 2016.

Maklouf não conseguiu ouvir o  delator Prado, que não atendeu ao celular que a instituição forneceu como sendo se sua propriedade. Conforme Maklouof, ao voltar de uma viagem a Portugal, Cancellier mandou abrir um inquérito, pedido pelo professor  Gerson Rizzatti, e afastou Prado até a conclusão, mas o juiz federal Osny Cardoso Filho não o autorizou. A vice-reitora Alacoque Erdmann, no cargo, foi visitada pelo superintendente da Controladoria-Geral da União (CGU) no Estado, Orlando Vieira de Castro, e pelo procurador da República André Bertuol. Depois da visita, ela revogou a portaria. O repórter não conseguiu falar com ela, nem Bertuol e Cardoso. E registrou que o siteJornalistas Livres deu conta de uma sentença contra Prado por calúnia e atos de violência contra a ex-mulher e moradores de um prédio do qual foi síndico. Em 25 de novembro último, o juiz Marcelo Volpato de Souza arquivouar o inquérito da morte do reitor, louvando-se do parecer do procurador Andrey Cunha Amorim, concluindo por suicídio. E atribuindo o gesto à humilhação de que Chancellier foi vítima.

Tudo foi convenientemente sepultado sem que a presidente do Conselho Nacional de Justiça, Cármen Lúcia, tenha perguntado à juíza federal Juliana Cassol por que autorizou a prisão. Não há também notícia do interesse da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em saber de Bertuol o que motivou o pedido de prisão. Também a delegada federal tem a esclarecer sua atuação, no mínimo, imprudente. Mas o diretor-geral da PF. Fernando Segóvia, parece mais interessado em garantir privilégios para os colegas na reforma da Previdência, negociando diretamente com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o Botafogo do propinoduto da Petrobrás, e em esgrimir com os procuradores na luta pelo poder nos inquéritos dos acusados. Para quê? Pelo visto, para nada!

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne, Política, Estadão, na segunda-feira 5 de dezembro de 2017)

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Estadão às 5: Pacto na náusea

Só pode ser definido com a palavra náusea o pacto proposto pelo condenado Roberto Jefferson s firmado pelo suspeito Temer com chefões partidários no rega-bofe de domingo no Palácio do Jaburu, pelo qual os votos a favor da reforma da Previdência serão pagos de forma proporcional na distribuição aos deputados com participação mais generosa na distribuição do Fundo Partidário para financiamento eleitoral.  O Brasil foi levado ao fundo do poço pelos desastrados desgovernos dos larápios petistas e está agora sendo afundado na fossa pelo pacto da impunidade que inclui criminosos do passado, do presente e do futuro de todos os partidos, credos e ideologias. Este foi um dos temas do Estadão às 5, ancorado por Emanuel Bomfim e comentado por mim, transmitido do estúdio da TV Estadão no meio da redação do jornal e retransmitido pelas redes sociais Youtube, Twitter, Periscope Estadão e Facebook na segunda-feira 4 de dezembro de 2017, às 17 horas.

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Estadão às 5: Que apego pelo emprego!

Apesar da crise ética, patrimonial, econômica e política, o Brasil ainda tem um papel relevante no mundo e o que a Nação esperava de seu chanceler, Aloysio Nunes Ferreira Filho, era que estivesse cuidando disso, já que a função diplomática nada tem que ver com as miuçalhas da politicagem fuleira doméstica. Engano: Sua Excelência está agora brigando para ficar no emprego com o chefe da Casa Civil do governo Temer, Eliseu Padilha, que faria melhor se estivesse agradando os tucanos, pois os votos destes são extremamente necessários para que seja aprovada a improvável emenda constitucional da reforma da Previdência. Este foi um dos temas tratados no Estadão às 5, levado ao ar do estúdio da TV Estadão no meio da redação do jornal, com apresentação de Emanuel Bomfim e comentários de minha autoria, e retransmitido ao vivo nas redes sociais Youtube, Twitter, Periscope Estadão e Facebook na quinta-feira 30 de novembro de 2017, às 17 horas.

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No blog do Nêumanne: A volta dos que não foram

Presidente da Câmara manda no Ministério das Cidades e presidiário Cunha na Secretaria do Governo de Temer

A um ano do turno definitivo das eleições gerais de 2018, o cidadão brasileiro tem presenciado um circo de horrores na cúpula federativa da República brasileira, com lances dignos da tragédia mais deslavada e da comédia mais escrachada.

Na interminável novela da indecisão do PSDB quanto a continuar servindo a Temer ou renunciar, o quarteto ministerial tucano foi reduzido a trio com a renúncia de Bruno Araújo, pernambucano que deu o voto capital pelo impeachment de Dilma, um gesto simbólico, e saiu de fininho do Ministério das Cidades. Para o lugar dele o chefe do governo não pestanejou e nomeou o obscuro membro do baixíssimo clero da Câmara dos Deputados Alexandre Baldy. Este adentrou a Esplanada dos Ministérios recomendado por circunstâncias genealógicas e de proximidade: é primo de Elsinho Mouco, marqueteiro do Planalto com pouco talento e menor senso de oportunidade por adotar como slogan do mandato-tampão o lema positivista de Auguste Comte Ordem e Progresso, inscrito na Bandeira Nacional. Destarte, sendo este tido como muito chegado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a fome juntou-se à vontade de comer, como já diziam os mais antigos. Laços familiares e interesses em votações no Congresso eliminaram uma anotação desagradável de sua biografia: nos velhos tempos de Waldomiro Diniz e das relações promíscuas entre o governo Lula, as loterias e a contravenção penal, foi descrito no relatório final de uma CPI como “o garoto de ouro de Carlinhos Cachoeira”, o bicheiro de Goiás de Demóstenes Torres e dos irmãos da JBS.

Não é algo que se possa definir como boa estirpe, mas em nada se compara com similar episódio referente a outro posto estratégico do primeiro escalão: sem as verbas polpudas da pasta desprezada por Araújo, a Secretaria de Governo, que, segundo as más línguas, continua sendo tocada por gente de confiança do baiano Geddel Vieira Lima, embora seja comandada por outro baiano, o tucano Antônio Imbassahy,

E foi aí que a porca torceu o rabo. Imbassahy gostou do emprego e quer ficar na poderosa esplanada. Mesmo que lhe seja destinada uma pasta ocupada por uma correligionária, a juíza também baiana Luislinda Valois, transferida para o pelourinho de uma aposentadoria de R$ 32 mil com a perda do Ministério dos Direitos Humanos.

Mas Aécio Neves, o Mineirinho do departamento de propinas da Odebrecht, tomou as dores do deputado e exigiu de Temer “dignidade” na hora de desalojar as aves de rica plumagem do ninho fofo do poder federal. Como a História registra, o PSDB perdeu a eleição presidencial para Dilma Rousseff, soit-disant “work alcoholic”, e seu vice, empossado depois do alívio do impeachment dela.

Diante do súbito brio do derrotado neoaliado, Temer cedeu e, em nome da ira sagrada de que se viu assomado depois de ler na Coluna do Estadão a confirmação do convite a Carlos Marun para o posto que comanda as negociações entre Planalto e Parlamento, ele o pôs no congelador até o próximo dia 9. Essa é a data para a qual está marcada o convenção do PSDB em que se escolherá o substituto do neto de Tancredo na presidência. E, assim, a Nação conhecerá se, afinal, o partido se aliará ou se separará do chefe dos chefes, Temer.

Isso se deu no instante em que o Tribunal Federal da 3.ª Região (TRF-3) recusou os embargos impetrados pelo ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, acusado dos crimes de lavagem de dinheiro e peculato, cometidos na eleição estadual de 1998, no esquema conhecido como mensalão tucano. A denominação deriva do fato de ter sido imitado depois pelo PT no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência e tendo como operador o mesmo Marcos Valério de Souza, o único condenado nos dois processos que ainda está preso. Azeredo, por exemplo, continua solto, enquanto Zé Dirceu samba em casa de tornozeleira no calcanhar.

Delatado por Joesley Batista, a quem pediu R$ 2 milhões “para pagar a um advogado”, Aécio foi protagonista da famigerada reunião do Supremo Tribunal Federal em que a presidente Cármen Lúcia desempatou a seu favor a votação para lhe permitir sair de casa à noite. E frequentar durante o expediente o plenário do Senado. Foi nessa condição de usuário do direito constitucional de ir e vir que foi a Temer exigir que seu partido seja tratado com dignidade, o que só merecerá se fechar questão a favor da reforma da Previdência.

A tal dignidade tem prazo de validade. Até o dia 9 Imbassahy fica, mas no dia 10 Marun assume. Tendo acompanhado a lealdade canina do nobre parlamentar a seu ex-presidente e sempre chefe, Eduardo Cunha, recolhido à cela da Lava Jato em Curitiba, a Nação vê aproximar-se o dia em que o Caranguejo da Odebrecht partilhará parte do poder do chefe de Estado no semiparlamentarismo adotado e assumido por Temer com Rodrigo Maia.

Essa é mais uma ironia da deusa Clio, que comanda do alto do Olimpo nosso destino sorvendo goles de néctar. Com 3% de popularidade, o presidente da República ficou no posto em troca de votos comprados de deputados que evitaram o desabamento da espada de Dâmocles sobre seu pescoço e por mercê do medo do tal do mercado de vê-lo substituído pelo filho de Cesar e dona Mariangeles Maia. E enquanto Rodrigo Botafogo (no jargão do propinês) comanda o destino das cidades, Carlos Cunha (ou Eduardo Marun?) tece os fios de Ariadne no reino desencantado das cumbucas do povo: uma posta, outra emborcada, ambas mandando.

O cara do Cunha assumirá o posto para evitar a derrota anunciada da reforma da Previdência. Quem o nomeará se esqueceu de que o Centrão pode derrotá-la, mas não tem força para participar de sua improvável vitória. Este jornal já informou que dois terços das aposentadorias não seriam afetadas pela nova versão da reforma. Nem isso, contudo, parece fácil de ser aprovado.

Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.2A do Estado de S. Paulo na quarta-feira 29 de novembro de 2017)

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