Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Poesia


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Na Quinta Poética

José Nêumanne Pinto participou em 23 de abril de 2015, às 19h30m, da 74ª Quinta Poética promovida pela Escrituras Editora na Casa das Rosas, em São Paulo. Sob a curadoria de Raimundo Gadelha, Álvaro Alves de Faria, Hamilton de Faria e Nêumanne leram seus poemas em público.

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“As fugas do sol” (poesia), edição completa em mp3

Ouça nesta página a edição completa do CD “As fugas do sol”: 01. DISCURSO – 02. O ENCONTRO DE CRISTINO COM VIRGOLINO NA VIOLA DE SEU RAIMUNDO – 03. DESAFIO DE VIOLA REPENTINA E GUITARRA CÉTICA – 04. TRÍPTICO MARINHO – 05. POEMINHA – 06. VAMOS BEBER A TARDE? – 07. ÔMEGA – 08. FUGA DE BAQUE – 09. TECHNICOLOR – 10. NA CASA AVOENGA – 11. SERESTA SERTANEJA – 12. A SEARA DE SARAMAGO – 13. BARCELONA III – 14. BARCELONA VI – 15. BARCELONA XVII – 16. BARCELONA XIX – 17. , – 18. BORBOREMA 9 – 19. BORBOREMA 10 – 20. BORBOREMA 12 – 21. BORBOREMA 13 – 22. BORBOREMA 23 – 23. BORBOREMA 24 – 24. BORBOREMA 25 – 25. LUA NO LAGO – 26. MADEIRO – 27. DECOMPOSIÇÃO DA FOLHA – 28. GARATUJAS DE BAR – 29. POEIRA DE ESTRELAS – 30 BYE

 

Para ler os poemas, acesse o ebook. Clique aqui!


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A leste do Éden

 

Para Isabel, minha mulher.

José Nêumanne Pinto

 

 

Quando fecho os olhos logo cedo,
vejo no escuro da pálpebra cerrada
os olhos verdes de meu amor:
neles brilham um fulgor novo
e um vezo cheio de perguntas.

Ela me cobra se a amo mesmo
e, aí, dou conta de que muito
é este amor imenso feito mar
e minimalista que nem grão
– o milho verde
e o trigo em pó.
Percebo, pois, que o sentimento,
triste como tarde em queda,
é ainda feliz e gaiato.
E também se alegra
se a íris se molha
e a lágrima pinga,
a gota solta pela pele.
São coisas que se apressam
quando muito custam
e, quanto mais correm,
mais tardam a chegar.

De olhos fechados
e pálpebras caídas,
viajo sem destino
num caminho torto
com curvas e ladeiras,
côncavos e recôncavos.
Ele me parece mais claro,
ainda que nada enxergue,
mas logo fica turvo
se tudo se mostra.

Se digo que a desejo,
escapa de meus dedos
e se finge de zangada,
sorrindo e amuada.
Mas, se a digo linda,
fecha-se em copas,
fingindo assim que preferisse
que eu lhe mentisse,
só pra rir de mim
– a doce safada.

Mas fazer o quê?
Se lhe beijo os seios,
me oferece lábios
e, se lhe acarinho o rosto,
me guia a mão pelo dorso.

Meu amor escorrega
como flui no leito,
macia, lisa e plena,
toda manhã esguia
que nos convoca ao dia,
que prepara a noite,
onde fazemos guerra
com gritos e sussurros,
espingardas sem pólvora
e espadas sem fio.

À noite, sim, o amor é feito
de longos silêncios
e palavras desconexas
inventadas ao acaso,
como as sementes
inventam as flores
e o sol fertiliza a terra.

Depois, na paz do sono,
sonhamos que as metades
só se fazem uma
se a maçã nos morde
e a serpente cala.

JOSÉ NÊUMANNE PINTO

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“Para Isabel”

 

O verso em ti se faz de pele,

sabendo a maçã no jardim,

como a gaivota beija o mar,

a estrela Vésper despe o céu

e a rosa espreita o leito nu.

 


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Para minha Madonnella de Campina Grande

Quando estou dormindo e meu amor me abraça por trás, Sinto que Deus cala e observa a harmonia de sua obra E o diabo cede a um cansaço de milênios para cochilar. As ondas do mar suspendem seu salto na areia E as estrelas ficam perfeitamente visíveis no céu, Ainda que o sol atravesse a vidraça do quarto Para beijar nossos lençóis, nossas fronhas e nossos cabelos. Então, meu amor coça a ponta do nariz nas minhas costas. Percebo que não há lavas nos vulcões em erupção E os anjos tocam em sua fanfarra um ritmo de axé. Vem um cheiro de pão quente da Padaria das Neves E o fluxo dos rios altera as rotas dos viajantes. Embarco numa viagem de férias por um instante Quando a mãozinha de meu amor pousa na minha Sobre o peito cansado de guerra e, enfim, em paz. Meu amor ressona no meu ouvido suavemente E me pergunto, atrevido, em quantas manhãs mais Me sentirei feito um bobo de sua Corte Real. Ao beijar seus lábios de caju assim logo cedo, Mordo a maçã do Eden, bebo um gole de coco E estico os músculos como se nada mais houvesse a fazer A não ser dançar uma valsa de Strauss Em algum terreiro baldio do sertão de minha infância. JOSÉ NÊUMANNE PINTO


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“Lamento por Canudos”, de Gereba e Zé Nêumanne

Lamento por Canudos 

de Gereba e Zé Nêumanne

Na escada de Monte Santo

Me perdi da cega fé,

O pó que enxuga meu pranto

Faz feridas no meu pé.

 

As bandeiras do beato,

Da cor de lama rachada,

Chupam, como carrapatos,

Almas de gente alquebrada.

 

O chão de Jeremoabo

Me transforma em matador.

Aqui faço e ali acabo

E lá se fabrica a dor.

 

As estrelas de Corisco

Anunciam Satanás,

Na guerra se encontra risco,

Mas há quem busque cartaz.

 

Os aboios do vaqueiro

São lamentos de marfim.

Neles acho o verdadeiro

Pressentimento do fim.

 

Pois, se a terra é do homem

E o sertão vai se acabar,

Quais dos frutos todos comem,

Quantos vão chegar ao mar?

 

 

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