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Nesta quarta-feira no Estadão: Quando falam em ciência, Bolsonaro saca o revólver

José Nêumanne

Como homem da cobra, presidente vende mezinhas: cloroquina ou ‘pílula do câncer’

 

Nesta era da tecnologia, em que se combatem doenças com penicilina, vacinas e cirurgias corretivas de órgãos usando alta tecnologia cibernética, “homens da cobra” vendem mezinhas caseiras em feiras livres e praças. Não falta quem acredite nas lorotas de redes sociais (vulgo fake news) absurdas, como as que atribuem às vacinas doenças que evitam como se, ao contrário, levassem à morte. Pessoas cultas e respeitáveis adotam superstições – tais como não pronunciar a palavra câncer para evitar tumores malignos – com a naturalidade de quem toma água.

O capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro representa no posto mais alto da República esse pelotão de inimigos figadais (a palavra é exata, porque se refere ao fígado, segundo a poetisa americana Elizabeth Bishop, o órgão que no brasileiro faz as vezes de cérebro) da ciência. A ala de seu governo que se diz ideológica segue, de fato, crendices pré-históricas do tempo do Mito da Caverna, de Platão, como lembrou seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Nele a humanidade vivia presa num buraco, privada da luz solar, vendo desenhos das chamas de uma fogueira na pedra. E disposta a matar a pedradas quem subisse à superfície e levasse a revelação do Sol no céu.

Bolsonaristas autênticos, que fizeram carreata no domingo 12 de abril na Avenida Paulista, interrompendo o trajeto das ambulâncias com doentes graves para os hospitais, berrando a plenos pulmões palavrões impublicáveis, acreditam que a Terra é plana na era das viagens espaciais. E, como criam os dignitários papistas que condenaram o Galileu Galilei do eppur si muove (no entanto se move), imóvel. Idólatras, como os adoradores do bezerro de ouro, desafiando o decálogo do Deus do profeta Moisés no Sinai, amaldiçoam a evolução das espécies de Darwin, adotando o criacionismo do Gênesis. Hoje não dão a mínima para a Fiocruz e, então, pegariam em armas pela revolução contra a vacina da febre amarela, imposta por Oswaldo Cruz com apoio do presidente Rodrigues Alves, que morreria da pandemia da gripe espanhola no começo do século 20, ironia da deusa da História, Clio.

Jair Bolsonaro tem sido um Messias fiel nessa luta contra a ciência. Em março de 2016, enquanto o País debatia o impeachment de Dilma Rousseff, ele liderou o grupo de parlamentares – do qual faziam parte seu filho Eduardo e os petistas Arlindo Chinaglia (SP), médico e líder sindical, e Adelmo Carneiro Leão (MG), professor – em defesa da “pílula do câncer”. Esse foi o caso mais bem-sucedido de picaretagem de charlatão em prol da fosfoetanolamina, mezinha inventada pelo professor aposentado da USP Gilberto Chience (que não se perca pelo sobrenome). Em clima emocional e com celeridade inusitada, contrariando evidências científicas e assumindo o risco de levarem doentes terminais a abandonarem a quimioterapia e a radioterapia, a lei foi aprovada e sancionada por Dilma pouco antes de ser deposta. O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu os especialistas e proibiu a venda da droga. Mas o presidente ainda prega sua liberação, contra a qual o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lutou na Câmara dos Deputados.

Nenhum defensor da “pílula do câncer” relatou algum caso concreto de cura pela panaceia do dr. Chience. Mas, quatro anos depois, o episódio se repete na batalha ideológica entre bolsonaristas e oponentes, como o governador de São Paulo, João Doria, defensores e inimigos da hidroxicloroquina e da cloroquina. O ridículo debate político foi aberto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em irresponsável, como tantas, fala na Casa Branca, em 19 de março. Desde então Bolsonaro é garoto-propaganda da droga, exibindo o produto vendido no Brasil em lives nas redes sociais. E isso provocou tal procura que pacientes que tratam de malária, artrite reumatoide e lúpus, e a tomam sob controle médico, não o acham nas farmácias.

O jornalista Edilson Martins, ex-Pasquim, já teve 26 surtos da febre terçã e contou em perfil no Facebook: “Confirmada a doença, vinha um funcionário da Sucam, nas cidades, diariamente, num jipe, e dava a dose do dia. Extremamente perigosa, a medicação. Sendo grávida, a mulher abortava. Não era concedida ao paciente a prerrogativa de ficar com as pílulas … O diabo do plasmódio atacava, é o que diziam os médicos, principalmente o fígado, derretendo meu sangue, me tornando um amarelão só. Os que sobrevivem, não poucos, têm como consequência, entre outras, impotência sexual e cirrose, já destruída sua capacidade de filtro”.

Além do absurdo de transformar uma terapia não testada, como “a pílula do câncer” e a cloroquina, numa arma mortal de palanque eleitoral, sobrevive a evidência preocupante: eleito por uma grande maioria de brasileiros aptos a votar, terá Jair Bolsonaro permissão para exercer a medicina sem a formação acadêmica exigida em lei? E, o que é mais grave, parodiando o que o marqueteiro de Hitler, Josef Goebbels, dizia sobre a cultura para a área da medicina, ofício de salvar vidas, e imitando a arma com os dedos: “Quando me falam em ciência, saco meu revólver”.

Jornalista, poeta e escritor

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No Blog do Nêumanne no Estadão: O presidente pode mentir para o STF?

José Nêumanne

AGU garantiu por escrito ao Supremo que Bolsonaro cumpre recomendações da OMS e de seu Ministério da Saúde e este desmentiu Mendonça violando a mais importante delas, isolamento social

 

No começo de abril, a Ordem dos Advogados do Brasil abriu ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo para impedir que o presidente da República, Jair Bolsonaro, cumprisse ameaça que fez publicamente de decretar o relaxamento do isolamento social decidido por governadores e prefeitos para evitar a aceleração do contágio do novo coronavírus. Sorteado para relatar o caso, o ministro Alexandre de Moraes mandou ofício à Advocacia-Geral da União (AGU) interpelando se o chefe do governo cumpria, ou não, as recomendações a esse respeito feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, cujo chefe fora nomeado por ele. No sábado 4 de abril, o titular da AGU, André Mendonça, respondeu que sim, seu chefe seguia tais providências.

No entanto, na Quinta-Feira Santa, 9/4, Jair Bolsonaro saiu para passear numa região comercial do Distrito Federal, entrou numa padaria, exigiu ser servido no balcão, o que é proibido pelo decreto do governador Ibaneis Rocha, misturou-se com a aglomeração, também proibida, e fez questão de cumprimentar os circunstantes. Nem ele nem os numerosos membros de sua escolta usavam máscara cirúrgica ou mantiveram a distância regulamentar de dois metros das pessoas que posaram com ele em selfies. No dia seguinte, Sexta-Feira Santa, 10, foi ao Hospital das Forças Armadas e, de lá, a uma farmácia, onde repetiu o ritual e ainda fez uma piada absolutamente incompatível com o momento terrível pelo qual passa o País que governa. Um repórter lhe perguntou o que fora comprar na farmácia. E ele respondeu que teria sido um teste de gravidez.

No dia seguinte, festejado pelos cristãos como Sábado de Aleluia, o ritual foi repetido pela terceira vez seguida. Ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que rompera com ele exatamente pelas divergências entre ambos em torno do isolamento, que chama de “horizontal”, e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, visitando a obra de um hospital de campanha em Águas Lindas, a 56 quilômetros de Brasília, estendeu a mão para uma admiradora beijar.

Ou seja, a resposta do representante judicial da instituição Presidência da República ao STF foi uma desrespeitosa mentira. A questão que fica é: essa agressão sem propósito não merece algum tipo de punição?

Seja qual for a resposta, o relator concedeu liminar à autora da ação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), proibindo o chefe do Executivo de decretar a suspensão de medidas preventivas contra a veloz contaminação do novo coronavírus chinês que vierem a ser adotadas pelos governadores estaduais e prefeitos municipais.

Mas no mesmo Sábado de Aleluia em que o presidente afrontou o governador goiano e o ministro da Saúde, que ele escolheu e nomeou para ocupar uma pasta na Esplanada dos Ministérios, o funcionário que mentiu em nome do chefe ao órgão máximo do Poder Judiciário, teoricamente autônomo, distribuiu no fim de semana da Páscoa uma nota oficial deixando claro que o presidente não cumprirá a ordem. Este mesmo já tinha dito antes que recorreria contra a liminar. Até aí, tudo bem. Está no direito dele. Quanto à ameaça feita pelo advogado-geral da União, ela faz parte de uma narrativa eleitoral de uma disputa a ser realizada em dois anos e sete meses. A nota do pastor e protegido de Dias Toffoli, presidente do STF, será usada para pespegar no peito de João Doria, Wilson Witzel, Ronaldo Caiado e do próprio Mandetta, se necessário, o rótulo de que deixaram os desempregados pela pandemia ao relento. Enquanto o herói da luta contra o desemprego, o presidente que pretende ser reeleito, passaria a ser o novo pai dos pobres, como o foram no passado Getúlio Vargas e Lula da Silva.

Convém acrescentar que André Mendonça – cuja carreira até o topo na AGU foi patrocinada pelo ex-advogado do PT na presidência do STF e do Conselho Nacional de Justiça – é autor de pelo menos um artigo endeusando o ex-presidiário e coordenador de um livro louvando o dr. Toffoli, comemorando os dez anos de sua entrada no “pretório excelso”. A nota da AGU foi divulgada logo depois do anúncio de restrições com que o governador de São Paulo, João Doria, pretende reduzir a fuga dos paulistas do isolamento social seguindo as pregações de chefe de Mendonça,  ou seja. negando o que este tinha garantido estarem sendo seguidas à risca.

 No Domingo de Páscoa, aliás, o presidente da República, desmentindo mais uma vez o que seu advogado garantiu ao STF, disse a dirigentes de seitas evangélicas que “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego”. Ao contrário do que disse na live para seus seguidores que ocupam púlpitos em templos evangélicos, contudo, a realidade indica na direção oposta, pois a curva de incidência e letalidade da covid-19 sobe sem parar, a uma velocidade assustadora. Manaus não tem mais leitos com respiradores e o prefeito da cidade, Arthur Virgílio, não contemporizou com o Messias do Planalto. “O presidente Bolsonaro é, hoje, o principal aliado do vírus”, disse. Segundo Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde no epicentro da epidemia no País, São Paulo, 60% dos 1.662 novos leitos de baixa e média complexidade foram ocupados por pacientes com Covid-19. “Mesmo com todos os leitos que ainda vamos instalar, os dados mostram que tudo será ocupado muito rapidamente. Seguramente a gente vai ocupar em um curto espaço de tempo”, garantiu. Conforme dados oficiais do Ministério da Saúde, divulgados na segunda-feira 13, subiu para 13.717 o número de casos confirmados de coronavírus no Brasil. Foram 1.661 novas confirmações em 24 horas. Ou seja, o vírus não está saindo…

Ainda assim, o procurador-geral da República, Augusto Aras, comensal dos banquetes do PT à época da roubalheira de Lula e sua gangue e indicado para o cargo por um amigo do peito do presidente, Alberto Fraga, pretendente ao Ministério da Justiça no dia em que Bolsonaro se sentir com força para demitir Sergio Moro, recorreu contra a liminar concedida por Moraes, a que este texto se refere. Ele despachou que o presidente Jair Bolsonaro tem o direito de decidir sobre o “momento oportuno” para maior ou menor distanciamento social no enfrentamento do novo coronavírus. No parecer, ao qual o Estado teve acesso, o sucessor de Raquel Dodge afirmou também que, como o mundo passa por uma “crise sem precedentes”, repleta de “incertezas”, não é possível avaliar hoje, com precisão, se a estratégia de limitar a circulação de pessoas tem eficácia para impedir o avanço da covid-19.

Aras ainda não informou ao distinto público ameaçado pelo vírus terrível quando desembarcou do mundo da lua. Pois a vida real aqui, na Terra, é muito diferente. Por exemplo, hoje o epicentro mundial da pandemia é Nova York. Segundo o noticiário que abriu esta semana pós-Páscoa, “o Estado de Nova York somou 758 mortes em 24 horas em decorrência da covid-19. Agora, Nova York tem 9.385 óbitos atribuídos à doença pelo novo coronavírus, e deve superar a marca dos 10 mil mortos nas próximas horas”. Tais informações foram divulgadas pelo governador do Estado, Andrew Cuomo, em coletiva de imprensa transmitida nas redes sociais. Também dos EUA vem a notícia de que o epidemiologista que convenceu o presidente Donald Trump a deixar o negacionismo a que Bolsonaro se agarra, Anthony Fauci, afirmou que, “se o isolamento não tivesse tardado, não estaríamos registrando tantas mortes”. Esta é uma crítica a Cuomo, democrata de esquerda, que retardou a adoção do isolamento, mesmo quando ela era pretendida pelo presidente. “A pergunta é: o que aconteceria se não fizéssemos nada? O número subiria para entre 1,5 a 2,2 milhões de pessoas morrendo. Isso não seria possível, você veria pessoas morrendo nos lobbies de hotel, nos aeroportos. Isso não poderia continuar”, disse Trump na semana passada.

É possível encontrar no texto de um grande advogado brasileiro o recado certo para iluminar o cérebro de Aras, ocupado apenas em bajular o chefe do Executivo. No artigo publicado segunda-feira 13 na página A2, o ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho Almir Pazzianotto Pinto pregou o prego e virou a ponta, pontificando: “Países que subestimaram o isolamento pagam alto preço em número de infectados e mortos. (…) A pandemia trará prejuízos inevitáveis. Para o Brasil significa mais uma década perdida. Não há como evitá-lo.”

É isso, doutor: a escolha de Sofia que o anjo da morte sugere não existe. Mais cadáveres nas calçadas não reduzirão a recessão inevitável.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 13 de abril de 2020)

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Coluna semanal para o site Rice: De volta ao buraco sem luz

 

 

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De volta ao buraco sem luz

José Nêumanne

Adiamento da demissão de Mandetta do Ministério da Saúde é mais uma batalha da barbárie contra a civilização do “mito” da militância  terraplanista, criacionista e figadal inimiga da ciência

Li O Mito da Caverna, de Platão, nos meus distantes 14 anos, nas horas obrigatórias de leitura na biblioteca do Instituto Redentorista Santos Anjos, em Campina Grande. Tenho uma frustração e uma inveja nessa leitura de pré-adolescência. Frustração por não ter me dedicado mais ao estudo de grego antigo para ler o texto magnífico no original. Inveja do ortopedista pediátrico Luiz Henrique Mandetta, que se orgulha de havê-lo lido 20 vezes. Como me disse certa vez Jorge Luís Borges, ler é uma atividade fútil. Útil é reler os bons textos. E estes são tão poucos…

Revelando um espírito refinado que não imaginava num profissional de medicina, normalmente mais dedicado à atualização de seus conhecimentos científicos do que à filosofia antiga ou mesmo à literatura, o ainda atual ministro da Saúde, sabe Deus até quando, aproveitou bem cada vez que abordou o gênio ateniense quando o usou à hora certa e na data exata. Citou o clássico da filosofia na entrevista coletiva em que contou ao País que esvaziara as gavetas do gabinete ministerial ao saber que seria demitido na segunda, à tarde, e, depois, voltara a enchê-las depois da desistência do chefe de pô-lo para fora do cargo público.

A meio século de haver folheado as páginas de papel bíblia nos ermos de Bodocongó, e com a memória prejudicada por velhice, diabetes e ameaça de coronavírus à porta, ainda me lembro do impacto daquela leitura única em todos os sentidos da palavra. A tragédia do homem primitivo que rompeu as cadeias das trevas do buraco em cujas bordas só via sombras, para conhecer o Sol, tinha o condão de transformar em fábula ancestral a rotina burocrática de uma atividade rasteira como é a política, atingindo a sordidez no momento por ele vivido. Séculos depois de concebida, a saga do descobridor da luz solar, que ilumina e higieniza, morto por seus antigos companheiros de redução a imagens caprichosas de chama e sombra, repetiu o embate milenar entre civilização humana e barbárie pré-histórica.

Ao sair do encontro com o carrasco após este desistir de lhe decepar a cabeça no cadafalso, o quase ex-ministro fez mentalmente a 21.ª leitura da obra platônica e se vingou, sem que o outro sequer sonhasse com  isso, com a suprema humilhação de torná-lo protagonista de um conto terrível e que ainda assim jamais entenderá a dimensão da luta entre conhecimento e ignorância. O presidente da República é um homem simplório. Saiu do Exército, que diz venerar, sem fazer um curso de estado-maior, num acordo de cavalheiros em que nenhuma das partes agiu como cavalheira. Numa solução típica de instituições fechadas em copas e galões, a Força expeliu-o do convívio dos camaradas de armas na patente de capitão para evitar que fora da caserna se conhecesse o delito do oficial acusado de terrorismo. Na reserva a decisão foi fundamental na formação do caráter do que não foi expulso. Seu herói militar não é Churchill, ex-lorde do almirantado que ganhou a 2.ª Guerra Mundial, nem De Gaulle, general francês que comandou a resistência de seu país, a França, ao abrigo de um aliado que foi ao longo da História o maior inimigo, a pérfida Albion. Mas um reles torturador da guerra suja em que as “gloriosas” Forças Armadas se meteram num banho de sangue de inimigos sem nenhuma chance de vencê-las.  O indesejado fez carreira como sindicalista fardado e parlamentar do mais baixo clero com pretensão a reverter na democracia, que surgiu dos escombros do gigante de pés de barro da ditadura militar, a má fama com justiça conquistada nos anos de chumbo. Sua homenagem ao réprobo dos porões da Rua Tutoia, coronel Brilhante Ustra, ao votar na sessão de julgamento do impeachment da inimiga acusada pelos que os convidaram a retirar-se dos quartéis no processo de expulsão, Dilma Rousseff, pela mesma falta, terrorismo.

A demissão que não houve resultou de um episódio rastaquera de ciúme vulgar. O ainda ministro da Saúde gravou um depoimento numa live – meio de comunicação favorito do capitão reformado por indisciplina -, protagonizada por ídolos da música sertaneja, entre os quais a dupla Jorge e Mateus. Era só disso que precisava o chefe para decidir livrar-se da ambição desmedida ao estrelato do subordinado. Convenhamos que nem chega perto de um delito como o terrorismo, nem de um deslize como a indisciplina. O inesperado desfecho, com a recondução do ministro à pasta, provocado pelo histérico temor do chefe de uma perspectiva de impeachment por crime de responsabilidade, após a intervenção de generais, parlamentares e ministros do STF, trouxe, contudo, à luz, quando já anoitecia no segundo dia da Semana Santa, a revelação de algo muito mais grave do que o ato.

Tendo jurado fidelidade à lei e à ordem em janeiro de 2019, Jair tem atuado como o Messias do retorno ao escuro cavernoso, com as labaredas desenhando nas pedras do buraco uma súcia que não fora exposta ao Sol: um bando dedicado à desmoralização do conhecimento acumulado e à consagração de um passado          que, zumbi, surgiu das cinzas da fogueira em que Giordano Bruno foi imolado. Bolsonaro lidera quem acredita na Terra plana em plena era das viagens espaciais, que a revelaram redonda, e imóvel, amaldiçoando o eppur si muove de Galileu Galilei. Como seu diabinho profano de orelha, André Mendonça, nega a evolução das espécies de Charles Darwin. Prefere a superstição à ciência. E, embora tenha virado caixeiro-viajante da cloroquina por mero oportunismo de marketing político genocida, considera a descoberta de Alexander Fleming instrumento de doença, não certeza de imunidade a bacilos e vírus. É isso!

Jornalista, poeta e escritoa coluna do Grupo Ric Mais)

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Entrevista de Nêumanne a Felipe Moura Brasil: “Bolsonaro traiu os antipetistas”

 

O Antagonista
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Entrevista de Nêumanne a Felipe Moura Brasil

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Coluna semanal para o site Rice: Bolsonaro, a imprensa e o coronavírus

 
 

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José Nêumanne

Com seu auxiliar Heleno infectado, presidente ainda se recusa a aceitar a gravidade da pandemia, regozija-se por ter confraternizado com militantes à frente do Palácio e não fez o que devia

 

Em entrevista coletiva em que todos usavam máscaras quando ouviam e nunca quando falavam e sem manter a distância de mais de dois metros recomendada como prudente para não contrair nem transmitir a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro não fez o que lhe cabe. E parece não ter entendido a gravidade da pandemia, embora tenha sinalizado, ufa, que não está fritando seu excelente ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deputado escolhido para o cargo – graças a Deus – por ele próprio e por recomendáveis critérios técnicos. Neste momento, o que a parte do País que ainda tem juízo e quer sobreviver espera é que ele, no mínimo, faça um apelo para que quem puder fique em casa e mantenha o mínimo possível de contatos pessoais. Já é um avanço notável, mas ficou faltando algo fundamental, que diferencia um estadista de um político qualquer.

Durante muito tempo Sua Excelência menosprezou o risco representado pela contaminação do novo coronavírus. Viajou para a Flórida num momento em que o mundo inteiro já tinha conhecimento da situação dramática na China, onde o vírus foi inoculado pela primeira vez, e na Itália, de onde a moléstia se alastrou pelo mundo. O mais importante chefe de Estado do mundo, Donald Trump, também incorreu no mesmo engano e cometeu o terrível erro de receber a comitiva dele. O fato de 18 membros terem constatada a contaminação até a noite desta quarta-feira 18 de março de 2020 já fala por si só da imprudência de ambos. No entanto, ainda na entrevista coletiva que convocou na companhia de vários ministros envolvidos com o combate ao alastramento do mal, ele errou gravemente ao insistir em condenar o que considera “histeria”, mostrando que não percebeu a dimensão do que acontece agora no mundo inteiro.

Bolsonaro perdeu também na entrevista a oportunidade que lhe foi dada de pedir desculpas à Nação pela irresponsabilidade de cumprimentar com tapinhas nas mãos manifestantes do ato convocado para apoiá-lo e criticar os corretamente odiados chefões partidários e maganões do Judiciário. Disse que só o fez porque o teste a que se submeteu no Hospital das Forças Armadas, de presença do novo coronavírus, deu negativo. Pena nenhum repórter tê-lo questionado, como deveria fazê-lo, sobre que tipo de sensibilidade, premonição ou informação ele tem de que nenhuma daquelas 272 pessoas que ele tocou ao longo de 58 minutos à frente da rampa de descida do Palácio do Planalto poderia haver-lhe transmitido o terrível micro-organismo malsão. Será que nenhum ocupante dos outros gabinetes instalados naquele prédio é capaz de saber e lhe comunicar que a saúde de um chefe de governo é bem público e ele deve zelar por isso?

Essa entrevista pode ser comparada com outra, na Casa Branca, na véspera, mais ou menos na mesma hora. Nesta Donald Trump, com ar compungido no rosto sem máscara, como convém a um executivo com seu poder, disse: “Temos de lutar contra esse inimigo invisível. Acho que é desconhecido, mas o estamos conhecendo muito melhor”. Mike Spence, o vice, pediu aos americanos que adotem as ações recomendadas pelos infectologistas, nos próximos 15 dias. Talvez por nunca haver entendido que ele foi eleito, sim, mas com um substituto eventual que deve ser respeitado e convidado  como o americano, o capitão nem convocou o outro componente da chapa vencedora, o general Hamilton Mourão. Entre outros presentes ao reconhecimento do erro que o chefe do governo mais poderoso do mundo cometera ao não levar a sério a guerra bacteriológica, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse algo que o brasileiro ainda não aceitou: “A atual situação é pior do que o 11 de Setembro para o setor aéreo”. Referia-se ao atentado terrorista de Osama bin Laden às torres gêmeas. Não faltaram outros exemplos similares no mundo. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, adotou medidas para evitar a disseminação da covid-19, entre as quais a possibilidade de usar tecnologia de ponta para detectar doentes em locais de aglomeração.

Em vez disso, “seu” Jair preferiu renovar seus ataques à imprensa, misturando a atividade com fake news, apesar de não respeitar a verdade em vários momentos. Disse, entre outros insultos, que os meios de comunicação não trataram com o mesmo rigor presidentes que enfrentaram situação semelhante. A imprensa combateu a ditadura militar e não deu paz a nenhum político corrupto, do direitista Paulo Maluf aos esquerdistas sob o comando de Lula. Aliás, nunca houve momento tão grave no Brasil, a não ser em 1919, quando o presidente eleito Rodrigues Alves morreu de gripe espanhola sem ter tomado posse, sendo substituído por um vice louco, Delfim Moreira, até que Epitácio Pessoa o sucedeu. A forma irresponsável como ele tratou a própria saúde talvez não chegue a esse desfecho, e felizmente é notório que Mourão tem saúde mental de sobra.

Tudo o que se espera dele é que lidere o combate à covid-19 usando quaisquer aliados disponíveis, incluindo os meios de comunicação.

*Jornalista, poeta e escritor

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No Blog do Nêumanne: A guerra de todos e a arenga de Bolsonaro

José Nêumanne

Todo o planeta se mobiliza para enfrentar o coronavírus, inimigo invisível e feroz, mas o presidente dá prioridade a sua arenga particular com governadores que só o combaterão em 2022

Atordoada com a quarentena a que está condenada agora para reduzir a velocidade do contágio da pandemia da covid-19, a população brasileira acordou para esta semana, na segunda-feira, com a notícia de uma facada fatal nos mais desvalidos, enquanto os marajás do serviço público continuam à la fresca. O governo Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional medida provisória autorizando empresas a dispensarem por quatro meses seus funcionários, os mandarem para casa e não pagarem seus salários. Mas, depois da reação indignada no Twitter, ele usou o mesmo instrumento para informar ter revogado a suspensão dos salários. Não falou, porém, em como obrigar empregador a recontratar dispensados.

Antes de se refazer do choque do absurdo, o cidadão identificou-se, no sentido metafórico, com a tragédia vivenciada por Gregor Samsa, protagonista do romance Metamorfose, de Franz Kafka (ou kafta, como prefere o ministro da Educação do governo federal, Abraham Weintraub), logo após ter percebido que se tornara um inseto do tamanho de um ser humano . O que aconteceu na manhã de sol outonal foi que o pagador de impostos, o eleitor, que, em maioria, pôs no comando máximo do País o responsável por essa transformação de gente em barata, não foi informado de que a dita, mas não respeitada, União não aproveitou a oportunidade do combate ao vírus para suspender, nem mesmo temporariamente, privilégios de soit-disant servidores públicos, de fato se-servidores do público. Os marajás, que recebem salários altíssimos, muito longe do alcance do alfanje de el-rey milionário de votos, recebem todo mês, com ou sem vírus, “auxílios” de toda ordem: paletó, serviço odontológico, empurradores de cadeiras, moradia, etc.

Desembargadores, que ganham R$ 38 mil por mês, recebem mensalmente uma média de mais de que quatro vezes essa quantia, já absurda em si. Ainda assim, há procurador federal reclamando desse privilégio, insuficiente para que ele viva mais à tripa forra do que já vive. Políticos acumulam aposentadorias, não importando em que partido militem ou que cargo  ocupem na máquina pública. Os ex-presidentes Dilma e Lula vivem rotina de milionários e viajam para o exterior, onde repetidamente falam mal do País que os sustenta, quantas vezes quiserem. Os signatários do ato que desemprega em pílulas amargas pertencem todos à casta dos sempre servidos.

Em última análise, a omissão é uma autoajuda. Afinal, seja qual for o destino que lhe reservarem as urnas em 2022, ideia fixa no momento do chefe de Jorge Oliveira, que autorizou a ida de quatro assessores pagos pelo distinto público para acompanhar o petista em seu périplo europeu, o presidente e o secretário-geral da Presidência gozarão, no mínimo, de uma aposentadoria de barões, com reforma da Previdência e tudo. O ex-capitão nunca teve de dar um prego numa barra de sabão, como se diz no sertão de onde fui vindo, a vida inteira. Foi sempre um se-servidor do público, primeiro nos quartéis, depois no Poder Legislativo e agora no Executivo. Com sua aposentadoria poderá até ser generoso, doando parte do saldo a amigos de velhos tempos, como Fabrício Queiroz, repassando-lhe o soldo de oficial reformado e onerando os gastos públicos com sua retirada conjunta das atividades parlamentares e presidenciais. O ex-major da PM nem sequer precisará ser promovido ao mais alto salário do se-serviço da República, como pretende seu protetor, o comandante-chefe das Forças Armadas, das quais teve os serviços propriamente ditos dispensados. Mesmo que a vaga que lhe é reservada no Supremo Tribunal após a aposentadoria de Marco Aurélio Mello no ano que vem, seja dada a outro apaniguado, a reforma na caserna bastará para garantir o vinho francês de cada refeição.

Nesse mister de mais uma vez apertar o pescoço do trabalhador de baixa renda, baixa instrução e baixa expectativa de vida e garantir o bem-bom de seus colegas de acepipes e convescotes do distante Planalto Central do País, para onde os remeteu Juscelino Kubitschek à sombra das marmotas arquitetônicas de Oscar Niemeyer, foi o melhor a apresentar como saída sem incomodar seus irmãos de opa. Algumas vezes cheguei a comentar, mas apenas de leve, e agora o faço com vigor, que o bem-sucedido chicaguiano Paulo Guedes tem um currículo acadêmico e de mercado, seja lá o que for isso, mas é sempre generoso com o patronato. E  fala mal dos marajás, mas nunca corta seus excessos. Os conceitos liberais de Milton Friedman inspiraram a ideia de só obrigar os patrões contemplados a fornecerem cursos online a candidatos a famintos que terão de vender o almoço que não comerão para comprar terminais de computadores fabricados por alguns dos amiguinhos da equipe econômica.

Os nobres egressos dos ventos gélidos do lago de Illinois copiaram o modelo da nobiliarquia monárquica absolutista na época dos Luíses da França. Os cursos online do dr. Guedes lembram uma das anedotas mais saborosas (desculpe o leitor o duplo sentido) da História da humanidade. Consta que, diante da multidão faminta clamando por pão nos jardins de Versalhes, maravilha da botânica fechada à visitação pública nestes anos duros de covid-19, a rainha Maria Antonieta perguntou, não se sabe se em francês do marido ou alemão dos ancestrais: “Se falta pão, por que não lhes servimos brioches?”. Mas a pueril e ingênua ignorância de madame chega a ser uma lembrança injusta se comparada com cursos online para desgraçados cujo suor sempre pagou a mais cara e sofisticada pâtisserie da mesa dos se-servidores servidos.

O presidente da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, disse que vê um risco de crescimento do desemprego para mais de 40 milhões de brasileiros em decorrência da pandemia da covid-19. “É um número assustador”, disse no domingo 22 em live com outros empresários. Duvida este autor que a MP de Guedes-Bolsonaro tivesse inspirado a conta do financista. Então, é o caso de imaginar que o atual número de desocupados da mão de obra nacional por obra e desgraça do saque generalizado do erário pela canalha do Partido dos Trabalhadores (PT), seus fiéis aliados e falsos oposicionistas (leia-se tucanos) será quintuplicado pela desfaçatez de um governo eleito para pôr fim ao despautério petista e de congêneres.

O presidente eleito por antipetistas e crédulos que imaginaram que ele manteria incólume o combate à corrupção ainda acredita que em 2022, quando as urnas forem abertas, os brasileiros de bem o sufragarão e afundarão os governadores que ousaram fazer o mínimo para evitar a aceleração do contágio do coronavírus no oblívio total. Do alto do palanque imaginário das falas do trono e das mensagens em redes sociais, Sua Insolência esbravejou na TV Record, de seu divulgador Edir Macedo: “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus. Espero que não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados na minha pessoa”. Alto lá, capitão! Não seja tão otimista. Mesmo que a culpa não fosse também sua, e só da praga chinesa, sua reeleição correrá rico na tempestade de outubro daqui a dois anos e meio.

E se o renomado e respeitado cirurgião Miguel Srugi, da Universidade de São Paulo, tiver razão ao prever que pobres morrerão nas portas dos hospitais pelo contágio do vírus de Wuhan, a estatística tétrica poderá ser sacada de sua conta eleitoral. É uma ilusão sua imaginar que conseguirá convencer alguém mais do que seus devotos, tão fiéis quanto os de seu inimigo e sustentáculo Lula (pelo sinal oposto). Ou que ocorrerá a outrem, com juízo ou não, atribuir a tragédia ao horoscopista da Virgínia, de quem certamente tem usado argumentos para contrariar seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Numa transmissão ele afirmou que não há nenhum caso confirmado de morte por coronavírus no mundo – uma mentira sesquipedal – e que a pandemia, em sua opinião, seria “a mais vasta manipulação de opinião pública que já aconteceu na história humana”.

Caramba, quanta insânia! A questão é saber quem é mais insano: quem profere a blasfêmia ou quem a usa numa arenga particular contra adversários de uma eleição a ser disputada em dois anos e meio a pretexto de negar uma guerra declarada pela humanidade inteira. E ainda deixar de fora do sacrifício a horda de sanguessugas que sempre assola o País.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado segunda-feira 23 de março de 2020 no Blog do Nêumanne)

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