Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Política


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

No Blog do Nêumanne: O profano direito de cobrar dízimo na pandemia

José Nêumanne

Fiel ao hábito do patrão, Bolsonaro, de usar o santo nome da liberdade em vão, Marques libera cultos presenciais proibidos por prefeitos e, assim, aumenta contágio e morte por covid

Ganha uma passagem de ida sem volta a Budapeste quem comprovar a legitimidade da tal Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) para exigir do ministro Kassio Nunes Marques que desprezasse decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). E, com isso, negasse autonomia para prefeitos e governadores decretarem restrições de circulação em territórios sob sua jurisdição. É como se o fã-clube de Gabriel Barbosa mandasse reabrir o cassino por ele frequentado. Ou se o clube recreativo dos ex-alunos da Universidade Federal do Piauí ganhasse o troféu perpétuo de melhor agremiação recreativa do carnaval de Teresina.

Não pense o leitor que a troça acima supera a realidade. É apenas uma pálida descrição da deletéria liminar monocrática do cidadão em questão, ao contrariar frontalmente, e na maior caradura, decisão unânime do plenário do “excelso pretório”, cada vez mais indigno da denominação pomposa, decidindo sobre o tema. Na quarta-feira 15 de abril de 2020 foi publicada a seguinte notícia, não por algum veículo da “extrema imprensa”, alvo do ódio do gabinete ao lado do de Bolsonaro, mas pelo boletim oficial Notícias STF: “O Plenário (sic) do Supremo Tribunal Federal (STF), por unanimidade, confirmou o entendimento de que as medidas adotadas pelo Governo Federal na Medida Provisória (MP) 926/2020 para o enfrentamento do novo coronavírus não afastam a competência concorrente nem a tomada de providências normativas e administrativas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (15), em sessão realizada por videoconferência, no referendo da medida cautelar deferida em março pelo ministro Marco Aurélio na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6341”. Se dúvida houvesse, e nunca houve, quase um ano depois, em 5 de março passado, o mesmo STF, ao qual em teoria Marques pertence, reafirmou a decisão para que mugidos do gado bolsonarista deixem de repetir a patacoada sem sequer ruminar.

Isso não impediu, contudo, que o patrão do bolsonarismo continuasse entoando a ladainha de que a cúpula do Poder Judiciário o havia proibido de interferir no combate ao contágio do novo “coroné vírus”. Apesar de o relator, Marco Aurélio Mello, atual decano, ter insistido em negá-lo. E quando o boiadeiro faz soar o berrante, o gado o ecoa. O capetão sem noção não dá bola e apela sem parar, de forma patética, para a liberdade individual, chamando governadores e prefeitos de “tiranetes” por decretarem medidas de isolamento social para dificultar o contágio por contato. Foi então que entrou em ação a Anajure e atacou o “atentado à liberdade religiosa” na proibição de ofícios religiosos à hora em que a pandemia se propaga, causando mortandade. Hipócritas, repita-se designando as reses anônimas. A insignificante associação, que inspira o causídico favorito de Bolsonaro, PT e Centrão, defende mesmo é o direito pelo qual pastores, bispos, padres, mulás ou quaisquer agentes do comércio da falsa fé lutam: a livre cobrança do dízimo. Não é com o credo religioso que os donos dos shopping centers das seitas fazem fortuna, mas com a mudança de bolsos da moeda sonante durante os ritos.

Nunes Marques, o novo “guardião” da fé que não move montanhas, mas moedas, diz-se católico. Os “juristas” em que inspirou seu desprezo insultuoso pela decisão dos colegas do pináculo das jurisprudências se chamam evangélicos. Já que assim se designam os defensores e praticantes desse genocídio, vamos à “boa nova”, em que cristãos em geral fundamentam sua crença na conquista do paraíso celestial. João, a quem também se atribui a autoria do Apocalipse, escreveu no capítulo 2 do  evangelho que assina: “13 Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14 No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. 15 Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16 E disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!’”.

O livro bíblico dos Provérbios antecede o Novo Testamento no Velho. E foi sempre meu texto impresso favorito, desde as primeiras leituras na casa paterna e, depois, no Instituto Redentorista Santos Anjos, em Campina Grande. Ali se registra: “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (15:3). No catecismo, ministrado pela beata Donária, fabricante das hóstias da missa do cônego Antônio Anacleto, e nas prédicas ouvidas na idade vetusta de hoje, aprendi que conversar com a divindade única e severa de hebreus e discípulos de Jesus é hábito a se adquirir em casa, na rua ou no escritório. Ninguém precisa deslocar-se até um templo para conversar com Jeová, Alá ou qualquer outra entidade máxima, que, ao contrário do que imagina o “pio” Kassio com K, não está só ao alcance do bispo Edir Macedo, dono da Record, ou do paletó do capetão, cujo segundo nome, Messias, é por este desprezado.

Nesta semana, que começou com a notícia de 331.530 mortes de brasileiros que contraíram a “gripezinha” do charlatão-mor, registrou-se que, após a ímpia bênção do douto “adevogado” Marques à realização de cultos e missas neste pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil, a Igreja Mundial do Poder de Deus, do caubói Valdemiro Santiago, transmitiu no domingo 13 imagens de seu culto de Páscoa com a aglomeração de fiéis em seu principal templo na cidade de São Paulo. O Messias das falsas profecias e o “jurisinsulto” não querem liberdade para orar, mas para amealhar as poupanças das vítimas do culto à morte, que os anjos caídos da peste, movida a cloroquina, usam para reverenciar Satã no bezerro de ouro.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 4 de abril de 2021)

Para ler no Blog do Nêumanne, Política, Estadão, clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Nesta quarta-feira no Estadão: Uma “justiça” de mentira nesta república da trapaça

José Nêumanne

Trapaceiro chefia Executivo, Centrão

controla Congresso e STF mente em votos

Primeiro presidente eleito pelo voto direto sob a Constituição de 1988, dita “cidadã” por Ulysses Guimarães, Fernando Collor prometeu combater privilégios e foi derrubado em impeachment por corrupção. Fernando Henrique nomeou o grupo responsável pelo Plano Real, que pôs fim à inflação, mas traiu o espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal, que patrocinou, ao impor a própria reeleição, e nutriu o embrião do Centrão ao adotar o presidencialismo de coalizão (ou de colisão?). Lula entregou dois governos a empreiteiros corrupteiros, que, como relatou o figurão do Partido dos Trabalhadores (PT) Antônio Palocci, redigiram 900 de mil medidas provisórias, impostas ao Congresso. E levou seu poste Dilma Rousseff a ganhar duas disputas atribuindo a adversários o crime de surrupiar refeições do trabalhador, em campanhas de marqueteiros pagos por propinas de beneficiários, segundo vasto relato de magotes de delatores. Ela caiu do alto da torre em impeachment por contabilidade fajuta.

Em meio mandato, Itamar Franco foi o único da lista a honrar o cargo de 1988 para cá. Pilhado numa conversa marota com Joesley Batista, nos porões do Jaburu, Michel Temer chegou até a ser preso, quando seu meio mandato finou. E Jair Bolsonaro ganhou a disputa em 2018 aplicando golpes que aprendeu na prática da velha política, da qual se dizia exterminador. Em meio mandato, o atual chefe do Executivo superou os antecessores em trapaças: eleitos a bico de pena da Primeira República, apaniguados do ditador do Estado Novo fascistoide, o mar de lama de Getúlio, acusações contra JK, truques de Jânio e a corrupção censurada dos generais que deram o golpe em 1964. Vitorioso sem debates e eleito num palanque de leito hospitalar, ele traiu os votos que recebeu de antipetistas, de quem queria ver gatunos na cadeia e do soit-disant mercado, que confiou em suas lorotas de reformas e privatização. Sob a bandeira de “mais Brasil e menos Brasília”, ele acorrentou 100 milhões de brasileiros que produzem a 11 milhões e meio de marajás que desmandam na “Pátria amada”, que não ama os filhos deserdados.

Tudo sob vigilância e controle do Centrão de antanho, de Arthur Lira, sub-Cunha importado das Alagoas de Renan e Collor. E Rodrigo Pacheco, que imita Tancredo Neves por também ter nascido em Minas, sem, contudo, passar de um “Pacheco” do folclore publicitário: o torcedor abestalhado da melhor seleção dos tempos em que o Brasil era bom pelo menos no futebol. Com mais de 70 projetos de impeachment óbvio na gaveta, a dupla distribuiu R$ 3 bilhões de emendas parlamentares para tomar o poder no Congresso, mais desmoralizado hoje do que antes. E em vez de atender à necessidade premente do cidadão que morre sem ar em filas de UTIs lotadas, mercê do gosto pela morte do capetão sem noção, ora ensaia um golpe ao antigo modelo, convocando capitães da indústria e da banca para repetir 1889, 1937 e 1964. A medida saneadora urgente é adiada pelo desvio da trapaça, que eles conhecem bem.

Trata-se de mais um capítulo do “acordão” para salvar compadritos comprometidos nos autos das operações, principalmente a Lava Jato, do futuro em celas, como as que foram reservadas para Lula e Marcelo Odebrecht. E para cuja consecução só falta o acréscimo do acento agudo na segunda sílaba. Ninguém perde por esperar: o acórdão “vem aí”, como Jânio em 1960. Já começou a ser engendrado nas altas instâncias do Judiciário. O ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça João Noronha e o procurador-geral da República, Augusto Aras, deram a gazua para o primogênito presidencial, Flávio Bolsonaro, escapar das evidências da extorsão de funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e dormir no luxo da mansão de quase R$ 6 milhões. E a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) abriu o expediente para, depois de higienizar a ficha suja do ex Lula, incriminar o juiz Sergio Moro, que o condenara.

Edson Fachin omitiu cinco anos de confirmações da competência da vara federal, abrindo a temporada de caça a Moro, ao exercer a memória tardia da militância petista, que o guindou ao nada excelso pretório. Gilmar Mendes, que humilhou o colega Nunes Marques por sua origem nordestina e citou os inimigos Modesto Carvalhosa e Rodrigo Janot, que nada tinham que ver com a pauta, mentiu. Foi seguido por Ricardo Lewandowski, que se referiu exaustivamente ao produto de invasão de sigilo telefônico de autoridades, mas a ignorou no voto. E a procuradora Cármen Lúcia, que dispensa sobrenomes, imitou o relator vencido na amnésia, mudando para dar o voto vencedor. Não se sabe se por gratidão ao ex-sindicalista, que a indicara comovido com os vestidos costurados pela mãe, assim como as próprias roupas por dona Lindu, ou pelo charme do colega ao lado. Votou entre uma bem remunerada palestra e outra do Instituto do Direito Público, do vizinho.

Nada combina mais com esta república da trapaça do que uma “justiça” de mentira, que, ao cobrar parcialidade do paciente, nunca lhe deu sequer um mísero segundo de defesa.

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicada na Pag. A2 do Estado de S.Paulo na quarta-feira 1 de abril de 2021)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Comentário na Rádio Blue Med FM: Vê se cria juízo, presidente!

Rádio Blue Med FM 013, segunda 29:
Empresários reúnem-se com Centrão para pressionar Bolsonaro
Para ouvir o comentário, clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

No blog do Nêumanne: Bolsonaro manda, o resto obedece

José Nêumanne

Logo se saberá que mudanças nos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores e eventual queda do ministro do Meio Ambiente não indicam adesão do capitão terrorista a razão, lógica e ciência

Na recentíssima História do Brasil, processos de impeachment são precedidos de intenso tráfego aéreo entre Brasília e São Paulo, com jatinhos particulares transportando parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) interessados em mudar presidentes da República. Esse tráfego foi bastante intenso quando o alvo era Fernando Collor, processo no qual o vice, substituto constitucional e, portanto, maior interessado, era o mineiro Itamar Franco. Mas este nem precisou mexer-se muito, deixando a articulação no Legislativo com Fernando Henrique, no Senado, e Roseane Sarney, na Câmara dos Deputados. Collor ainda tentou reagir com a mão pesada do líder da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Câmara, Roberto Jefferson, e os conselhos de Thales Ramalho, que tinha sido muito próximo de Tancredo Neves. A urdidura da rede defensiva para evitar a queda e suas contusões ficou a cargo do chefe da Casa Civil, Jorge Bornhausen, que ainda articularia um Ministério dito ético, com personalidades de bom nome. Mas teia e articulação não foram suficientes para dissolver o caldo fétido, mexido pelo presidente com a mão gorda e peluda de seu  caixa, Paulo César Farias, vulgo Paulinho Gasolina.

No caso de Dilma Rousseff, que era ainda mais desastrada do que  o alagoano nascido no Rio, tudo ficou nas mãos de Eduardo Cunha, o Caranguejo do propinoduto da Odebrecht no processo chamado de mensalão no STF. Toda a complicada conspiração que levou Collor ao solo foi substituída pela costura de uma conspiração, na qual pontificava o “quadrilhão” do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), para ocupar o poder na pessoa do vice escolhido por Lula para as chapas vencedoras de madame. A sólida aliança que havia evitado o impeachment e garantido a reeleição de Lula em plena efervescência do mensalão derreteu-se no fogo ateado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e seu lugar-tenente preferido, Romero Jucá. A aliança, que levou o constitucionalista de Tietê ao cargo máximo da República, manteve-o lá, apesar de todos os esforços de um adversário institucionalmente poderoso, mas politicamente inofensivo, Rodrigo Janot, que não alcançou a maioria de três quintos necessária dos deputados federais para depor o ex-vice.

A ex-chefe da Casa Civil de Lula começou a complicar sua defesa ao comprar uma briga desnecessária com o Centrão, que aplicou na “presidenta” e no Partido dos Trabalhadores (PT) uma espetacular surra na disputa pela presidência da Câmara. Os processos investigados pela Operação Lava Jato, com denúncias de Deltan Dallagnol e sentenças de Sergio Moro, levaram Cunha para a cadeia, da qual só saiu recentemente graças à piedade de desembargadores e ministros, que o mandaram para casa com tornozeleira. Seu lugar-tenente de todas as horas, outro alagoano na história da República contemporânea, Arthur Lira, assumiu na condição de sub-Cunha a presidência da Câmara, à qual compete, de saída, dar a partida para quaisquer processos de impeachment do presidente de plantão. Se Rodrigo Maia, seu antecessor, não autorizou a abertura do processo por medo de perder na hora da disputa do voto, não ia ser o sucessor, eleito ao lado do mineiro Rodrigo Pacheco com a ajuda de R$ 3 bilhões de emendas parlamentares, que se aventuraria a tal ousadia. Ainda mais neste momento em que foi aprovada uma manobra nas despesas obrigatórias  para acomodar R$ 26 bilhões de quantias substanciais pelo relator-geral da Lei das Diretrizes Orçamentárias, o senador Márcio Bittar (MDB-AC), que elevou o valor total do disponível para R$ 51,6 bilhões (o maior nível histórico), conforme levantamento recente do texto aprovado com muito atraso.

Na semana passada houve um frisson na capital depois que Lira deu a entender, num avoso cifrado em discurso na Mesa ao abrir uma sessão, avisando ao “primeiro magistrado” que poderia executar o que Maia nunca ousou com os processos engavetados. O aviso ganhou volume depois da publicação, em manchete no Estadão de domingo 28 de março, de reportagem de Felipe Frazão e André Shalders dando conta de que o aparente puxão de orelhas do sub-Cunha fora articulado em oito reuniões com pesos pesados do PIB brasileiro, ressuscitando aquela revoada de pássaros de aço dos tempos do desabamento de Collor et caterva. A notícia acendeu, segundo analistas, o sinal amarelo para os rompantes ditatoriais do ex-capitão terrorista no principal gabinete do Palácio do Planalto. Algo do gênero cria juízo ou a casa cai.

A grande importância do furo do Estadão no fim de semana é que, covarde como é, o chefe do Executivo poderia não levar sua valentia à praça para enfrentar uma conspiração do mercado com o Parlamento e, assim, mudaria sua desastrada postura sobre três pontos fundamentais, que seriam capazes de levar sua permanente obediência aos filhos e fanáticos do jardim do Alvorada para o arquivo mais próximo. São eles: a pandemia assassina, a política de apoio à garimpagem ilegal e ao desmatamento de nossa floresta tropical e a agressão subolavista a nosso maior parceiro comercial, a China. As mudanças nos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores e até mesmo uma eventual intervenção na pasta do Meio (na verdade, mau) Ambiente, que ainda nem sequer foi aventada, significam, contudo, muito pouco para quem imagina uma eventual guinada da postura bolsonarista em relação a esses pontos. O roque de xadrez no Planalto na tarde de segunda 29 confirma que Bolsonaro, como o príncipe di Salina do Gattopardo, de Giuseppe di Lampedusa, muda o time para ele mesmo não ter que mudar. O ministro da Saúde e das Relações Exteriores continua sendo Jair Bolsonaro. Ele é que continua mandando e mesmo quem obedece não tem o lugar assegurado, como se comprovou com o intendente incompetente, fiel vassalo confesso e ainda assim demitido. E seja quem for o novo chanceler, ele não terá como se aventurar no território, desconhecido no desgoverno federal, do desafio aos caprichos negacionistas e à sólida ignorância presidencial sobre qualquer assunto que mereça um raciocínio mais complicado do que contar os dedos da mão.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 29 de março de 2021)

Para ler no Blog do Nêumanne, Politica, Estadão, clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

No Blog do Nêumanne: O povo não perdoa a mão leve de Lula

José Nêumanne

Não é sensato que o desgoverno assassino de Bolsonaro passe uma borracha sobre a roubalheira do PT e de seu líder máximo, apostando na corrupção que quase levou Petrobrás à bancarrota

Em entrevista ao jornal francês Le Monde, repercutindo a higienização de sua ficha suja moral e política pelo petismo nostálgico do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, o ex-presidente Lula contou que pode ser candidato ou apoiar outro  pretendente qualquer da banda soit-disant progressista.

A entrevista do petista ao jornal, assumido simpatizante das convicções de esquerda na França, deu-se após a Justiça de lá haver condenado Nicolas Sarkozy a três anos de prisão por corrupção e tráfico de influência. A sentença do barão da direita gaulesa destacou que o réu usou o status de ex-presidente para oferecer ao juiz Gilbert Azibert uma polpuda boquinha no paraíso mediterrâneo de Mônaco em troca de informações confidenciais sobre uma investigação contra ele, como registrei no artigo Lula limpo interessa a Bolsonaro, publicado no blog em 8 de março.

Aqui, no Brasil, promessa de indicação para obter vantagem da Justiça não dá em nada. Ou pelo menos nunca deu. Basta relembrar que foi o próprio Lula quem indicou o criminalista Márcio Thomaz Bastos, seu ex-ministro da Justiça, para desmanchar a Operação Castelo de Areia, protagonizada pela empreiteira corrupteira Camargo Corrêa. Esta, nunca esqueçamos, se tornaria o embrião da Lava Jato, ora tendo destino similar.

Conforme revelou o figurão do PT Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma, a tal foi anulada pelo então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Asfor Rocha em troca da promessa de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), feita por Bastos em pessoa. Parodiando o caso francês, seria um mega-Sarkozy, considerando que promoção para o STF ocorreria com a participação direta de Luiz Inácio. Pois ele tratava Dilma de “querida”. Ou seja, Lula instituiu na república insana a troca de promoções por decisões. Seria o caso de dar o peso de um Sarkozy a cada indicação do ex-governador Sérgio Cabral para desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Rio; um kilo-Sarkozy, a nomeação de Marco Aurélio Bellizze para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo mesmo. E de um mega-Sarkozy a promoção para o Supremo Tribunal Federal (STF), gorada, pois Dilma nomearia Luiz Fux.

As investigações que apuram os pagamentos de propinas ao ex-presidente do STJ César Asfor Rocha, denunciadas por Palocci, estão paralisadas e os autos encontram-se em sigilo legal. Sigilo legal é o instrumento de esconder ações criminosas do controle da sociedade e tornar inoxidáveis esquemas da venda de impunidade, só viáveis no escurinho. Como disse o juiz da Suprema Corte norte-americana Louis Brandeis, em 1914, “a luz do sol é o melhor desinfetante.”

À época de Bastos no Ministério da Justiça de Lula, o STF foi grampeado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Uma conversa banal de Gilmar Mendes com o então senador Demóstenes Torres tornou-se pública na Veja. Sob Lula, a Polícia Federal (PF) não investigou e nada concluiu, arquivando a investigação sem ter apreendido sequer uma gravação.  Diz o ditado popular que “barata na cozinha nunca é uma só”.

Fica a pergunta: onde e com quem estão as outras fitas desse grampo? A Abin era de Lula. Ele tinha acesso pleno à Abin, que não tinha segredos para o presidente. O que contêm essas fitas? Teriam elas o poder de constranger ministros? O sigilo impede a sociedade de saber e lança desconfiança sobre todo o sistema.

Agora é público e notório que a ficha limpa estalando de nova de Lula por mercê da volta de Fachin à militância petista produz cólicas evidentes no gabinete de ódio, sistema nervoso central do bolsonarismo criminoso no mais alto Poder republicano. Novo levantamento divulgado pelo Datafolha na segunda-feira 22 mostra que, ao contrário do sonho dos bolsalulistas, a maioria dos brasileiros (57% a 38%) acha justa a condenação do  ex-presidente  e critica a nostalgia ideológica do ministro do STF ao anular quatro processos (51% a 42%) da Lava Jato em Curitiba. E, de lambujem, 67% temem recrudescer a corrupção sob Bolsonaro.

O Centrão do sumo-sacerdote Arthur Lira não aguenta mais levar nas costas o andor pesadíssimo do ídolo pagão de pés de barro Jair “Messias” e encontra no condenado ao luxo no ABC uma saída viável para suas agruras. Os partidos do chamado centro democrático fingem acreditar que o taumaturgo de Caetés fala sério ao aventar a hipótese de apoiar alguém com dez dedos em 2022. Mas há ainda a estoica resistência dependente do milagre de apenar o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro e, com isso, garantir o efeito Orloff traduzido por “eu topo ser Lula amanhã”. O senador Lasier Martins apelida o grupo esperançoso por anistia de confraria.

O professor Carlos Alberto Di Franco, da Universidade de Navarra, bate os pregos dessa cruz num artigo profético publicado em 22 de março na página A2 (Opinião) do EstadãoSTF na contramão do Direito, da ética e do País. Ele escreveu: “O fecho de ouro foi dado pelo ministro Nunes Marques, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF. Pediu vista. Um artifício para adiar a provável degola do ex-juiz Sergio Moro e dar mais um empurrãozinho na Lava Jato rumo ao abismo diligentemente preparado num enorme acordão”.

Acordão lembra maracutaia, palavra que o protagonista deste texto tem usado para a gatunagem alheia. Mas pode ser que o acento agudo tornando o oxítono no paroxítono acórdão inclua o “excelso pretório” de fancaria no blefe que pode garantir a vitória final para gatunos e afins.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 22 de março de 2021)

Para ler no Blog do Nêumanne, Politica, Estadão, clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Nesta quarta-feira no Estadão: O bafo da mentira e o beijo da morte

José Nêumanne

Ao levar o rebanho para o despenhadeiro,  mentindo,

Bolsonaro é o Anticristo da pandemia

“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida”, disse Jesus (João, 14; 6). João Evangelista, xará de meu avô paterno, era um marqueteiro de gênio: o slogan, composto em tríduo, como convém a apelos que vão ao coração e de lá à razão, resume bem a mensagem, que, creia-se ou não nela, é a mais completa tradução da busca da civilização na demolição da barbárie: a imunidade do espírito pela união do rebanho, com a busca permanente do conhecimento para retardar o fim pela sabedoria. Em três anos de seminário menor, preparei-me em orações, meditações e leituras para encarar o destino, não com trapaças e rixas, mas com resignação e fé. Ou seja, uma mistura de coragem e prudência, preservando o medo, forma imperfeita do cuidado.

Jair Bolsonaro diz-se cristão, exalta Deus como guia, mas, como nunca se deu ao trabalho de ler coisa nenhuma, não se dá conta de que a trilha que segue é o descaminho. Capitão na ativa do Exército, planejou, juntamente com o parceiro de patente Fábio Silva, atentados a bomba em quartéis e na adutora do rio Guandu. Foi condenado por 3 a 0 por terrorismo e indisciplina, na primeira instância. O terror, arma do fundamentalismo religioso radical, seja dos inquisidores católicos medievais, seja de atuais fanáticos de Alá, é um coito de assassinos vocacionais. Ele próprio se define como artilheiro, cuja modalidade é matar. Mente ao rememorar sua participação no combate ao terror de esquerda durante a ditadura. Quando a guerrilha comunista passou pelo Vale do Ribeira, onde morava, não tinha idade para o serviço militar. Uma patranha fácil de desmascarar. Não serviu no Suez nem no Haiti. Nunca participou de uma batalha ou de uma escaramuça. Nada fez de útil em proveito de alguém que não seja ele ou parente seu.

Matar, para ele, não é ofício de soldado, mas vício de charlatão. Em 27 anos na Câmara dos Deputados, em parceria com o médico petista e sindicalista Arlindo Chinaglia, lutou, e ainda luta, pela aprovação da picaretagem médica da pílula do câncer. Vendendo cloroquina a emas no jardim do Palácio da Alvorada, faz o que sempre quis na vida toda: ser camelô de feira livre vendendo óleo de cobra para quaisquer achaques. Ao deblaterar contra o isolamento para evitar o contágio pelo contato com saliva infectada pelo novo coronavírus, não o faz por vocação para a delinquência no exercício ilegal de medicina, mas pela atração irresistível à propagação da morte. Artilheiro que nunca atirou em alvo móvel, quer se consagrar como capitão sem noção das tropas invisíveis do coronel vírus, venha ele da China ou da Martinica.

Apraz-lhe que este se propague pelo mundo e se aproveite para fazer do Brasil cova rasa. Quando definiu a praga como “gripezinha”, não quis desafiá-la, foi pelo mero prazer do engano pelo engodo. À falta de um QI que o aproxime de seres humanos normais, orgulha-se da própria limitação, por usá-la e assim se dar bem na vida. A oportunidade de voltar a mentir um ano depois, valendo-se dos rebentos irracionais que gerou, é a oportunosa ensancha de parecer superior aos outros pelo menos no cinismo sem limite. Num tribunal eclesiástico medieval seria condenado à fogueira por blasfêmia após pecar demais sem motivo justo algum. É o pleno Anticristo: o desvio, a mentira e a morte.

Seu alter ego pelo avesso, Lula, proclamou que a Terra é redonda para humilhar o inimigo, visto como terraplanista. Bobão! Bolsonaro não passa de um oportunista rastaquera que se aproveitou da onda contra a roubalheira e o petismo genérico, que a pratica, para ganhar a eleição presidencial de 2018. E exercer o trabalho que esquerda desunida e Centrão glutão não teriam coragem de realizar sem seu concurso: jogar a Lava Jato e qualquer tipo de higienização na fossa, à qual também destinou o combate à corrupção em geral.

O empresário carioca Paulo Marinho, suplente de seu primogênito sonso, lembrou no Twitter: “Essa data me fez lembrar um dia durante a campanha em que estávamos na minha casa e você disse: ‘Se nós não fizermos tudo certo, podemos sair presos’. Hoje eu entendo a sua preocupação e não tenho mais dúvidas de que você será preso, é uma questão de tempo. Sua omissão, negligência e incompetência criminosas já custaram quase 300 mil vidas brasileiras. O seu governo é o beijo da morte!”. O homem que cedeu a própria casa para quartel-general de sua campanha vitoriosa não percebeu que sua disposição de enganar elimina qualquer laivo de memória. O “cavalão de Troia”, que executa no terceiro ano de gestão o que o Centrão e a esquerda não conseguiram em 16, não perde tempo com nada que não seja o interesse pessoal e dos herdeiros, para os quais lega o sangue, o suor e o pranto dos brasileiros que o elegeram ou que não têm coragem de expulsá-lo do descaminho.
Os fanáticos que se manifestam a favor do contágio mortal da pandemia em prol de lojas, estádios e cassinos abertos são oportunistas que o veneram porque venderam a alma ao diabo, cujo pacto seduz mais do que a árdua e nada prazerosa caridade cristã. O resto são cinzas frias.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na página A2 do Estado de S. Paulo de quarta-feira 17 de março de 2021)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.

Página 9 de 109«...7891011...1520253035...»
Criação de sites em recife Q.I Genial

Deprecated: Directive 'track_errors' is deprecated in Unknown on line 0