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Em quem votará o Papai Noel?

Os dois institutos de opinião pública mais acreditados no País – o Ibope e o Datafolha – divulgaram pesquisas no começo de dezembro que restauram a lógica, mostrando que na política, ao contrário do futebol, a arte por excelência dos sensatos às vezes pode prevalecer. Antes de serem feitos tais levantamentos, a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparecia inteiramente descolada tanto do desempenho chinfrim de sua gestão pública quanto dos escândalos de corrupção cujos protagonistas são ex (e atuais) figurões do primeiro escalão do governo federal e ex-dirigentes de seu partido. Agora, o velho Aristóteles pode voltar ao repouso eterno, pois suas lições continuam a valer mesmo nos grotões brasileiros. Deu-se, não propriamente uma conexão, que se podia esperar, entre o prestígio do chefe e o desempenho de seu governo, mas uma inversão: este estabilizou-se, enquanto a popularidade de Lula despencou, prenunciando uma queda livre vertiginosa.

Lula já foi quase tão imbatível na própria tentativa de se reeleger quanto o time da Liverpool dos Beatles – que terminou mesmo ficando rubro de vergonha após perder o jogo final do mundial de clubes para o São Paulo, com um gol feito por um mulatinho baixo, feio e sem pescoço como um nordestino, mas nascido no Sul e alcunhado de Mineiro. O flagrante de seu operador no Congresso achacando um empresário da jogatina e, principalmente, a delação do ex-amigo Roberto Jefferson tornaram esta barbada meio indigesta, mas, à falta de um oponente de brilho incontestável, capaz de unir as oposições, o presidente ainda conservava um certo favoritismo. As pesquisas pré-natalinas trouxeram amargas notícias a seus áulicos, sempre aptos a apostar em montarias com pules de dez para garantir a realização das próprias ambições pessoais.
Ali ficou claro que, ao contrário do que parecia, a opinião pública não se deixa persuadir facilmente pela versão de que ninguém contou nada ao chefe que nada sabe, nada viu e nada ouviu. Esta hipótese não é plausível. E, se o fosse, isso também não favoreceria o candidato a um posto da importância do que ele ocupa. Quem vai querer um presidente tão desatento?

Está certo de que ainda faltam dez meses para a eleição – e isso é mais que uma gestação. Está certo que a oposição foi incapaz até agora de produzir uma palha que fosse para jogar na fogueira em que o PT e seus aliados ardem mercê do fogo ateado pelos amiguinhos de ocasião. Está certo que o ninho dos tucanos não é nenhum mar de rosas e neste também queima o combustível aparentemente inesgotável da vaidade de uma gente incapaz de enxergar além do próprio nariz e de sapecar os rabos que os adversários exibem fora do tapete sob o qual escondem seus excrementos por causa do potencial pirotécnico da palha de que são feitos os próprios.

Incapaz de responder a acusações – como a feita pelo mesmo delator de Lula, Roberto Jefferson, segundo quem o PSDB não abre o processo de impeachment de Lula nem interroga o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, comme il faut, porque assim consegue evitar a cassação de seu ex-presidente nacional Eduardo Azevedo (MG) -, o PSDB não reúne condições morais para se apresentar como alternativa ética ao PT desmoralizado e seus aliados da mais baixa extração moral e cívica da política nacional. Visto da ponte deste Natal, o panorama das próximas eleições não é alentador. O que poderia tornar mais próspero o Ano Novo de 2006 seria deixar de contar apenas com a esperança para espantar o medo. Mas talvez seja pedir muito a Papai Noel, que é barbudo, mas não deve ter carteirinha do PT.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e autor de O silêncio do delator, romance ganhador do Prêmio Senador José Ermírio de Morais, da Academia Brasileira de Letras,como melhor livro de 2004.

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