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Diplomacia da mesa do bar de Tia Rosa

Relatório apócrifo e sem provas sobre eventual tráfico de influência da bela filha do ministro da Fazenda dá ocasião para acabar de vez com essa praga da chantagem que campeia no Brasil

Dossiês contendo informações secretas sobre adversários tratados como inimigos não são armas democráticas em busca da verdade, como aparentam ser. São delitos cometidos contra a honra alheia e usados como chantagem, que não é admitida como correta nem nos códigos informais de ética dos bandidos. Esse expediente tem sido usado com muita frequência e pouca decência no Brasil de uns tempos desses para cá. Resultam de uma atividade para-estatal estabelecida de forma oficiosa na ditadura militar: a dita arapongagem. Na época em que James Bond, o agente 007, brilhava nas páginas dos paperbacks e nas telas do cinema e da televisão, os chefões da ditadura militar brasileira recorriam à espionagem (incorretamente chamada de “inteligência”) como complemento da tortura na identificação de guerrilheiros urbanos e rurais de esquerda. O criador do Serviço Nacional de Informações (SNI), que comandava essa anomalia institucional, general Golbery do Couto e Silva, chegou a confessar: “Eu criei um monstro”. O monstro foi abatido, mas suas vísceras espalham até hoje, 36 anos após a derrocada da ditadura, os efeitos maléficos pelo Brasil durante o sexto mandato de um civil na Presidência, o quinto de um cidadão escolhido pela maioria dos eleitores.

Desta vez, se trata de aparente “fogo amigo”: está sendo atribuída a sindicalistas bancários do PT a autoria de um dossiê que tenta atingir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por meio do comportamento considerado heterodoxo de sua filha, a bela Marina. O objetivo do trabalho, como de hábito, não é contribuir para a moralidade na gestão pública, mas prejudicar alguém que esteja atrapalhando negócios e negociatas de seus compradores. No caso, quem acusa Marina Mantega de tráfico de influência ilícita no Banco do Brasil tenta prejudicar a nomeação do candidato do ministro, o vice-presidente do BB Paulo Caffareli, para a Previ, milionário e descontrolado fundo de pensões dos funcionários da maior instituição financeira pública do País. E todos, é claro, negam tudo.

Eis, então, uma excepcional ocasião para, primeiramente, identificar os delinquentes que recorrem a esse expediente maligno para se darem bem na vida numa das atividades mais rentáveis neste país da impunidade total de cabo a rabo: a de chantagista. E também para começar a escarafunchar o uso para lá de nocivo ao interesse do cidadão que gestores desconhecidos e desinibidos desses fundos de pensão fazem com o dinheiro suado do contribuinte, pois em quase todos os casos é o Tesouro que banca as apostas no cassino em cuja roleta viciada todos apostam, mas muito poucos ganham

 

O Estado de S.Paulo – 04/08/10

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