Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Nêumanne entrevista Guzzo


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Reajuste para STF é assalto ao povo

à beira da estrada, diz Guzzo

Colunista de Veja e Exame acha, como Bolsonaro, que Constituição distribui direitos demais e chama isso de “palhaçada”, pois boa parte não é usufruída pelos cidadãos

Para o jornalista J. R. Guzzo, o reajuste reivindicado pelos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e aprovado pelo Senado “é uma coisa de submundo, uma expressão de tudo o que existe de pior nesse Brasilvelho, subdesenvolvido, concentrador de renda, corrompido até o fundo da alma, trapaceiro, parasita, que faz a nossa desgraça de todos os dias. Bolsonaro estaria começando muito mal, realmente, se não tivesse falado nada. Os 58 milhões de votos que recebeu foram contra isso, não a favor”. O colunista da revista Veja,protagonista da semana da série Nêumanne entrevista neste blog, concordou com a frase polêmica do presidente eleito de que neste país há direitos demais e empregos de menos. Conforme Guzzo, “isso já foi dito por um monte de gente boa, um monte de vezes, e reflete exatamente a palhaçada hipócrita dos nossos 10 milhões de leis, ou sabe lá Deus quantas. Criam direitos para tudo o que se possa imaginar, quase sempre pagoscom dinheiro do contribuinte – dinheiro que na maioria das vezes simplesmente não existe na vida real. Boa parte deles não pode ser desfrutada pelos beneficiários. Outra parte é pura safadeza para encher o bolso da casta mais alta do serviço público. Todos partem de uma base viciada: a ideia de que o poder público tem a capacidade de criar benefícios materiais assinando um pedaço de papel. Não funciona assim”.

Guzzo acha "palhaçada" direitos dados pela Constituição e milhões de leis, não usufruídos por boa parte dos cidadãos. Foto: Felipe Cotrim/Editora Abril

Guzzo acha “palhaçada” direitos dados pela Constituição e milhões de leis, não usufruídos por boa parte dos cidadãos. Foto: Felipe Cotrim/Editora Abril

O paulistano José Roberto Guzzo é jornalista e atua com assiduidade em redes sociais, fazendo muito sucesso com seus posts no Twitter. Começou a carreira de comandante de redações em 1964, como subsecretário da edição paulista do jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Foi para a Editora Abril em 1968, tendo feito parte da equipe original da revista Veja, ajudando a criar o estilo de texto nela adotado. Dirigiu a redação dos anos de 1976 a 1991, parte dos quais também dirigindo a revista de economia Exame. Em agosto desse ano, passou a revezar com Roberto Pompeu de Toledo a última página da Veja. Em 2014, quando se tornou membro do Conselho Editorial da Abril, ao qual não mais pertence, apresentou na Veja.com um programa veiculado na TVeja. Atualmente é colunista nas revistas Veja e Exame.

Dez perguntas para o jornalista J. R. Guzzo

 

Nêumanne – O presidente eleito, Jair Bolsonaro, está sendo acusado por muitos coleguinhas nossos por, na visão deles, estar criando problemas e transtornos demais para a transição do governo moribundo de Michel Temer para a futura gestão dele, escolhido por mais de 56 milhões de eleitores. Qual é sua opinião sobre esse quiproquó? Quem tem razão?

Guzzo – Acho que ninguém tem razão, ou deixa de ter razão, porque não há quiproquó nenhum. O que há é um presidente eleito se comportando como um presidente eleito. Alguma coisa ele precisa já ir fazendo, pois daqui a pouco mais de um mês vai chefiar o governo. Como você diz, a gestão Temer já está tirando as medidas para lhe fazerem o caixão, não dá para esperar até o enterro e só então começar o trabalho. Todos esses problemas gravíssimos que os jornalistas levam ao noticiário têm a seguinte relevância: zero.

Ricardo Fisher, Victor Civita e J. R. Guzzo em 1982 no auge do prestígio da Veja e da Abril. Foto: Paulo Salomão/Editora Abril

Ricardo Fisher, Victor Civita e J. R. Guzzo em 1982 no auge do prestígio da Veja e da Abril. Foto: Paulo Salomão/Editora Abril

N – Entre as frases ditas por Bolsonaro em suas aparições nas redes sociais, que se tornaram uma marca de sua campanha, está uma, que é indesmentível, mas considerada polêmica pela intelligentsia e parte da diligente companheirada dos meios de comunicação. Ela pode ser resumida num lema: “O Brasil tem direitos demais e empregos de menos”. O senhor concorda com o presidente eleito ou com seus críticos,nesse particular?

  1. G.  Eu concordo inteiramente. O novo presidente está apenas apresentando um fato. Isso já foi dito por um monte de gente boa, um monte de vezes, e reflete exatamente a palhaçada hipócrita dos nossos 10 milhões de leis, ou sabe lá Deus quantas. Criam direitos para tudo o que se possa imaginar, quase sempre pagoscomdinheiro do contribuinte – dinheiro que na maioria das vezes simplesmente não existe na vida real. Boa parte deles não pode ser desfrutada pelos beneficiários. Outra parte é pura safadeza para encher o bolso da casta mais alta do serviço público. Todos partem de uma base viciada: a ideia de que o poder público tem a capacidade de criar benefícios materiais assinando um pedaço de papel. Não funciona assim.

N – Na mesma ocasião, o autor da frase se sentiu constrangido a assegurar que cumprirá todos os deveres que constam da Constituição de 1988, o que seria escusado dizer, de vez que terá de jurá-lo na posse e já tem afirmado. O senhor acha que ele agiu corretamente ao explicitá-lo mais uma vez ou que, a esta altura, já seria até dispensável?

G – Acho que fez muito bem. Vai fazer o quê? O homem é acusado todo dia de ser um ditador à espera do dia da posse. Se não ficar falando que vai, sim, respeitar a Constituição, vão dizer que ele não tem compromisso com o Estado de Direito. Então ele fala o óbvio, pois se não falar o óbvio vai ser cobrado. Outro presidente não precisaria dizer nada disso. Bolsonaro precisa.

José Roberto Guzzo – 1972: Guzzo: boa parte dos direitos não é gozada por cidadãos e outra "é safadeza para encher o bolso da casta do serviço público". Foto: João Bittar/Editora Abril

José Roberto Guzzo – 1972: Guzzo: boa parte dos direitos não é gozada por cidadãos e outra “é safadeza para encher o bolso da casta do serviço público”. Foto: João Bittar/Editora Abril

N – Em sua primeira visita a Brasília, o deputado e capitão que ganhou a eleição participou de uma solenidade comemorativa dos 30 anos da Constituição, que Ulysses Guimarães, líder da resistência civil à ditadura militar, chamava de “cidadã”. Ali ouviu muitas juras hipócritas e muitas loas à Carta Magna. O senhor acha que, como dizem os comentaristas esportivos, a Constituição está realmente com “essa bola toda”?

G – Na minha opinião,  essa Constituição não está com bola nenhuma. Ela tem de ser respeitada porque está em vigor e não existe outra. Também acho que o novo governo vai cumprir tudo o que está escrito lá, ou aprovar no Congresso reformas que mudem o seu texto. Mas muito pouca gente de carne e osso estaria disposta a dar sequer uma volta no quarteirão em sua defesa.

N – Seja qual for a opinião que o senhor ou eu tenhamos sobre a Constituição, ela terá de ser cumprida, pois, afinal, o primeiro dever de qualquer governante é se enquadrar na moldura jurídica que ela constitui. O senhor acredita que o eleito terá condições de cumprir o que prometeu e se espera dele, sob a égide do documento produzido pelos congressistas, e não por uma Assembleia Constituinte exclusiva, como, acho, deveria ter sido?

G – Acho que dá para fazer muita coisa do que Bolsonaro prometeu ou anunciou na campanha eleitoral por meio de reformas na Constituição. A maioria do eleitorado acaba de dizer,  justamente, que quer essas mudanças – foi para isso que elegeu o homem. Seria bom, a propósito, prestar atenção à possibilidade de que as redes sociais não se tenham desmanchado no dia 28 de outubro. Podem continuar em ação durante o próximo governo, e podem levar sua voz ao Congresso. Já fizeram isso na Lei da Ficha Limpa.  

José Roberto Guzzo – 1985: Para Guzzo, "a Constituição não está com bola nenhuma. Tem de ser respeitada porque está em vigor e não existe outra." Foto: Jorge Rozemberg/Editora Abril

José Roberto Guzzo – 1985: Para Guzzo, “a Constituição não está com bola nenhuma. Tem de ser respeitada porque está em vigor e não existe outra.” Foto: Jorge Rozemberg/Editora Abril

N – Na ida a Brasília, o presidente eleito cumpriu mais um dever ao apelar para o Senado não aprovar o reajuste exigido e, o que é pior, negociado com os senadores, amentando os subsídios dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, com prejuízo, calculado por baixo, de R$ 4 bilhões para um Tesouro Nacional depauperado e numa crise econômica que convive com 14 milhões de trabalhadores desempregados?

G – Sim, cumpriu o seu dever. Na verdade, não poderia ter optado por não dizer nada. Se ficasse calado, seria um cúmplice, ao menos por omissão, desse assalto de beira de estrada contra a população brasileira. O aumento é uma coisa de submundo, uma expressão de tudo o que existe de pior nesse Brasil velho, subdesenvolvido, concentrador de renda, corrompido até o fundo da alma, trapaceiro, parasita, que faz a nossa desgraça de todos os dias. Bolsonaro estaria começando muito mal, realmente, se não tivesse falado nada. Os 58 milhões de votos que recebeu foram contra isso, não a favor.

Guzzo com Augusto Nunes, seu subordinado na revista e parceiro de bancada na TVeja. Foto: Raphaele Palaro/Editora Abril

Guzzo com Augusto Nunes, seu subordinado na revista e parceiro de bancada na TVeja. Foto: Raphaele Palaro/Editora Abril

N – Seja qual for a opinião que o senhor ou eu tenhamos sobre a Constituição, ela terá de ser cumprida, pois, afinal, o primeiro dever de qualquer governante é se enquadrar na moldura jurídica que ela constitui. O senhor acredita que o eleito terá condições de cumprir o que prometeu e se espera dele sob a égide do documento produzido pelos congressistas, e não por uma Assembleia Constituinte exclusiva, como, acho, deveria ter sido?

G – Acho que dá para fazer muita coisa do que Bolsonaro prometeu ou anunciou na campanha eleitoral através de reformas na Constituição. A maioria do eleitorado acaba de dizer,  justamente, que quer essas mudanças — foi para isso que elegeu o homem. Seria bom, a propósito, prestar atenção à possibilidade de que as redes sociais não tenham se desmanchado no dia 28 de outubro. Podem continuar em ação durante o próximo governo, e podem levar sua voz ao Congresso. Já fizeram isso na Lei da Ficha Limpa.

José Roberto Guzzo – 2007. Para Guzzo"seria bom prestar atenção à possibilidade de que as redes sociais não tenham se desmanchado em 28 de outubro". Foto: Leandro Fonseca/Editora Abril

José Roberto Guzzo – 2007. Para Guzzo”seria bom prestar atenção à possibilidade de que as redes sociais não tenham se desmanchado em 28 de outubro”. Foto: Leandro Fonseca/Editora Abril

N – No dia seguinte à aprovação pelo Senado do reajuste para os “supremos”, o mesmo Senado aprovou uma medida provisória encaminhada pelo presidente Michel Temer entregando de mão beijada benessesàs montadoras de automóveis, que vêm recebendo tais prebendas desde o governo Juscelino e, principalmente, nos três mandatos e meio dos petistas Lula e Dilma, até 2030, sem aprovação do presidente eleito nem conhecimento dos dois próximos a serem eleitos depois de cumprido o mandato deste até a data-limite da renúncia fiscal. O que, a seu ver, provocou isso: generosidade, cumplicidade ou mera falta de pudor?

G – Generosidade não é, obviamente. Um Congresso e um resto de governo que estarão enterrados no dia 1.ºde janeiro de 2019 não deveriam, pura e simplesmente, ter o direito de fazer isso. Não estão criando problemas para “o governo Bolsonaro”, como diz a imprensa. Estão criando problemas, isso sim, para o pobre diabo que vai pagar por cada centavo disso tudo nos próximos anos.  É desse jeito que o Brasil vem sendo governado há décadas – com a mentalidade, os métodos e as ações de governantes que ganham a vida por meio do crime.

N – Depois do episódio, Bolsonaro desmarcou os encontros marcados com o presidente do Senado, Eunício Oliveira, responsável pelas despesas do contribuinte nas duas votações, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que anunciou que pretende colaborar com o novo governo. O senhor acha que a atitude do deputado e capitão foi intempestiva ou adequada?

  1. G. Falar o quê,com esses caras?  Você falaria, sabendo quem eles são e o que eles fazem? Nada, absolutamente nada, que for contra o mínimo interesse deles será levado adiante. Pura perda de tempo.
"O Brasil é governado há décadas com mentalidade, métodos e ações de políticos que ganham a vida no crime", diz Guzzo. Foto: Felipe Cotrim/Editora Abril

“O Brasil é governado há décadas com mentalidade, métodos e ações de políticos que ganham a vida no crime”, diz Guzzo. Foto: Felipe Cotrim/Editora Abril

N – Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito e feito senador pelo Estado do Rio de Janeiro em 7 de outubro passado, já anunciou que admite conversar com o emedebista Renan Calheiros, que se reelegeu e apoiou o filho governador reeleito, Renan Filho, em Alagoas. Este é um aceno de boa vontade natural do ganhador ou um gesto arriscado?

– Bolsonaro foi eleito para governar o Brasil, não a Suécia. Tem de lidar com o que existe aí. Renan é Brasil – ele e mais um monte de gente. Fazer o quê? Não dá para o  presidente transformar o Palácio do Planalto num convento beneditino, onde só poderão entrar os justos, os puros e os patriotas. A única coisa que dá para fazer com essa gente é conseguir abater ao máximo o seu custo. É a velha história: dar uma canseira  para eles deixarem o mais barato possível.

N – O senhor quer, confia e conta com a possibilidade de Jair Bolsonaro desmontar as bombas de efeito prolongado deixadas pelas gestões anteriores do PT e do MDB, em seu mandato de quatro anos, já que anunciou o fim da reeleição? E por falar nisso, o que acha da proposta dele nesse sentido?

G – Acredito que consiga desmontar umas coisas, outras não. Já estaria de bom tamanho se pudesse desarmar metade das bombas, pois em geral não se desarma nenhuma. Quanto à ideia de Bolsonaro não procurar a  re-eleição:  acho uma excelente notícia para o Brasil e para ele próprio.  FHC, Lula e Dilma, formosos democratas antifascistas, colocaram seus governos, e o erário, a serviço permanente da própria reeleição. O militar autoritário, totalitário, defensor das ditaduras, etc., é o primeiro a adotar uma atitude diferente. Se ficar mesmo nessa posição, vai dar um belo cala-boca na oposição, nos intelectuais, nos artistas de novela e no New York Times. Vai ser um presidente mais forte do que os seus três antecessores. Vai dever menos ao Congresso. Vai estar menos vulnerável a pressões para fazer o mal e mais estimulado para fazer o certo.

Vídeos

Para ver Guzzo em ação na TVeja sobre Dilma clique aqui.

Guzzo no Painel WW sobre STF com William Waack. Clique aqui.

Guzzo no Painel ww com William Waack sobre Bolsonaro. Para ver, clique no play abaixo.

Guzzo no Painel ww com William Waack sobre Bolsonaro

https://www.youtube.com/watch?v=BEdg2STsImw

Para ler no Blog do Nêumanne, Política, Estadão, clique aqui.

Nêumanne entrevista J. R. Guzzo 31ª edição da SÉRIE 10 PERGUNTAS

Nêumanne entrevista J. R. Guzzo. 31ª edição da SÉRIE 10 PERGUNTAS

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