Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Política


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Lançamento! Nêumanne Entrevista

A ideia que Isabel teve na padaria Aracaju, quando me perguntou por que eu não entrevistava Paulo de Tarso Venceslau, sobrevivente do sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Elbrick, deu-me a oportunidade de iniciar uma série que, até agora, reuniu 70 entrevistas publicadas originalmente no Blog do Nêumanne na plataforma virtual do Estadão. Minha mulher deu o nome da série – Nêumanne Entrevista – e também aos dois volumes ora publicados na Almedina. A lista dos entrevistados é eclética e o resultado final, atingido graças à ideia do editor

Lançamento! "Nêumanne entrevista"

Lançamento! “Nêumanne entrevista”

Marco Pace, com quem já tinha trabalhado na Girafa Editora, permitiram-me ter uma amostra razoável de que, mesmo no ambiente de conflito, estupidez, ignorantismo, obscurantismo e sectarismo em que afundou a política e a vida em sociedade no Brasil, ainda é possível transmitir ao leitor a experiência de profissionais da política, das artes e dos esportes com verve, graça e, sobretudo, amor. Isto já é, em si, um grande feito. E também uma nesga de luz, um mínimo raiozinho de esperança de que ainda restará um mundo digno de ser vivido por nosso filho Artur, que começa a viver o segundo ano de sua vida no advento desta nova obra do pai dele.

JOSÉ NÊUMANNE PINTO

Acesse o site da editora Almedina. Clique aqui.

Acesse também a nova série de entrevistas de Nêumanne no seu canal do Youtube. Clique aqui.

 

Disponível em breve. Acesse a livraria. Clique na imagem.

Disponível em breve. Acesse a livraria. Clique na imagem.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Artigo semanal no Blog: Censura, o único refúgio de Flávio

José Nêumanne

Juíza do Tribunal de Justiça do Rio proibiu a Globo de divulgar documentos do inquérito do peculato no gabinete do primogênito do presidente na Alerj, em censura comparável à da ditadura militar

A juíza Cristina Serra Feijó, da 33.ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, proibiu a TV Globo de exibir documentos ou peças do inquérito sobre desvio de dinheiro público em proveito particular, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Atendeu a pedido de liminar dos advogados Rodrigo Roca e Luciana Pires.

A esse respeito o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, divulgou nota em que pontuou: “Qualquer tipo de censura é terminantemente vedada pela Constituição e, além de atentar contra a liberdade de imprensa, cerceia o direito da sociedade de ser livremente informada. Isso é ainda mais grave quando se trata de informações de evidente interesse público. A ANJ espera que a decisão inconstitucional da juíza seja logo revogada pelo próprio Poder Judiciário”. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em nota assinada pelo presidente, Paulo Jerônimo, completou: “Parece estar se tornando praxe no país a censura à imprensa, tal como existia no tempo da ditadura militar e do AI-5”. O protagonista comemorou nas redes sociais, omitindo de forma descarada os delitos de que é acusado e atribuindo crimes aos meios de comunicação que os divulgam por dever de ofício.

O uso de expressões como “extrema imprensa” ou “Globo lixo” por fanáticos do rebanho bolsonarista é a oportuna seara em que o filho que o pai chama de zero um esparrama sementes podres de uma retórica fascistoide, autoritária, truculenta, negacionista, armamentista, anti-imunizatória, terraplanista e criacionista. Nessa safra de ignorância, estupidez e violência, argumento como o de Rech, apesar de inquestionável, de que é o cidadão, e não o meio de comunicação, o beneficiário da livre informação e sua primeira vítima quando esta é tolhida, não encontra eco. Contra essa gentalha, encantada com dedos imitando armas de fogo para esconder a própria covardia, argumentos da lógica e da luz têm parca serventia.

A biografia do rebento do mau militar, indisciplinado e terrorista, convidado a se retirar dos quartéis por ter planejado atentado à bomba na adutora do Guandu, exibe material orgânico ensanguentado. A condição de representante da cidadania fluminense na Alerj autorizou-o, por exemplo, a condecorar o capitão PM Adriano Magalhães da Nóbrega com a Medalha Tiradentes, desonrando o protomártir da Independência e os pobres espoliados e assassinados pela milícia de Rio das Pedras e pela empreiteira de assassínios Escritório do Crime. A favor dele nesse episódio sinistro só se pode dizer que não abandonou o pareceiro quando este foi executado por policiais fluminenses e baianos em Esplanada (BA), ocasião em que denunciou publicamente a covardia do fuzilamento em que seu “herói” foi eliminado.

Desde dezembro de 2018 esse homem público, que deve esclarecimentos à Justiça e aos cidadãos que o sufragaram nas urnas, nunca se dignou dar uma explicação lógica e irrefutável sobre a atividade do subtenente PM Fabrício Queiroz, cujas transações “atípicas” como guarda-livros da famiglia Bolsonaro foram reveladas pelo Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf) no inquérito aberto pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) para apurar tais crimes.

Em vez de defendê-lo, seu advogado Frederick Wassef conseguiu com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de todas as investigações sobre delitos financeiros abertas no País, incluindo suspeitas da Receita Federal sobre a contabilidade da esposa do próprio Dias Toffoli e da de seu colega Gilmar Mendes. Seis meses depois, o plenário do STF abortou esse feto monstruoso, mas nada jamais foi justificado. Wassef foi demitido e o pagador de impostos foi informado de que a linha da defesa do senador seria alterada. Nada, contudo, mudou: o filho nota zero de Jair Bolsonaro nunca apresentou uma ínfima informação sobre as acusações dos procuradores estaduais, a que ele responde, de pagar imóveis, mensalidades escolares dos filhos e despesas domésticas com dinheiro vivo, obtido com a devolução de salários de servidores fantasmas, achacados por Queiroz. Tudo o que tem feito é tentar obstruir quaisquer processos e, agora que os documentos das falcatruas são expostos à luz dos holofotes da TV, conseguir na justiça do Estado do qual é o governador ad hoc a censura, que é infame, mas não mais do que a própria biografia.

O senador que boicotou a CPI da Lava Toga vive de esmolas de liminares dadas por maiorais de tribunais que contam com promoções de fim de carreira prometidas pelo zeloso pai dele. E manda o pudor às favas ao defender a abominável tarefa que o procurador-geral da República, Augusto Aras, cumpre ao desmontar todas as operações de combate à corrupção, com as quais a famiglia Bolsonaro em peso se comprometeu jogando no lixo mentiras pregadas na campanha eleitoral para conquistar com elas milhões de votos. Até agora à sombra do poderio paterno e da covardia abjeta dos responsáveis pela salvaguarda do Estado de Direito no Brasil, Flávio Bolsonaro tem prorrogado o desenlace inevitável das denúncias de lavagem de dinheiro na franquia da Kopenhagen e outros graves crimes apenas aparentemente fuleiros, que nunca negou.

Não é possível saber até quando abusará de nossa paciência, como o fizera Catilina, que tanto contrariava Cícero. Mas talvez seja útil lembrar, como avisava minha avó, que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. A começar pela sentença absurda da incauta magistrada, que não sobreviverá à morte natural da censura, o único refúgio de Flávio Bolsonaro, e de sua pior rima, a ditadura.

*Jornalista, poeta e escritor

Para ler artigo no Blog do Nêumanne clique aqui.

 


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Nêumanne no papo com Moura Brasil

O jornalista José Nêumanne Pinto disse que a força política que mais se destaca no momento com perspectivas para decidir a eleição presidencial de 2022 é o bolsolulismo com uma eventual disputa em segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva ou algum poste petista ou esquerdista por este apoiado. Mas ainda falta muito tempo para a eleição e o desafio de uma economia destroçada pela pandemia e pela incompetência do governo ainda deixa tudo em aberto em 13 anos de déficit público pela frente. A afirmação foi feita no Papo com O Antagonista com Felipe Moura Brasil, que afirmou que pretendentes de partidos tradicionais, como o PT e o PSDB, deixarão a vaga para o ex-juiz Sérgio Moro, que atende aos anseios da sociedade por bandeiras que ainda continuam mobilizando eleitores fora da esquerda e da direita.

Para ver o vídeo do papo no site O Antagonista clique no play abaixo:


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

No Estadão nesta quarta-feira: Religião, crime e voto

José Nêumanne

Bolsonaro dá prioridade à reeleição

num Estado corrupto, pentecostal e criminoso

O capitão Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República derrotando todos os caciques da política tradicional brasileira, apoiado em quatro pilares: antipetismo, combate à corrupção, liberalismo econômico e conservadorismo nos costumes. Na campanha, prometeu que, se fosse para adotar o pragmatismo da chamada governabilidade barganhando apoio por verbas públicas, preferia não assumir o cargo ao qual concorria. Sob a condição de ser promovida uma reforma política, que ele estava cansado de saber que não tinha a menor chance de ocorrer.

No governo tornou inviável a permanência do ex-juiz da Lava Jato, símbolo da bem-sucedida faxina nos costumes políticos, Sergio Moro, no Ministério da Justiça e Segurança Pública, substituindo-o por um fâmulo a quem prometeu uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Tem feito o possível e o improvável para ter como adversário na eleição de 2022, à qual dá prioridade absoluta na gestão, o ex-presidente petista Lula ou qualquer poste ou aliado de esquerda que este apontar. Prepara uma cama de faquir para seu “posto Ipiranga”, que para evitar destino idêntico ao do magistrado paranaense não se incomoda em ser reduzido a “imposto Ipiranga”, negando, assim como fez com a pandemia de covid-19, os preceitos da estabilidade da moeda e da responsabilidade fiscal.

A pretexto da governabilidade por pelo menos oito anos, Bolsonaro correu para o abrigo do baixíssimo clero de seus dois anos de vereador no Rio e 28 como deputado federal, que passou a se denominar Centrão sob a liderança de Eduardo Cunha, que, na presidência da Câmara, defenestrou Dilma Rousseff da Presidência da República. Sem se perturbar com a circulação nas redes sociais de um vídeo de seu guarda-costas, general Augusto Heleno, que se lançou na vida artística da política entoando a paródia do samba de Ary do Cavaco, tornado sucesso por Bezerra da Silva, “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”.

E adota qualquer atitude para escapar do inquérito do Ministério Público fluminense sobre a suspeita bem fundamentada de prática de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de seu primogênito, Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). E ainda mais com a extensão do crime ao próprio gabinete na Câmara dos Deputados, onde empregou Nathalia, filha do investigado Fabrício Queiroz, seu colega na brigada de paraquedistas do Exército e amigo da vida inteira, com óbvias conexões com chefões da milícia e do crime organizado, como o capitão PM Adriano da Nóbrega. Para tanto se expõe a constrangimento impróprio para qualquer cidadão de bem, como as perguntas de repórteres sobre os motivos de depósitos de Queiroz e da mulher, Márcia Aguiar, de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle. Perguntas a que tem respondido com a costumeira elegância, ameaçando esmurrar quem as faz ou chamando-o de otário e bundão.

A pauta dos costumes conservadores está exibindo nesta pandemia a terrível, mas nada evangélica, associação entre confissões pentecostais, o crime individual ou organizado e a corrupção, que não é inédita na política e na gestão pública brasileiras, mas nunca foi de tão explícito descaramento. A pastora e cantora gospel Flordelis Souza, acusada na semana passada pela polícia fluminense de ter usado sete filhos e uma neta para executar com 17 balaços o ex-filho, ex-genro e último marido, o também pastor Anderson do Carmo, mereceu a misericordiosa solidariedade de Michelle Bolsonaro nas redes sociais. O presidente achou por bem levar sua cabo eleitoral mais valorizada, mais uma pastora, Damares Alves, à própria live semanal para evitar a contaminação pelo sangue derramado da vítima do projeto reeleitoral, que une todos os personagens desse episódio sórdido. Parceira da assassina num plano de adoção de menores abandonados, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disse que a homicida “enganou todo o Brasil”. Não dá para rir dessa piada tétrica. Para anular o desgaste dos flagrantes de sua relação com a criminosa, Bolsonaro envolveu os “300” que fizeram selfies com ele em Foz do Iguaçu.

O que dizer, então, de o quarto pastor deste texto, Everaldo Dias Pereira, frequentador das delações premiadas do propinoduto das empreiteiras corrupteiras, tê-lo batizado e aos três filhos parlamentares nas águas profanadas do Rio Jordão, na Terra Santa? Presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC), pelo qual Wilson Witzel foi eleito e no qual o próprio capitão cloroquina militou, o espírito santo de orelha do governador afastado do Rio de Janeiro está preso. Exerce o papel de água no chope da comemoração de mais uma baixa entre eventuais oponentes do clã Bolsonaro em sua marcha rumo a novo triunfo.

Resta-nos rezar para o messias salvar seu povo das garras dos sócios dessa conjura que torna o Estado que nos governa uma associação de gângsteres de púlpitos, traficantes de armas e drogas, assassinos de ofício e gatunos da gestão pública.

Como anda a coisa, só Jesus na causa nos salvará.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag.A 2 do Estado de S. Paulo da quarta-feira 2 de setembro de 2020)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

No Blog do Nêumanne: Honestidade e garantismo de araque

José Nêumanne

Afastamento de Witzel do governo do Rio põe em xeque duas tradições inabaláveis da hipocrisia na política e na gestão do Estado no Brasil: probidade a toda prova e pleno direito de defesa

O escândalo em torno da atuação do governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que culminou em processo de impeachment na Assembleia Legislativa e seu afastamento do cargo por 180 dias pelo Superior Tribunal de Justiça, expõe duas farsas na vida pública nacional. A primeira são as juras de lisura na manipulação do erário tendo como base a falta de prática na política. E a outra, a falsa imparcialidade dos ministros das altas Cortes, garantida pela profusão de habeas corpus concedidos a protagonistas de casos escabrosos de desvios de recursos públicos.

Fuzileiro naval e paraquedista militar de origem, juiz de carreira e marinheiro de primeiríssima viagem em disputa de votos, Wilson Witzel nadou de braçada em mares revoltos da eleição estadual fluminense em 2018. Na disputa apoiou e foi apoiado por outro “azarão” nas eleições gerais: Jair Bolsonaro apostou no antipetismo, no combate à corrupção e na necessidade da reforma da máquina pública como armas de persuasão do eleitor. Com diferenças: ele era realmente iniciante, enquanto o capitão proibido de frequentar a escola de formação de majores, ao contrário, disputou a Presidência após dois anos na Câmara Municipal do Rio e 28 na Câmara dos Deputados. De lambujem, este ainda exibia na bagagem um filho deputado estadual que se tornaria senador, outro, reeleito deputado federal e mais um, vereador desde os 17 anos. Toda a descendência tem sustento garantido sem demissão e perda de renda. E com foro privilegiado.

Ambição de ambos e amadorismo do ex-juiz os separaram. Mesmo encarando evidências cabulosas de participação e proteção em esquema de peculato nos gabinetes de dois filhos e no próprio, administrados por ex-colega na brigada de paraquedistas do Exército, o subtenente PM do Rio Fabrício Queiroz, que protagoniza inquérito no Ministério Público do Estado (MP-RJ) em que figuram depósitos vultosos em dinheiro vivo de um chefão de milícia e empresa que agenciava préstimos de pistoleiros profissionais, o capitão PM do Rio Adriano Magalhães da Nóbrega.

Tudo isso, contudo, está imerso num mar tão poluído quanto a Baía da Guanabara, de dejetos morais que não vêm à tona talvez por causa do peso do material orgânico disponível. Sua reação estúpida a questionamentos sobre depósitos de pelo menos R$ 89 mil reais feitos pelo operador do sistema e sua mulher, Márcia Aguiar, em contas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, é tratada de forma jocosa por seus asseclas, como o suspeitíssimo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, e com cínico descaso pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia, que mantém em gaveta trancada mais de 30 processos de impeachment.

Sem capivara similar, Witzel embriagou-se com o ineditismo de seu sucesso eleitoral e apostou todas as fichas em charme inexistente para afundar num pântano que não cuidou de evitar. Como os Bourbons desprezados por Talleyrand, ele fez questão de repetir tudo o que cinco de seus antecessores no Palácio Guanabara fizeram de errado, entre eles o recordista preso por pilantragem, Sérgio Cabral, Mas não deu a mínima atenção aos péssimos resultados penais colhidos pelo inspirador. Como se fartou de citar o copioso noticiário sobre o caso, é acusado de ter lavado dinheiro na contabilidade do escritório de advocacia da mulher, Helena Witzel, assim como foi feito antes com Adriana Ancelmo. As investigações também descobriram que, a exemplo de Cabral, os aliados de Witzel usaram doleiros do Uruguai para movimentar os recursos do esquema. O sistema incluiu ainda cofres e viaturas de uma transportadora de valores, a Fenixx, para guardar o dinheiro, repetindo mais uma vez o grupo de Cabral, que recorria aos serviços da transportadora TransExpert, evitando com isso que o dinheiro passasse pelo sistema bancário oficial. Essa foi a fórmula usada por Cabral e repetida por Witzel para receber e depositar propinas em dinheiro vivo. Método, aliás, similar ao de que é acusado um de seus maiores apoiadores na campanha e hoje inimigo mortal, Flávio, o primogênito de Bolsonaro.

Até agora, contudo, todas as evidências que pesam contra o ex-aliado de campanha, produzidas e vazadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), não causaram o efeito explosivo das revelações da Operação Placebo, que ainda tem a agravante de ter desvendado a malversação de verbas empregadas no combate à pandemia de covid-19. Pois isso adiciona desumanidade à falta de prática e ao desleixo estúpido. O previsível desenrolar dos acontecimentos é a perda do cargo de Witzel retirar de suas mãos o único trunfo importante para enfrentar o inimigo poderoso na Federação: a direção do MP-RJ, que vai ser substituída em janeiro de 2021. A troca pode explicar, embora não justifique, a comemoração da famiglia Bolsonaro da desgraça do paraquedista que não soube esperar sua vez no topo da nova carreira.

Por enquanto, a única carga d’água capaz de alterar o sabor pleno do chope da vitória do aliado que virou inimigo é a prisão do pastor Everaldo Dias Pereira, acusado pela Operação Lava Jato de ter recebido R$ 6 milhões da Odebrecht para dar uma mãozinha amiga a Aécio Neves (PSDB) num debate presidencial na TV em 2014. Ou seja, dois anos antes de ter batizado Bolsonaro (o que também faria com Witzel) no Rio Jordão e quatro antes da eleição dos dois. Mas quem vai prestar atenção nisso? Os bolsonaristas ditos de raiz, ou seja, que vivem enterrados no próprio fanatismo, acreditam piamente que quem o povo elege nunca mais pode perder o mandato, a não ser na eleição seguinte. Embora seu “mito” (ou seja, minto) tenha enterrado os eleitos Collor e Dilma com seus votos e agora trate de sepultar Witzel, eleito com seu apoio em troca de apoiá-lo mesmo tendo a ele faltado a total garantia de seu direito de defesa.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 31 de agosto de 2020)

Para ler no Blog do Nêumanne, Politica, Estadão, clique aqui.


Warning: Illegal string offset 'class' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 78

Warning: Illegal string offset 'alt' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 79

Warning: Illegal string offset 'title' in /home/storage/2/10/42/neumanne2/public_html/novosite/wp-content/themes/neumanne/epanel/custom_functions.php on line 80

Artigo no Estadão desta quarta-feira: Sorte, a fada madrinha do subtenente PM Queiroz

José Nêumanne

Quantos viveram na periferia do Rio,

foram ao STF e ganharam habeas corpus?

O mineiro Fabrício Queiroz não dispõe de uma moeda número um do Tio Patinhas, não nasceu em berço de ouro nem pertence à seleta casta dos gatunos da politicagem e da burocracia. Nem do foro privilegiado, que evita penas. Sua sorte foi cruzar com o capitão Jair Bolsonaro na Brigada dos Paraquedistas da Vila Militar do Exército, no Rio de Janeiro. Não pode ser acusado de calculista: em 1984 nada prenunciava o futuro poder político do amigo, cuja carreira militar seria interrompida quatro anos depois. Mesmo tendo sido absolvido por nove a quatro pelo Superior Tribunal Militar (STM) da acusação de terrorismo por ter planejado atentados a bomba contra quartéis e a adutora do rio Guandu. O deslize levou o general Leônidas Pires Gonçalves a proibi-lo de continuar cursando a Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao) e isso o impediu de ser promovido a major. E inspirou o ex-presidente Ernesto Geisel a chamá-lo de “mau militar”, que “desejava um golpe”, em depoimento publicado em livro organizado por Maria Celina d’Araújo e Celso Castro, da Fundação Getúlio Vargas, em 1993.

Então o capitão se aventurava por um campo que seria mais profícuo para seu amigo do que a PM do Rio de Janeiro: a política. Em artigo assinado na revista Veja em 1986, O salário está baixo, reivindicando melhora do próprio soldo, Jair Bolsonaro deu o pontapé inicial no jogo sujo da velha política. Da vereança no Rio, herdada pela ex-mulher Rogéria Braga e pelo segundo filho, Carlos, então com 17 anos, iria para a Câmara dos Deputados, onde militou no baixíssimo clero por 28 anos até ludibriar a opinião pública e chegar à Presidência da República, montado em antipetismo, combate à corrupção, à criminalidade e aos privilégios de parlamentares e executivos da máquina pública, bandeiras abandonadas para voltar ao cômodo abrigo do foro para ele e os três filhos adultos, garantido pelos privilégios da casta que sufoca o País.

Assim, Queiroz foi premiado com um bom lugar à sombra, definido pelo ex-aliado Major Olímpio (PSL-SP) como “gerente financeiro” da famiglia presidencial. A concessão do habeas corpus desautorizando a ordem do ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, incorporou esse “ofício” de aderente do clã do mais poderoso da hora. Para desautorizar o relator do STJ o eterno prevento do STF pretextou falta de contemporaneidade em suas tentativas de destruir provas e ameaçar testemunhas, denunciadas pelo Ministério Público (MP) do Rio. E desprezou a mesma exigência, feita por Fischer, para atestados médicos idôneos de sua condição de enfermo, que se jactava de festinhas no falso escritório de advocacia de Frederick Wassef, então advogado do primogênito do capitão paraquedista. Além de ter sido flagrado com uma lata de cerveja na varanda do apartamento que lhe serve de prisão. O foro de aderente explica acesso e sucesso do pedido de um suspeito cuja classe social não predomina nas estatísticas dos requisitantes de habeas corpus no “pretório excelso”. E estende-se à mulher, que, foragida, só voltou para casa após a benemérita prisão domiciliar com tornozeleira concedida pelo presidente do STJ, João Otávio Noronha, notório pretendente à quarta vaga das duas que serão preenchidas pelo presidente de plantão.

Talvez ela não se deva à facilitação da fidelidade do acusado pelo MP do Rio de operar esquema de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa do “chefão” desta, Flávio Bolsonaro. Mas a uma guerra que Mendes iniciou quando o ex-juiz da Operação Lava Jato, Sergio Moro, ousou condenar tucanos. O inimigo mortal do latrocínio socialista tornou-se, então, feroz detrator dos “lavajatistas”, termo  cunhado por Augusto Aras, o mais recente oficial do exército que, no comando dos três Poderes da República, labuta na tarefa de permitir um eventual segundo turno da eleição presidencial de 2022 entre Bolsonaro e Lula, sem Moro.

A reputação deste sobreviveu ao conta-gotas ácido do site The Intercept Brasil e aos petardos do “gabinete do ódio” instalado a 30 metros do escritório do presidente. Mas agora a munição do paredão aguarda uso no paiol do STF, sob vigilância de Toffoli, Lewandowski e Mendes. Caso falhe a eventualidade de condenar a parcialidade de Moro, que poderá abrir caminho para a licença para Lula disputar o pleito pessoalmente ou por prepostos, prepara-se no Congresso, sob as bênçãos de Alcolumbre e Maia e o medo de punição da caterva de Centrão, PT e outros pretendentes ao tiro de misericórdia, a quarentena de oito anos para juízes e procuradores disputarem eleições. O detalhe da desfaçatez é ser esse prazo idêntico ao dado a bandidos condenados.

A volta de Bolsonaro ao Centrão, criado por Eduardo Cunha para depor Dilma, consagra-se na escolha de Ricardo Barros, ex-líder de Fernando Henrique, ex-vice-líder de Lula e Dilma e ex-ministro (da “Saúde”) de Temer, embaixador da caridade bolsonarista à mágica e trágica Beirute. Na escolha pesou sua militância declarada pela impunidade sabuja.

Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na pag. A 3 do Estado de S. Paulo da quarta-feira 19 de agosto de 2020)

Para ler no Portal do Estadão clique aqui.

Página 19 de 109«...510...1718192021...2530354045...»
Criação de sites em recife Q.I Genial

Deprecated: Directive 'track_errors' is deprecated in Unknown on line 0