Site oficial do escritor e jornalista José Nêumanne Pinto

Jornalismo


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No Blog do Nêumanne: Não há deuses nesta tragédia

Nesta peça sem heróis, as almas enfermas

só querem piorar as doenças de todos

O presidente Jair Bolsonaro acaba de levar um pito do decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, por ter devolvido ao Congresso cópia de medida provisória (MP) ali antes derrubada. Ele próprio reconheceu que havia errado, embora tenha atribuído a iniciativa a um assessor do qual não declinou o nome. Antes disso havia encaminhado ao mesmo destinatário outra MP, transferindo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Economia para o da Justiça. E os parlamentares o derrotaram, mantendo a inteligência financeira subordinada ao primeiro. Agora resolveu desviar aquele órgão para o Banco Central (BC). Um vaivém descabido, dirá qualquer brasileiro sensato. Mas o chefão não terá violado a Constituição. O Congresso é que poderá alegar que não há urgência, já que a subordinação do Coaf foi decidida faz muito pouco tempo.

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No Blog do Nêumanne: A ‘supertele’ de Lula quebrou

Telefônica Oi, “campeã nacional” do PT, em que o BNDES investiu R$ 15 bilhões, informou à Anatel que não tem dinheiro para cumprir contrato, e rombo de R$ 65 bilhões pode parar no bolso do pobre

Situação das contas da Oi piora e Anatel estuda intervenção, avisou o Estado em manchete da primeira página de sexta-feira 16 de agosto. Segundo o furo de reportagem de Renata Agostini e Mateus Vargas, de Brasília, o diagnóstico da situação da Oi, apresentado à cúpula da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na semana passada, indicou que o dinheiro em caixa da operadora chegou ao “mínimo necessário”. Nada há a ser feito, a não ser cassar a concessão dada aos acionistas da telefônica e pô-la a cargo de Salim Mattar para leiloá-la a interessados o mais rápido possível. Só assim o rombo de RS$ 65,4 bilhões produzirá o efeito menos doloroso possível para o bolso dos pagadores de impostos do Brasil. O resto é lorota de espertalhão para livrar de responsabilidade os beneficiários do negócio em detrimento do Tesouro Nacional.

As projeções, às quais o Estado teve acesso, foram debatidas em reuniões realizadas na terça 13 de agosto e na quarta 14 na agência, que é responsável por regular o setor, das quais participaram cerca de 20 pessoas, incluindo integrantes da diretoria e o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais. A apresentação, feita à cúpula da agência, incluiu o alerta de que, se a Oi não reagir, a interrupção da operação por falta de caixa tem “probabilidade alta” e apresentará impacto “muito alto” no sistema de telecomunicações.

Na divisão do bolo da estatal Telebrás em três empresas, durante o governo Fernando Henrique, sob égide de Sérgio Motta e de Luiz Carlos Monteiro de Barros, então ministro das Comunicações, a Brasil Telecom ficou com uma das três fatias da divisão em 2008. E a história da Oi começou mesmo com a estratégia do financiamento público do BNDES a empresários escolhidos a dedo pelo então presidente Lula, do PT, para criar o que ele com seu linguajar futebolístico, apelidou de “campeões nacionais”. Entre estes estavam Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, da La Fonte e do Shopping Iguatemi, mui amigo do petista, embora este tivesse como inimigo figadal seu irmão Tasso.

blog19ago

Em 2008 o petista patrocinou a aprovação do Marco Regulatório das Telecomunicações no Brasil, lei para promover no setor o que o marketing lulista consagrou como as tais “campeãs nacionais”, entre elas a “supertele”. A lei lembrava um fato pitoresco da História do Brasil: Getúlio Vargas assinou em 1943 um decreto-lei para permitir a seu desafeto e aliado Assis Chateaubriand exercer pátrio poder sobre a filha Tereza, e este passou a ser conhecido como “Lei Terezoca”. A criação da “supertele” pode, então, merecer o apodo de “Lei Telezoca” do padim Lula.

Agora vem aí a “supertele” Oi voltando a assombrar o Brasil.

A telefônica, que não era mais resultante da sociedade de Andrade e Jereissati, acumulou dívidas de R$ 65 bilhões e 400 milhões e obteve a segunda maior recuperação judicial da História, aprovada em 2017,  pelo juiz da  7.ª Vara Empresarial do Rio, Fernando Cesar Ferreira Viana, um megacalote que só viria a ser superado no ranking nacional pela Odebrecht, que em 12 de junho passado recebeu prebenda ainda maior, no valor de R$ 83 bilhões e 267 milhões do juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1.ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, no prazo recorde de um dia após o pedido.

Na semana passada a Anatel, em nota, desmentiu que estude a declaração de caducidade, que seria a tomada da concessão da telefonia fixa da Oi, e sua venda a um novo grupo ou empresa. O Estado informou que um novo marco regulatório das teles – truque idêntico ao de Lula há 11 anos – forneceria lenha para a Oi fazer fogueira com os bilhões pilhados direto do bolso dos pagadores de impostos. Mais uma vez, como em 2008, esse nome pomposo esconde uma maracutaia excepcional. Traduzindo: o governo ainda estuda a doação dos bens públicos que a Oi teria de devolver ao poder público. E lá vem o governo Bolsonaro ameaçando ressuscitar de novo acionistas que jogaram no lixo privilégios de negócios feitos a juros de pão de ló, como também se pretendeu fazer no governo Temer, sob os auspícios do presidente da Anatel à época, Juarez Quadros.

Trata-se de um escândalo inominável. Em vez de abrir a caixa-preta do BNDES, como o presidente Jair prometia em campanha, o banco público seria instado a esperar em silêncio no fim da fila dos credores (ou seja, todos os cidadãos brasileiros, cuja propriedade o capitão administra) sua vez de receber, que nunca vai chegar.

 Lula, Luciano Coutinho, presidente do banco à época em que o presente foi dado aos compadritos do petista, donos e diretores da Oi, que usufruíram o presente e, ainda assim, o quebraram e jogaram no lixo, deveriam ser punidos, jamais recompensados.

O escândalo não termina aí.

Eurico Teles, presidente da Oi, que atuou junto ao juiz Fernando Cesar Ferreira Viana para a aprovação da recuperação judicial, foi denunciado pelo Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul em 2014 e se tornou réu em 2017 por formação de quadrilha, estelionato, patrocínio infiel e lavagem de dinheiro.  O esquema, segundo relatou a Polícia Federal (PF), consistia em subornar um escritório de advocacia que defendia 13 mil clientes em ações contra a Oi em troca de encerramento dos processos judiciais. Ou seja, Eurico e a Oi compravam o defensor de seus clientes insatisfeitos. Deu no que deu: a Oi faliu, devendo R$ 65,4 bilhões  aos credores, principalmente ao trabalhador brasileiro.

Pois só do BNDES a Oi tomou R$ 15 bilhões de empréstimos, que, com a recuperação judicial, como no caso da Odebrecht, não serão ressarcidos. E esta será mais uma bola nas costas de um yuppie da Tijuca, Gustavo Montezano, que ocupou a presidência do BNDES, sempre infiel depositário do dinheirinho suado do cada vez mais apropriadamente chamado de “contribuinte”, e, tudo indica, não vai fazer nada. Não tem idade nem competência para lidar com essas cobras criadas todas. E é um egresso do mercado, para onde voltará no dia em que concluir que não há caixa-preta a abrir e irritar o capitão no comando, que o defenestrará sem uma palavra de consolo do padrinho Paulo Guedes. Pois este sabe que, não sendo um “presidente banana”, mas um “presidente abacaxi”, o chefe manda e faz questão de confirmar com chumbo do Diário Oficial.

Na verdade, a Oi poderia – e deveria – servir de exemplo para um novo marco no Brasil na questão de recuperação judicial, em vez de ter seus acionistas e dirigentes beneficiados por mais uma “Lei Telezoca”. Afinal, a caixa-preta de recuperação judicial também está aí para ser aberta. É inaceitável a recuperação judicial de empresas, como Oi e Odebrecht, que corrompem o sistema e não são punidas do ponto vista patrimonial.

Emílio Odebrecht contou em delação premiada, sem rodeios, que sua empresa pagava propinas desde a época de seu pai, Norberto Odebrecht. Ou seja: é uma tradição secular de corrupção, passando de geração em geração. O ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas apresentou, em seu voto favorável ao bloqueio de bens da família Odebrecht, a solução, que é preservar a atividade empresarial e os empregos, punindo e afastando os donos da companhia. No caso de empresa envolvida em corrupção, é uma necessidade afastar os donos, os sócios. Caso contrário, vão continuar fazendo, o que fazem e fazem com maestria, pois são os melhores do mundo nessa modalidade:  corromper, conforme Dantas defendeu em entrevista no Blog do Nêumanne.

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Na sexta-feira 16, ficamos privados da companhia agradável e da conversa ácida, lúcida e implacável do grande brasileiro Roberto Gusmão. Ele entrou para a política como líder estudantil, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). E fez História ao se aproveitar de brecha da Constituição liberal de 1945 (1946?), que autorizava o vice de uma chapa a se eleger com o presidente da outra, e inventar a chapa Jan-Jan (Jânio Quadros, apoiado pela UDN, e João Goulart, o Jango, delfim de Getúlio Vargas e do PTB). À época, aproveitou-se da confusão udenista, que não achou um vice para Jânio chamar de seu. Empresário, dono de uma cervejaria em Ribeirão Preto, incorporada pela Antarctica, da qual foi diretor, voltou à política na secretaria do governo de Franco Montoro, posto em que articulou a chapa Tancredo Neves-José Sarney no colégio eleitoral. Participei de jantares no restaurante Four Seasons com ele e Mauro Guimarães. Sou o único sobrevivente. Saudade dos três  intolerantes!

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne segunda-feira 19 de agosto de 2019)

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Nêumanne entrevista Rubens Barbosa

Brasil precisa avançar

na agenda das reformas,

aposta embaixador

 

Rubens Barbosa acha que sem reduzir papel do Estado e desburocratizar, Brasil não terá como aproveitar preferências com abertura do mercado europeu

 

 

Autorizado pela experiência adquirida como embaixador do Brasil em Londres e Washington, Rubens Barbosa acredita que “o acordo comercial Mercosul-União Europeia pode trazer, em médio prazo, em dois ou três anos, quando entrar em vigência, resultados bastante positivos para as exportações brasileiras, se melhorarem as condições de competitividade da economia e do setor produtivo nacional”. Protagonista do Nêumanne Entrevista da semana no blog, ele avisa que “para a redução do chamado custo Brasil devemos avançar na agenda de reformas, de redução do papel do Estado e da desburocratização. Sem isso dificilmente o setor industrial poderá beneficiar-se das preferências que receberá com a abertura do mercado europeu”. Barbosa prevê ainda que, seja qual for o resultado da eleição na Argentina, o Brasil não se afastará do vizinho, ao contrário do que parece que o faria por conta dos insultos trocados recentemente entre o presidente Jair Bolsonaro e o vencedor das eleições prévias de 11 de agosto, o peronista Alberto Fernández, “por determinismo geográfico”. O diplomata adverte ao governo brasileiro que o meio ambiente é um tema que entrou na pauta internacional para ficar.

Barbosa com Celso Lafer e Lídia Goldenstein, com mediação de Eliane Cantanhede, na série de debates sobre a reconstrução do Brasil na Unibes Cultural. Foto: Amanda Perobelli

Barbosa com Celso Lafer e Lídia Goldenstein, com mediação de Eliane Cantanhede, na série de debates sobre a reconstrução do Brasil na Unibes Cultural. Foto: Amanda Perobelli

Com título de mestrado da London School of Economics and Political Science (Escola Superior de Ciências Econômicas e Políticas de Londres) obtido em 1971, o embaixador Rubens Barbosa ocupou muitos cargos no governo brasileiro e no Ministério das Relações Exteriores: secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda; representante Permanente do Brasil junto à Associação Latino-Americana de Integração (Aladi); subsecretário-geral de Integração, Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores e coordenador da seção brasileira do Grupo do Mercosul. Foi embaixador do Brasil em Londres de janeiro de 1994 a junho de 1999 e em Washington de junho de 1999 a março de 2004. Ocupou o cargo de presidente da Associação dos Países Produtores de Café (APPC), em Londres, por cinco anos.

Barbosa acha que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia poderá abrir em médio prazo boas perspectivas para o Brasil. Foto: Daniela Ramiro

Barbosa acha que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia poderá abrir em médio prazo boas perspectivas para o Brasil. Foto: Daniela Ramiro

O embaixador Barbosa escreve regularmente no jornal O Estado de S. Paulo e é autor de diversos livros, o último dos quais Um Diplomata a Serviço do Estado (2018). Rubens Barbosa é hoje consultor de negócios e ocupa, entre outros, os cargos de presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp e de diversos outros conselhos. É também presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (Gacint) da USP, presidente emérito do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (Cebeu) e editor responsável da revista Interesse Nacional.

 

Nêumanne entrevista Rubens Barbosa

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No Blog do Nêumanne: Os delírios de poder de Toffoli

Presidente do STF incorporou sem autorização dos eleitores chefia de poder moderador inexistente na República e se atribui condição de pacificador de eventuais conflitos entre Legislativo e Executivo

Em 23 de outubro de 2018, o advogado José Antônio Dias Toffoli tomou posse como 162.º presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cumprindo uma praxe secular de rodízio entre os membros do colegiado que comanda o Poder Judiciário do País. O mais novo entre os 11, será o último a se aposentar, tendo, portanto, a rara possibilidade histórica de voltar ao posto de chefia. Em sã consciência ninguém podia esperar dele grandes feitos no campo jurídico. Em termos de “notório saber” (uma das duas exigências para ocupar o cargo, sendo a outra o “comportamento ilibado”), o que mais chama a atenção em seu currículo é ter sido reprovado duas vezes em concurso para a magistratura na primeira instância. Sem experiência alguma como juiz ou procurador (caso da maioria dos membros do plenário), nunca foi sequer um advogado que tenha brilhado em júris ou participado de grandes defesas perante a própria Corte. Desde estudante até o posto máximo sua experiência se limitou à assessoria jurídica do Partido dos Trabalhadores (PT) em bancadas, na assessoria jurídica da Casa Civil e na Advocacia-Geral da União sob as ordens de José Dirceu e Lula, ambos confinados em celas cumprindo penas por corrupção e lavagem de dinheiro.

No entanto, a Nação logo tomou conhecimento de suas ambições de poder e fama. Num quadro institucional tumultuado, com o País dividido entre esquerdistas fanáticos apeados do poder sob acusação de chefiarem e participarem do maior escândalo de corrupção da História e direitistas enfurecidos empenhados em apagar os gemidos de dor e rastros de sangue de uma ditadura militar sanguinária, acenou com um guardanapo de convescotes da República em Brasília falando em pacto. Talvez confiante de que sempre haverá algum “pato” para acreditar em fábulas de conciliação que animam os debates políticos na Pátria dividida ao meio pelo responsável por toda a sua carreira profissional, da solenidade de formatura até o raso Olimpo, que passou a chefiar, atirou-se ao afã de usar o martelo da última decisão judiciária para conquistar paz sem batalha. Foi o último a sair da residência oficial da presidência da Câmara dos Deputados no churrasco para o qual o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, ungido por quase 58 milhões de votos, carregou uma plêiade de auxiliares para exercer sua nova condição de mandachuva, após 28 anos de sombra no baixíssimo clero do Legislativo, com a parede de seu gabinete povoada de fotos de presidentes do regime militar. Nos piqueniques de luxo do Cerrado ou nos salões de hotéis de luxo do Ocidente capitalista, a lorota foi aplaudida com fervor, confiança e ignorância.

A crença na própria infalibilidade, contudo, levou-o a delírios perigosos, muito além do papo-furado de guisar patos dos lagos palacianos de Brasília. Após o fim do recesso de repouso gozado pela grei, o presidente começou o novo ano jurisdicional inventando uma investigação penal contra quaisquer fake news e denunciações caluniosas e difamantes, impondo uma mordaça a cada cidadão que ousar criticar qualquer ministro do STF. Num extremo esgar autoritário, nomeou o colega Alexandre de Moraes como relator, sem sortear o posto nem consultar nenhum dos dez colegas. No ímpeto de corresponder à confiança que nele foi depositada, este decretou a censura à revista Crusoé, do site O Antagonista, por haver revelado que o conviva da mesa ao lado tinha o codinome de “amigo do amigo do meu pai” na lista de propinas da Odebrecht, conforme delação premiada de um dos donos da empreiteira corrupteira, Marcelo Odebrecht. O mundo desabou sobre a luzidia calva do doutor e ele recuou. Mas nunca pediu desculpas pelo despautério. E mais: o citado ainda teve o topete de garantir que nunca houve censura no caso, como se, além de pacificador, mais do que Caxias, e conciliador aos modelos dos mineiros Bernardo de Vasconcelos e Tancredo Neves, ele estivesse acima da lei, das ideias e dos fatos. Mais até do que um condestável, como o gaúcho Pinheiro Machado, no governo do marechal Hermes da Fonseca.

Fiel ao figurino desenhado por seu colega serviçal do PT Rogério Favreto, do TRF-4, que tentou tirar Lula da “cela de estado-maior” da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba num plantão de fim de semana, Toffoli disparou mais uma decisão monocrática para radicalizar a mordaça protetora dos membros da grei. De uma canetada só, atendeu ao capricho paterno de Bolsonaro, proibindo o Ministério Público do Rio de Janeiro de levar adiante investigação sobre o primogênito presidencial, suspeito de “rachuncho” na Assembleia Legislativa fluminense. E em 1.º de agosto, sem ouvir ninguém, Moraes suspendeu apurações da Receita sobre ministros do Supremo, blindando, além do senador Flávio Bolsonaro, mais 132 pessoas, incluindo autoridades que estavam na mira do órgão. Considerou haver “graves indícios de ilegalidade no direcionamento das apurações em andamento” e “escolha subjetiva de fiscalização dos contribuintes”. Entre eles, a mulher do colega Dias Toffoli, Roberta Rangel, e a de Gilmar Mendes, Guiomar. E mais: os auditores da Receita responsáveis pela investigação, Wilson Nelson da Silva e Luciano Francisco de Castro, foram suspensos de suas funções.

A tentativa mentirosa de negar a censura foi perpetrada na reportagem de capa da revista Veja, em que o doutor nada douto foi tratado como o fiel da balança que tem num prato o peso dos votos de Bolsonaro e no outro a soma dos delitos criminais de que são acusados deputados.

Na citada entrevista à Veja, Toffoli atribuiu a seu “pacto” à aprovação em dois turnos na Câmara dos Deputados da reforma da Previdência: segundo ele, o eventual destravamento se teria devido ao arquivamento da CPI da Lava Toga. Sua intervenção para evitar impeachment — que, na verdade, nunca foi cogitado –, segundo Toffoli, só não teria ocorrido por haver ele contido uma insatisfação generalizada, até mesmo entre os militares. A revista registrou que, conforme Toffoli, o julgamento que pode libertar Lula será anunciado de supetão para evitar manifestações.

A manchete da Folha de S.Paulo de segunda-feira 12 de outubro, baseada num estudo da Fundação Getúlio Vargas Direito, de São Paulo, STF arquiva todos os processos de suspeição contra si, esclarece muito mais essa questão toda do que o ar majestático de barão do Império do presidente da instituição na capa da revista. A pesquisa revela que, “desde 1988, o Supremo Tribunal Federal arquivou todos os pedidos de impedimento ou suspeição contra seus ministros sem levá-los ao plenário, além de ter violado o regimento em ações sobre imparcialidade”. Na semana passada, Ricardo Lewandowski mandou arquivar ação da Rede Sustentabilidade contra a proibição de compartilhamento dos dados do Coaf, do Banco Central e da Receita Federal. Mais uma…

Aliás, a respeito do tema, o especialista em combate à corrupção Modesto Carvalhosa, professor de Direito da USP, publicou um post nas redes sociais conclamando os auditores das três instituições a não obedecerem à ordem de Moraes, que, segundo o jurista, viola o artigo 22 do Código Penal. “Cabe, portanto, aos servidores encarregados das funções de combate ao crime organizado, continuar exercendo plenamente suas funções de inteligência e de apuração de crimes financeiros, nos estritos termos do art. 15 da Lei sobre Lavagem de Dinheiro de 1998 e dos arts. 2.º e 9.º da Lei de Sigilo Bancário de 2001, remetendo-os à Polícia Federal e Promotoria Pública”, escreveu. E completou: “As decisões de Toffoli e Moraes foram reconhecidas como crimes de responsabilidade pela Procuradoria-Geral da República em 6 de agosto, pois ferem os princípios da moralidade, impessoalidade e legalidade e são objetos dos pedidos de impeachment protocolados no Senado contra os dois ministros. Por outro lado, os servidores suspensos em decorrência dessas criminosas ‘providências’ da dupla do STF têm o direito de impetrar mandado de segurança e habeas corpus perante a Justiça Federal para impedir o seu afastamento. O Sindifisco, por sua vez, tem legitimidade de ajuizar ação popular para que os dois Ministros sejam enquadrados na Lei de Improbidade Administrativa.”

Quando Carvalhosa publicou esse post, a Veja ainda não circulava nas bancas e entre assinantes. O que dizer agora, depois de Toffoli ter destampado a caixa de Pandora com declarações do arco da velha?

*José Nêumanne Pinto. Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 12 de agosto de 2019)

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Nêumanne entrevista Cézar Benevides

Ideologia direciona

ensino de ciências humanas,

diz ex-reitor da UFMS

Para Benevides, instituições da República estão sob julgamento de parcela representativa da sociedade brasileira e toda censura é condenável

 

Para o ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Cezar Benevides, as universidades públicas brasileiras estão “preocupadas, em sua maioria, com o filtro de acontecimentos vinculados a 1964. Infelizmente, a ideologia direciona o conhecimento científico no âmbito das ciências humanas”. Personagem da série Nêumanne Entrevista neste blog esta semana, o professor respondeu de forma prudente, mas nem por isso, deixou de se posicionar quando lhe perguntei se concordava com o ministro Gilmar Mendes, do STF, que chamou os procuradores da Operação Lava Jato de “organização criminosa”, ou com a resposta que a chefe dos procuradores deu, comparando esse tipo de reação com “estado de exceção: “Fico com a sensatez da procuradora da República, sra. Raquel Dodge”. E disse mais: “Toda e qualquer forma de censura é condenável. A tradição jurídica brasileira se apoia, de maneira geral, na denominada ‘teoria dos frutos da árvore envenenada’. Tais frutos proliferam na atualidade. Temo que essa tendência seja abandonada, contaminando o pensamento e a prática jurídica do País. Os sinais não podem ser desprezados”.

No bate-boca entre o ministro do STF Gilmar Mendes e a procuradora-geral da República Benevides deu razão à sensatez de Raquel Dodge. Foto: Acervo pessoal

No bate-boca entre o ministro do STF Gilmar Mendes e a procuradora-geral da República Benevides deu razão à sensatez de Raquel Dodge. Foto: Acervo pessoal

Cezar Benevides nasceu em João Pessoa em 15 de janeiro de 1954. Estudou na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena, de 1971 a 1973, na Academia da Força Aérea de 1974 a 1975, na Academia Militar das Agulhas Negras de 1976 a 1978 e no curso de Engenharia. Foi licenciado em Ciências Sociais pela Unifil, em Londrina, Paraná. É professor titular aposentado da UFMS desde 2014. Foi pró-reitor de ensino de graduação de 2000 a 2008 e reitor em exercício em diversas ocasiões. Integrou missões no Ministério das Relações Exteriores e no Ministério do Exército. Foi professor visitante da FFLCH-USP, onde realizou o curso de doutorado e o estágio de pós-doutorado. Cezar Benevides cursou o mestrado em História Social na Universidade Federal do Paraná. É membro do Conselho de Administração do Hospital São Julião, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, em Curitiba, desde 1984. E tem vários trabalhos publicados no Brasil e no exterior.

 

Nêumanne entrevista Cézar Benevides

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Nesta quarta-feira no Estadão: Um tostão furado de fumo podre

O que Bolsonaro diz nada vale no minuto seguinte,

seja por ignorância ou esperteza

Palavra de rei não volta atrás. Esse brocardo do velho regime monárquico sobrevive na boca do povo na República, mas nunca foi exigido dos ocupantes dos cargos mais altos do governo o compromisso inamovível da estabilidade que antes era um dever real.

No caso do Brasil contemporâneo, a instabilidade resulta da completa desmoralização do conceito de divisão dos Poderes cunhado pelo barão de Montesquieu ainda na vigência do Velho Regime, que antecedeu a Revolução Francesa, no século 18. O Legislativo se fortalece na situação de poder real sem a devida autorização constitucional para substituir o Executivo e este se dá ao desplante de violar a Constituição. O Judiciário exime os seus próprios mandatários do mais alto escalão de prestarem conta de seus deveres, jogando no lixo o mais pétreo de todos os conceitos da democracia: o da igualdade de todos os cidadãos perante o talante da lei.

No impeachment de Dilma Rousseff, um acordo entre os então presidentes do Senado, Renan Calheiros, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, mandou às favas o princípio constitucional da obrigação do chefe de Estado deposto de passar oito anos sem cargo público. Em nome do direito sagrado da petista a ser “merendeira da escola”, a ex-“presidenta” foi dispensada da obrigação constitucional, candidatou-se ao Senado por Minas e foi punida pelo eleitor com o último lugar na contagem dos votos.

O atual presidente do STF, Dias Toffoli, extrapolou muito suas funções ao decretar punição rigorosa da lei a qualquer cidadão que criticar publicamente os membros de sua grei. Do alto de sua delirante onipotência, ele indicou o colega Alexandre de Moraes para relatar o inquérito punitivo, sem sorteio nem consulta aos pares do plenário. No Brasil de hoje, decreto de presidente do STF não se discute, cumpre-se, como diziam os políticos de antanho em relação aos juízes em geral. O relator censurou a revista Crusoé por ter publicado notícia oficial considerada ofensiva à honra de el-rey.

O mundo desabou sobre Moraes e a censura caiu. Mas a decisão abusiva, monocrática e totalitária, com data de extinção prevista durante o infame “recesso branco” dos supremos magistrados, foi prorrogada até novembro. Em 1.º de agosto, agora mês de nosso maior desgosto, o inquérito 4.781 do STF ganhou novas e mais graves consequências. Decretou a condenação de qualquer cidadão que ouse insultar os supremos no velho e sagrado sigilo telefônico. E mais: suspenderá do cargo e do serviço público o servidor de Banco Central, Coaf e Receita Federal que fiscalizar movimentações financeiras da cúpula dos três Poderes. Nem do registro dos abusos de Nero consta ignomínia de tal jaez.

No Brasil, assim como a plebe assistiu ao golpe militar que gerou a República insana, só resta penar “bestializada” (apud José Murilo de Carvalho) sob arroubos tirânicos do advogado reprovado duas vezes em concursos para juiz de primeira instância. No Congresso, paralisado por seus próprios “malfeitos” (apud Dilma Rousseff), ninguém se arrisca a perturbar os deuses imperfeitos do raso Olimpo. Na Câmara, Rodrigo Maia, o Botafogo do propinoduto da Odebrecht, tem a autoridade moral de uma lesma para evitar esta assustadora, mas não surpreendente, tomada de poder pelos togados. No Senado, outra eminência do baixo clero, Davi Alcolumbre, não é besta de chamar a atenção para um Poder que acaba de perdoá-lo por eventuais traquinagens contábeis em eleição, depois do perdão majestático da rainha Rosa Weber.

Um bando de néscios da extrema direita, que se acham no poder porque têm acesso ao regente Carlos, por copiarem suas diatribes no Twitter, ainda acredita na iniciativa do chanceler Eduardo de fechar o STF com um jipe, um cabo e dois soldados. E na inocência do mano Flávio, coveiro da CPI da Lava Toga no Senado. É de matar de rir. Ou de chorar.

Nesta entrada de oitavo mês de governo, o pai deles, Jair, já abusou da própria incapacidade de usar palavras no sentido certo. Não se sabe se é por ignorância ou se é por esperteza. Com o aval de Donald Trump, insiste na ideia de nomear o caçula Eduardo, embaixador em Washington. Não é nepotismo, pontificou. E Trump, em pessoa, ecoou. Rasguem os dicionários, queimem-nos em praça pública, a palavra que denuncia a prática incompatível na República (beneficiar parente com dinheiro público) virou hipocrisia. Assim como qualquer pessoa que considere alguém do STF passível de fiscalização tributária, o cristão que discordar do capitão e seus filhotes foi, é e será sempre hipócrita. Será insultado de hipócrita, por exemplo, quem não acha certo o clã ter nomeado 102 garrotes mamões das tetas da loba que nutriu Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Trata-se de um recorde de não se orgulhar. Mas se o fato destoa, pior para ele. A “nova política” mata a “velha” de vergonha.

Jair assombrou a Nação dizendo que sente falta de um ministro “terrivelmente evangélico” no STF. Seu advogado-geral, André Mendonça, é o nome que cabe nesse susto. Pastor evangélico e fâmulo de Toffoli. Que importa que tenha dito que a vaga do decano Celso de Mello, a ser aberta em 11 meses, seria de Sergio Moro? Inspira-se em Michel Temer. Verba volant, este escreveu. As de Jair comem alpiste na gaiola.

Ele disse a senadores que queriam manter o Coaf na Justiça que na Economia as diretrizes de Moro seriam mantidas por Paulo Guedes. Mas agora pressiona o ministro da Economia para defenestrar Roberto Leone, presidente do Coaf escolhido pelo ex-juiz. O motivo da demissão seria sua crítica à decisão de Toffoli que, ao proibir o compartilhamento de dados da inteligência financeira, da Receita Federal e do Banco Central, com o Ministério Público e a Polícia Federal, beneficiou o primogênito Flávio.

Como dizia meu avô, a palavra do presidente não vale um tostão furado de fumo podre.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado na Pag. A02 de O Estado de S. Paulo na quarta-feira 7 de agosto de 2019)

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