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Artigo da coluna do Ric Mais: Moro sai do governo atirando

 

 

O Grupo Ric de Comunicação põe à disposição de emissoras de rádio e jornais impressos ou em edição virtual três podcasts de três minutos cada e um artigo por semana. Interessados em publicar este material original devem entrar em contato com mash.leonardo@gruporic.com.br

 

 

Moro sai do governo atirando

 

Ex-juiz delatou Bolsonaro, ao comunicar saída do governo jogando artefatos nucleares no mandato dele

 

Com Moro deixa o governo Bolsonaro a ilusão do combate à corrupção Foto: Dida Sampaio/Estadão

Com Moro deixa o governo Bolsonaro a ilusão do combate à corrupção
Foto: Dida Sampaio/Estadão

O ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro disparou uma saraivada de bombas atômicas contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, em pronunciamento no qual comunicou seu pedido de demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Por exemplo: acusou-o de praticar duas vezes falsidade ideológica, ao violar o Código Penal e, ao mesmo tempo, cometer crimes de responsabilidade, passíveis de abertura de processo de impeachment pela Câmara para ser julgado no Senado, no ato da demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. “Demissão a pedido”, definiu o decreto assinado por ele e pelo ainda então ministro, Moro. No pronunciamento pela manhã, o ex-ministro disse que não o assinou e o demitido lhe garantiu que nunca pediu demissão. Na resposta dada no fim da tarde, em discurso confuso de 43 minutos, chamado de “coletiva”, o chefe mentiu ao dizer que o ex-diretor-geral da PF comunicou seu pedido de saída por cansaço numa reunião virtual com superintendentes. E a reunião foi cancelada para os seus participantes acompanharem a fala de Moro.

O ex-subordinado fez acusações gravíssimas contra o ex-chefe. Contou que ele lhe disse querer mudar a chefia do órgão de Estado para poder ter acesso a relatórios sigilosos de investigações da PF. Para impedir que isso ocorra sob a nova direção da instituição, o relator dos inquéritos autorizados para devassar fake news e o comício subversivo de domingo à frente do QG do Exército pelo Supremo Tribunal Federal – STF –, ministro Alexandre de Moraes, determinou que os delegados encarregados sejam mantidos. Bolsonaro reconheceu que, de fato, recebe relatórios de informações secretas das Forças Armadas e outras repartições, e não vê por que não possa fazê-lo com a PF. Em que Moro mentiu?

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF um inquérito específico sobre tais acusações para atestar se Bolsonaro realmente cometeu crimes de que foi acusado, entre eles advocacia administrativa, ou se Moro praticou denunciação caluniosa. Como dizem os comentaristas esportivos, agora é ver quem tem mais vasilhame para trocar.

A opção é impeachment ou autogolpe. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, terá uma semana, por decisão do decano do mesmo STF, Celso de Mello, para por, ou não, em votação a autorização, por três quintos dos deputados, para abrir o impeachment. Para conquistá-los, Bolsonaro fez do Planalto balcão para comprar com dinheiro público parlamentares do centrão, que tem maioria no plenário. Assim, evita imitar Dilma, que topou briga com Cunha e perdeu. E repete Temer, que comprou os votos necessários, mas jogou fora a oportunidade de entrar na História como um presidente de respeito.

*Jornalista, poeta e escritor

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No Blog do Nêumanne no Estadão: O coronavírus como arma política

José Nêumanne

Após demitir a ciência no combate à covid-19 no Brasil, Bolsonaro usa a pandemia como aliada política, vendendo óleo de cobra de que não pode haver impeachment durante crise sanitária

“O comportamento do presidente bateu de frente com a ciência, com o SUS e com a vida. Aí ficou impossível, porque nenhum de nós podia sair das nossas prerrogativas. Ele resolveu substituir o ministro, não o Mandetta. Ele exonerou foi a ciência.” A frase, de autoria do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, proferida em evento do Movimento Brasil Livre (MBL) pode parecer choro de perdedor, mas não tinha como ser mais exata. Ao usar o poder hierárquico, garantido pela Constituição, de demitir o ministro, qualquer um que fosse ele, Jair Messias Bolsonaro mostrou-se coerente em relação a seu comportamento na maior crise sanitária recente da História do País e na promessa de maior depressão econômica da nossa História, quiçá da Terra inteira.

Em março, o capitão de gravata aproveitou mais uma ocasião para bajular seu ídolo, Donald Trump, que definiu a covid-19 como “gripezinha”. E mesmo com o novo coronavírus fazendo um estrago trágico absurdo, que forçou vários administradores municipais a usarem câmaras refrigeradoras para conservar cadáveres e, assim, evitar uma crise local de sepultamentos, ele nunca levou a pandemia a sério. Aproveitou a oportunosa ensancha que lhe foi dada por ela para triturar adversários políticos de uma eleição a ser disputada em dois anos e sete meses e ainda transferir para governadores de Estado e prefeitos a responsabilidade pela crise econômica, que será tanto mais grave quanto maior for o número de vítimas da doença maligna. De fato, ele não desautorizou o ministro que ganhava popularidade administrando o combate ao contágio da forma mais eficiente que podia, tendo em vista as enormes deficiências do serviço público do Brasil. Mas, sim, o conhecimento.  Agarrado à lorota que lhe permitiu escapar da responsabilização pelo desastre econômico após a passagem do microrganismo, ele rasgou recomendações da autoridade sanitária planetária e foi coerente com sua pregação do ignorantismo tirando o chefe da pasta encarregada de seu comando para se travestir de sacerdote de Tânatos, deus grego da morte.

Esse não foi o único pecado mortal cometido pelo chefe do Executivo federal nos últimos dias, terríveis para o Brasil e a humanidade em geral. Aproveitou-se da concentração do noticiário dos meios de comunicação em torno do vírus vindo da China para matar (sua paixão) dois coelhos numa cajadada só: livrou-se de um policial incômodo que o faz perder o sono com a perspectiva de seus filhos investigados serem denunciados, ganhando de lambujem o afastamento de outro ministro popular, forçando atitudes que não teria coragem de adotar na normalidade.

E mais: imediatamente depois disso passou a usar a atual tragédia sanitária e a eventual depressão econômica que ela produzirá para evitar quaisquer movimentos institucionais que ameacem sua condição de ocupante do maior poder da República com o argumento de tornar caos institucional a urgência de salvar vidas. Não imagine o incauto leitor que houver nessa crise, em particular quem considere seu governo acima de qualquer outro bem vital da democracia, que este está sendo o mais sórdido de seus movimentos. Ao mau militar que negociou sua retirada do Exército no mais baixo grau do oficialato para evitar escândalo que constrangesse seus então comandantes encostou seu barrigão de “atleta” no balcão do palácio para comprar seu salvo-conduto de permanência no poder com verbas públicas oferecidas ao centrão, conjunto de organizações partidárias criminosas dedicadas ao furto do erário precário.

Antes de pagar, conseguiu provas incontestes de que sua tática surtiria efeito. Roberto Jefferson, cujo currículo é emporcalhado pela dupla condição de corrupto condenado, em cumprimento de pena vigente, e delator de seus companheiros de quadrilha, providenciou em passado distante emprego público para seu filho 03, Eduardo, em gabinete de Brasília, enquanto frequentava aulas no Rio. Acabou de visar o passaporte dele para ficar. De olho no Ministério do Trabalho, talvez para dá-lo de presente à filha, Cristiane Brasil, impedida pela Justiça de servir de cambalacho com Dilma, do PT. Talentoso advogado de criminosos do Estado do Rio, o prócer não se esquivou de aderir à luta contra o impeachment do baluarte da nova política, que apodreceu antes da velha, contrariando as leis da finitude na biologia com uma declaração bombástica: “O presidente só sai à bala”. Não se sabe se isso era garantia de vida ou ameaça de morte. É um pacto de sangue entre malandros que se entendem e por isso não se sabe se um ou outro cumprirá o pactuado.

Jefferson foi a cereja do bolo. Neste há ingredientes tão podres quanto ele. Acorreram ao balcão Valdemar Costa Neto, do PL, como Jefferson usando tornozeleira após passagem por cela, e Ciro Nogueira, atual presidente do partido da joia da coroa da corrupção pátria, Paulo Maluf. Arthur Lira, personagem da devassa da Operação Lava Jato, aceitou dar prova inquestionável de sua adesão num selfie que mandou para a mulher. Candidato à sucessão, na presidência da Câmara, de Rodrigo Maia, mais novo inimigo da saraivada de tuítes e zaps disparados do “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonero, o incendiário que torra as mais sólidas reputações do País. Como, no momento, a reputação do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro. Outro pretendente a terceiro na linha sucessória presidencial, Marcos Pereira, teve prometida preferência na disputa, mas o encontro não foi filmado e o parceiro de buraco ficou sabendo que o ainda poderoso chefão o rifou, temendo ser traído, obsessão de todo traidor contumaz.

A agenda do Palácio do Planalto na vigência desta “nova” nova política, que apodreceu e desmilinguiu antes de envelhecer, traz novidades interessantes. Pelo centrão também foi ao balcão o deputado Wellington Roberto, que protagonizou a falsificação da assinatura do senador Jorginho Mello e do presidente de seu partido, o PL, Valdemar Costa Neto, numa votação simbólica, ou seja, só de líderes. Ele levou experiência antiga na prática de ilícitos. Na infância, segundo contam amigos da família, ajudava o pai a diminuir o peso de sacas de açúcar, fórmula bem-sucedida para engordar o patrimônio familiar. Não à toa, dias depois a assinatura do então ministro da Justiça, Sergio Moro, foi falsificada no decreto em que foi demitido o então diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Dois outros frequentadores do balcão, Efrahim Moraes, conhecido em seu Estado como Éfraquim, do DEM de Maia e Alcolumbre, e Baleia Rossi, líder do MDB de Renan Calheiros, saíram afinados com a canção favorita dos cetáceos. Pediram juízo por causa do coronavírus. Sua Insolência não retirou sua negação à pandemia, pois covid-19 é gripezinha, resfriadinho, e o impeachment dele não pode ser votado por causa da prioridade nacional de combater o coronavírus. Efrahim e Baleia exageram no bolsonarismo de balcão e tornaram-se mais desumanos do que ele.

Gilberto Kassab, dono do PSD, também foi honrado com uma visita ao balcão do capitão. A presença, como sempre, discreta, do ex-prefeito de São Paulo, que foi ministro de Dilma até o dia da votação do impeachment dela e de Temer no primeiro dia do governo depois do “gópi”, deve ter propiciado boas perspectivas para o Messias da “nova” farsa, que apodrece, mas não fenece. Este votou nos três julgamentos de impeachment a que compareceu: para defenestrar Collor, que renunciou diante do inelutável, Dilma e Temer. Só o paulista sobreviveu às tentativas de Rodrigo Janot, então procurador-geral e seu inimigo. Para isso contou com a ajuda de toda essa tropa que o atual presidente convocou para se salvar e, assim, se tornar o único beneficiado pelo coronavírus do planeta.

Minha avó dizia que quem tem padrinho não morre pagão. O presidente desta tresloucada República em que o ignorantismo é prova de sabedoria desempenha função primordial para mostrar que quem marca, tange e toca um gado cego, idólatra e fiel consegue ir sobrevivendo. Mesmo com todas as evidências de delitos contra o Código Penal e crimes de responsabilidade, que pululam como o vírus que veio de Wuhan no testamento do juiz paranaense à saída de seu governo. Mesmo que seu óleo da cobra não tenha salvado milhares da covid-19. Isso não prova que não houve tragédia, mas, sim, dois são mais do que três nos quintos do inferno.

  • Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 27 de abril de 2020)

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Coluna semanal para o site Ric: Sob o comando de Bacamarte

 

Artigo da semana passada para a coluna do Ric Mais

 

 

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Sob o comando de Bacamarte

José Nêumanne

À espera da realização do milagre brasileiro da produção de testes rapidíssimos que detectam, remédios que curam e até uma vacina contra covid-19, Bolsonaro emula O Alienista

 

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, o astronauta Marcos Pontes, anunciou no setor de pesquisas da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, que o Brasil se prepara para testar rapidamente casos de covid-19 e remédios para curá-la. Isso está para acontecer nos próximos dias, enquanto a vacina pesquisada no Brasil foi prevista para ser testada no ano que vem. Com o desdém com que a pesquisa científica tem sido tratada no Brasil recentemente – em especial durante o governo de que faz parte -, será o feito mais espetacular da História do Brasil. Ou seria?

O astronauta brasileiro, que conheceu o cosmos em passeio numa nave russa, está mais perto do folclore do que das sofisticadíssimas ciências exatas. No momento em que ele fazia o anúncio, o mundo foi informado que as maiores potências científicas – EUA, Comunidade Europeia, China e Rússia – estão numa corrida desesperada contra o novo coronavírus, que é tido como muito perigoso, até porque não se deixa conhecer. Nenhum epidemiologista com carreira de respeito aventura-se sequer a dar informações básicas sobre o desempenho do microrganismo que abala o mundo e produzirá brevemente uma verdadeira revolução em hábitos e costumes. De certeza, só se sabe que, por causa dele, a economia mundial sofrerá um abalo que agora já está sendo comparado com o craque da Bolsa de Nova York em 1929. Se não for ainda pior.

Se esses medicamentos produzidos em nossos laboratórios ganharem a corrida contra ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina, isso na certa vai produzir um enorme alívio e também uma surpresa fenomenal. E o ministro Pontes ganhará renome mundial pelo simples fato de haver revelado em primeira mão tal perspectiva. Por enquanto, o único elogio que pode ser feito ao astronauta brasileiro é o de que pelo menos ele tem mais juízo do que o chefe que o nomeou para uma pasta na qual pousou de paraquedas. Na entrevista em que anunciou o inesperado milagre de Santa Dulce dos Pobres, ele defendeu o isolamento social, adotado por governadores e prefeitos brasileiros, que, por isso mesmo, têm sido execrados pelo presidente Jair Bolsonaro, que pôs o País, já em guerra contra a pandemia universal, numa destrutiva, desnecessária e nociva guerra eleitoral, de olho na eleição presidencial marcada para outubro de 2022, ou seja, a dois anos e sete meses do anúncio de seu subordinado. Que pode ser uma notícia excepcional, em todos os sentidos da palavra, ou simplesmente uma barriga cometida por um leigo disputando um lugar ao sol no noticiário no qual tem merecido um lugar secundário, embora ocupe um posto relevante no governo federal neste mundo que venera a ciência e a tecnologia de ponta.

Neste instante, em que o presidente da República assusta a Nação tentando forçar o fim do isolamento social, não deixa de ser meritório que ele tenha tomado a posição correta, apoiada por praticamente todos os governantes do mundo, regidos pela Organização Mundial da Saúde, da ONU. Afinal, o presidente da República, que já tinha atuado como se fosse mais um “homem da cobra”, vendendo mezinhas caseiras em feiras livres e praças públicas, como “pílula do câncer” e diaxiclorofina, em combate permanente que todo preguiçoso ignorante trava contra o conhecimento científico, que exige inteligência, paciência e dedicação, figura entre as quatro exceções de um mundo obediente ao “fique em casa” em todas as línguas. A conceituadíssima revista britânica The Economist já o tinha comparado com três histriões do combate contra a medicina e o conhecimento científico em geral. São eles: o presidente da Bielorrússia, república que fazia parte da extinta União Soviética, Aleksander Lukashenko, que recomendou saunas e vodca contra o novo coronavírus. No Turcomenistão, outra ditadura de um herdeiro asiático do georgiano Josef Stalin, o mandachuva Gurbanguly Berdymukhamedov, que proibiu o uso do termo “coronavírus” no país. E o ex-guerrilheiro e ditador comunista da Nicarágua, Daniel Ortega, organiza aglomerações como no fim de semana da Páscoa e, como o primeiro citado, ainda mantém em atividade as ligas esportivas, mas não é visto há mais de um mês. Em texto de opinião assinado por um comitê editorial do Washington Post, jornal que revelou aos EUA e ao mundo, os papéis do Pentágono, contando bastidores da intervenção dos EUA no Vietnã e o escândalo Watergate, que derrubou o presidente Richard Nixon, escrachou o “mito” dos bolsonaristas sob o título “Líderes arriscam vidas minimizando o coronavírus. Bolsonaro é o pior”.

Neste país, que enfrenta a covid-19 com mísero total de testes, e aproxima-se do colapso do sistema público de saúde nesta segunda quinzena de abril e em maio, Bolsonaro, que tem como principal bandeira administrativa o rearmamento, torna-se na vida real êmulo de Simão Bacamarte (arma de fogo hoje inexistente), psiquiatra inventado pelo gênio da raça Machado de Assis na novela O Alienista, que solta os presos do manicômio fictício que dirige e nele aprisiona os sãos. Só se for confirmada a notícia que deu, seu astronauta favorito provará que o chefão tem razão.

*Jornalista, poeta e escritor

(Artigo para coluna semanal do grupo Ric Mais Comunicação)

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No Blog do Nêumanne no Estadão: De golpista basta presidente

José Nêumanne

Bolsonaro vai a manifestação contra democracia num dia e no outro diz que defende instituições democráticas, mentindo duas vezes, uma a seus devotos e outra a democratas que devem defendê-la.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, aderiu a um ato de apoiadores à frente do Quartel-General do Exército, antigamente conhecido como “forte apache”, onde discursou de cima de uma caminhonete, dizendo, explicitamente: “Eu estou aqui porque acredito em vocês”. Nas imagens colhidas no domingo, 19 de abril, Dia do Exército, fez circular em suas redes sociais, forma oficiosa de comunicação com o país que governa, uma faixa explicitando: “Intervenção militar, com Bolsonaro no poder”. Se  discordava dessa palavra de ordem, que motivos teve para compartilhar a mensagem naquele lugar e naquela data específica?

Na manhã de segunda-feira, 20 de abril, contudo, Sua Excelência, ao se dirigir mais uma vez a meia dúzia de gatos-pingados que ele insiste em chamar erroneamente de “povo”, parodiou a repetição da tragédia institucional como farsa, citando Hegel via Marx no texto clássico O 18 Brumário de Luís Bonaparte, dando-se o direito de repreender um  manifestante que berrava a palavra de ordem da faixa antidemocrática. “Sem essa conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço, por favor, que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente”, disse. Ninguém riu da piada, é claro. Mas não era uma piada. Ou era?

Vamos aos fatos. Ninguém vai a um comício para enfrentar a fúria dos próprios apoiadores e discordar dela. No domingo 19, o chefe do Poder Executivo da República Federativa do Brasil visitou os filhos Flávio, senador, Eduardo, deputado federal, e Carlos, vereador no Rio, na casa do segundo. De lá foi direto de carro, com agentes de segurança de seu séquito habitual, para uma aglomeração de meia dúzia de fervorosos admiradores, acotovelando-se e carregando faixas como aquela, exigindo do condottiere o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). O agente federal Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (?) – Abin –, não o teria informado do teor das agressões aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, presidentes como ele de outro Poder, o Legislativo? Quando dirigiu a palavra a seus eleitores, disse: “Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil”. Ou seja, ele sabia a quem se dirigia e, portanto, não havia nenhuma hipótese de ignorar do que se tratava. Além disso, a aglomeração desafiava a proibição de proximidade física e, portanto, aumentava a velocidade do contágio do novo coronavírus, que no momento, produz a maior crise sanitária da História do Brasil e do mundo.

 No entanto, no dia seguinte, segunda-feira, logo cedo, ao sair para seu encontro com o “povo” que ele reconhece e venera, os bolsonaristas fanáticos que se postam à frente do Palácio da Alvorada, onde mora, fez discurso oposto ao que fez para apoiar a manifestação pública da véspera. Um apoiador gritou uma palavra de ordem contra o STF e ele respondeu com a frase citada entre aspas no segundo parágrafo deste texto. E completou: “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”. Ou seja, ele só defende liberdade na frente da casa dele (ou melhor, da nossa, como corrigiu depois). O Palácio da Alvorada não é a casa dele, mas do presidente da República por quatro anos, ou oito, se for reeleito. A residência oficial de um servidor público.

Vamos ao bê-á-bá da liberdade e da democracia, tal como as descreveu Montesquieu e como as configuraram os pais fundadores da democracia norte-americana. Todo o poder emana do povo de verdade, mais de 100 milhões de eleitores que, por maioria, o escolheram para presidir não o Brasil, mas um dos três Poderes, o Executivo. De acordo com a Constituição que ele jurou cumprir e fazer cumprir quando empossado em 1.º de janeiro de 2019, esse Poder é compartilhado com outros dois: o Legislativo, que aprova leis, e o Judiciário, que julga se elas estão na moldura do mesmo texto constitucional. Então, o cidadão que deu entrevista virulenta à CNN há uma semana dizendo cobras e lagartos do deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que representam o tal do povo, ou seja, aquele que não vai bajulá-lo na “porta de casa” ou na frente do “forte apache”, não era o “presidente”, mas o ex-oficial agitador que fora convidado a se retirar do convívio da caserna? Há um médico (no caso, exercendo clandestinamente o ofício) e um monstro (que venera o torturador Brilhante Ustra como herói militar) habitando o mesmo corpo, um quando vai a manifestações subversivas e outro, ao sair de casa para despachar em dias úteis em outro palácio, o do Planalto?

Aliás, no fim de semana houve carreatas no mesmo tom e com idênticas reivindicações em todo o País. Em São Paulo, no sábado e no domingo, com estímulo pessoal de Bolsonaro, foram promovidas carreatas contra o governador do Estado, João Doria, por exercer seu direito constitucional de decretar isolamento social, garantido por nove a zero pelo STF. No domingo, ele também estimulou inimigos do governador em fala no celular do publicitário Sérgio Lima, encarregado de propagar seu partido Aliança pelo Brasil. Em Porto Alegre, bolsonaristas em outro comício a favor da volta do Ato Institucional n.º 5 (AI-5) agrediram um casal pelo crime de usarem roupas vermelhas, cor do Partido dos Trabalhadores. Essas carreatas são inspiradas num crime contra a saúde pública, pregado pelo próprio presidente (ou será seu lado fã de Ustra?), o de boicotar o isolamento social, única estratégia reconhecida como viável pelos cientistas para reduzir a velocidade de propagação do novo coronavírus.

Aliás, tais carreatas cometem explicitamente um crime. A Avenida Paulista, onde elas ocorrem, é a rota de ambulâncias rumo a vários hospitais para onde são transportados doentes graves, incluídos as vítimas terminais de covid-19. Como já o fez antes, Bolsonaro (charlatão ou fã de monstro?) acusou cidadãos que ficam em casa, acatando recomendações de autoridades sanitárias de países do mundo inteiro, de serem “covardes”.

No caso específico, talvez seja o caso de questionar se não estaria ele próprio a se olhar nos espelhos dos palácios por onde desfila uma dúvida: como nunca expôs o atestado do Hospital das Forças Armadas em que se submeteu duas vezes a teste de contágio do novo coronavírus, será ele um portador assintomático, embora diga ser negativo para covid-19? Bem, terá uma grande oportunidade de provar se respeita a Câmara dos Deputados ao atender à determinação de mostrar os resultados em 30 dias.

Em relação ao vaivém de domingo 19 e segunda 20, é útil lembrar que, sendo calculista, não destemperado, obedece à tática de virar a casaca quando cruza a linha da fidelidade ao Estado de Direito. Domingo ele disse aos golpistas batendo literalmente à porta do Exército, que lhes fez ouvidos de mercador quando deveria ter rechaçado a ofensa à Constituição, que lhe cabe salvaguardar, que “esses políticos têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro”. Esse apelo à democracia direta (“esquerdopata”. no glossário bolsonarista) nada tem que ver com o que ele disse à porta do Alvorada: “Não falei nada contra qualquer outro Poder, muito pelo contrário”. Ou seja, o devoto do monstro quer impor submissão aos representantes do povo de verdade. E o charlatão de feira, jurar submissão ao primado constitucional. Na Campina Grande de minha adolescência, isso é chamado de “bater o pino”. Pino foi feito para se bater, também se diz por lá. Mas há que reconhecer humildemente…

Só para virar ponta de prego batido, este feroz perseguidor da incoerência deve ainda lembrar que à porta da caserna, à qual foi conduzido para sair sem farda, o capitão irredento ainda perpetrou uma falácia: “Nós não iremos negociar nada”. Que mentira, que lorota má, parodiando Luiz Gonzaga. Foi tudo o que o capitão de gravata fez na semana anterior: negociar com os velhos políticos do centrão o que eles querem de nosso dinheirinho do governo em troca de desafiar a liderança de Rodrigo Maia.

E o ápice da genuflexão à política velha foi inserir o depoimento do delator do mensalão, Roberto Jefferson, que cumpre pena por corrupção em casa, acusando Maia e Alcolumbre de conspirar contra a democracia. Uau!

Fugindo da tentação de ser golpista como ele é, concluo citando o desembargador Walter Fanganiello Maierovitch, em WhatsApp: “Acordem, senhores deputados, senadores e governadores”. E lembrando aos 11 ministros do STF: “O Código Penal, nos crimes contra a paz pública, tipifica, no artigo 286, o delito de incitação: incitar publicamente”…

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 20 de abril de 2020)

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Nesta quarta-feira no Estadão: Quando falam em ciência, Bolsonaro saca o revólver

José Nêumanne

Como homem da cobra, presidente vende mezinhas: cloroquina ou ‘pílula do câncer’

 

Nesta era da tecnologia, em que se combatem doenças com penicilina, vacinas e cirurgias corretivas de órgãos usando alta tecnologia cibernética, “homens da cobra” vendem mezinhas caseiras em feiras livres e praças. Não falta quem acredite nas lorotas de redes sociais (vulgo fake news) absurdas, como as que atribuem às vacinas doenças que evitam como se, ao contrário, levassem à morte. Pessoas cultas e respeitáveis adotam superstições – tais como não pronunciar a palavra câncer para evitar tumores malignos – com a naturalidade de quem toma água.

O capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro representa no posto mais alto da República esse pelotão de inimigos figadais (a palavra é exata, porque se refere ao fígado, segundo a poetisa americana Elizabeth Bishop, o órgão que no brasileiro faz as vezes de cérebro) da ciência. A ala de seu governo que se diz ideológica segue, de fato, crendices pré-históricas do tempo do Mito da Caverna, de Platão, como lembrou seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Nele a humanidade vivia presa num buraco, privada da luz solar, vendo desenhos das chamas de uma fogueira na pedra. E disposta a matar a pedradas quem subisse à superfície e levasse a revelação do Sol no céu.

Bolsonaristas autênticos, que fizeram carreata no domingo 12 de abril na Avenida Paulista, interrompendo o trajeto das ambulâncias com doentes graves para os hospitais, berrando a plenos pulmões palavrões impublicáveis, acreditam que a Terra é plana na era das viagens espaciais. E, como criam os dignitários papistas que condenaram o Galileu Galilei do eppur si muove (no entanto se move), imóvel. Idólatras, como os adoradores do bezerro de ouro, desafiando o decálogo do Deus do profeta Moisés no Sinai, amaldiçoam a evolução das espécies de Darwin, adotando o criacionismo do Gênesis. Hoje não dão a mínima para a Fiocruz e, então, pegariam em armas pela revolução contra a vacina da febre amarela, imposta por Oswaldo Cruz com apoio do presidente Rodrigues Alves, que morreria da pandemia da gripe espanhola no começo do século 20, ironia da deusa da História, Clio.

Jair Bolsonaro tem sido um Messias fiel nessa luta contra a ciência. Em março de 2016, enquanto o País debatia o impeachment de Dilma Rousseff, ele liderou o grupo de parlamentares – do qual faziam parte seu filho Eduardo e os petistas Arlindo Chinaglia (SP), médico e líder sindical, e Adelmo Carneiro Leão (MG), professor – em defesa da “pílula do câncer”. Esse foi o caso mais bem-sucedido de picaretagem de charlatão em prol da fosfoetanolamina, mezinha inventada pelo professor aposentado da USP Gilberto Chience (que não se perca pelo sobrenome). Em clima emocional e com celeridade inusitada, contrariando evidências científicas e assumindo o risco de levarem doentes terminais a abandonarem a quimioterapia e a radioterapia, a lei foi aprovada e sancionada por Dilma pouco antes de ser deposta. O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu os especialistas e proibiu a venda da droga. Mas o presidente ainda prega sua liberação, contra a qual o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, lutou na Câmara dos Deputados.

Nenhum defensor da “pílula do câncer” relatou algum caso concreto de cura pela panaceia do dr. Chience. Mas, quatro anos depois, o episódio se repete na batalha ideológica entre bolsonaristas e oponentes, como o governador de São Paulo, João Doria, defensores e inimigos da hidroxicloroquina e da cloroquina. O ridículo debate político foi aberto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em irresponsável, como tantas, fala na Casa Branca, em 19 de março. Desde então Bolsonaro é garoto-propaganda da droga, exibindo o produto vendido no Brasil em lives nas redes sociais. E isso provocou tal procura que pacientes que tratam de malária, artrite reumatoide e lúpus, e a tomam sob controle médico, não o acham nas farmácias.

O jornalista Edilson Martins, ex-Pasquim, já teve 26 surtos da febre terçã e contou em perfil no Facebook: “Confirmada a doença, vinha um funcionário da Sucam, nas cidades, diariamente, num jipe, e dava a dose do dia. Extremamente perigosa, a medicação. Sendo grávida, a mulher abortava. Não era concedida ao paciente a prerrogativa de ficar com as pílulas … O diabo do plasmódio atacava, é o que diziam os médicos, principalmente o fígado, derretendo meu sangue, me tornando um amarelão só. Os que sobrevivem, não poucos, têm como consequência, entre outras, impotência sexual e cirrose, já destruída sua capacidade de filtro”.

Além do absurdo de transformar uma terapia não testada, como “a pílula do câncer” e a cloroquina, numa arma mortal de palanque eleitoral, sobrevive a evidência preocupante: eleito por uma grande maioria de brasileiros aptos a votar, terá Jair Bolsonaro permissão para exercer a medicina sem a formação acadêmica exigida em lei? E, o que é mais grave, parodiando o que o marqueteiro de Hitler, Josef Goebbels, dizia sobre a cultura para a área da medicina, ofício de salvar vidas, e imitando a arma com os dedos: “Quando me falam em ciência, saco meu revólver”.

Jornalista, poeta e escritor

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No Blog do Nêumanne no Estadão: O presidente pode mentir para o STF?

José Nêumanne

AGU garantiu por escrito ao Supremo que Bolsonaro cumpre recomendações da OMS e de seu Ministério da Saúde e este desmentiu Mendonça violando a mais importante delas, isolamento social

 

No começo de abril, a Ordem dos Advogados do Brasil abriu ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo para impedir que o presidente da República, Jair Bolsonaro, cumprisse ameaça que fez publicamente de decretar o relaxamento do isolamento social decidido por governadores e prefeitos para evitar a aceleração do contágio do novo coronavírus. Sorteado para relatar o caso, o ministro Alexandre de Moraes mandou ofício à Advocacia-Geral da União (AGU) interpelando se o chefe do governo cumpria, ou não, as recomendações a esse respeito feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, cujo chefe fora nomeado por ele. No sábado 4 de abril, o titular da AGU, André Mendonça, respondeu que sim, seu chefe seguia tais providências.

No entanto, na Quinta-Feira Santa, 9/4, Jair Bolsonaro saiu para passear numa região comercial do Distrito Federal, entrou numa padaria, exigiu ser servido no balcão, o que é proibido pelo decreto do governador Ibaneis Rocha, misturou-se com a aglomeração, também proibida, e fez questão de cumprimentar os circunstantes. Nem ele nem os numerosos membros de sua escolta usavam máscara cirúrgica ou mantiveram a distância regulamentar de dois metros das pessoas que posaram com ele em selfies. No dia seguinte, Sexta-Feira Santa, 10, foi ao Hospital das Forças Armadas e, de lá, a uma farmácia, onde repetiu o ritual e ainda fez uma piada absolutamente incompatível com o momento terrível pelo qual passa o País que governa. Um repórter lhe perguntou o que fora comprar na farmácia. E ele respondeu que teria sido um teste de gravidez.

No dia seguinte, festejado pelos cristãos como Sábado de Aleluia, o ritual foi repetido pela terceira vez seguida. Ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que rompera com ele exatamente pelas divergências entre ambos em torno do isolamento, que chama de “horizontal”, e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, visitando a obra de um hospital de campanha em Águas Lindas, a 56 quilômetros de Brasília, estendeu a mão para uma admiradora beijar.

Ou seja, a resposta do representante judicial da instituição Presidência da República ao STF foi uma desrespeitosa mentira. A questão que fica é: essa agressão sem propósito não merece algum tipo de punição?

Seja qual for a resposta, o relator concedeu liminar à autora da ação, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), proibindo o chefe do Executivo de decretar a suspensão de medidas preventivas contra a veloz contaminação do novo coronavírus chinês que vierem a ser adotadas pelos governadores estaduais e prefeitos municipais.

Mas no mesmo Sábado de Aleluia em que o presidente afrontou o governador goiano e o ministro da Saúde, que ele escolheu e nomeou para ocupar uma pasta na Esplanada dos Ministérios, o funcionário que mentiu em nome do chefe ao órgão máximo do Poder Judiciário, teoricamente autônomo, distribuiu no fim de semana da Páscoa uma nota oficial deixando claro que o presidente não cumprirá a ordem. Este mesmo já tinha dito antes que recorreria contra a liminar. Até aí, tudo bem. Está no direito dele. Quanto à ameaça feita pelo advogado-geral da União, ela faz parte de uma narrativa eleitoral de uma disputa a ser realizada em dois anos e sete meses. A nota do pastor e protegido de Dias Toffoli, presidente do STF, será usada para pespegar no peito de João Doria, Wilson Witzel, Ronaldo Caiado e do próprio Mandetta, se necessário, o rótulo de que deixaram os desempregados pela pandemia ao relento. Enquanto o herói da luta contra o desemprego, o presidente que pretende ser reeleito, passaria a ser o novo pai dos pobres, como o foram no passado Getúlio Vargas e Lula da Silva.

Convém acrescentar que André Mendonça – cuja carreira até o topo na AGU foi patrocinada pelo ex-advogado do PT na presidência do STF e do Conselho Nacional de Justiça – é autor de pelo menos um artigo endeusando o ex-presidiário e coordenador de um livro louvando o dr. Toffoli, comemorando os dez anos de sua entrada no “pretório excelso”. A nota da AGU foi divulgada logo depois do anúncio de restrições com que o governador de São Paulo, João Doria, pretende reduzir a fuga dos paulistas do isolamento social seguindo as pregações de chefe de Mendonça,  ou seja. negando o que este tinha garantido estarem sendo seguidas à risca.

 No Domingo de Páscoa, aliás, o presidente da República, desmentindo mais uma vez o que seu advogado garantiu ao STF, disse a dirigentes de seitas evangélicas que “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego”. Ao contrário do que disse na live para seus seguidores que ocupam púlpitos em templos evangélicos, contudo, a realidade indica na direção oposta, pois a curva de incidência e letalidade da covid-19 sobe sem parar, a uma velocidade assustadora. Manaus não tem mais leitos com respiradores e o prefeito da cidade, Arthur Virgílio, não contemporizou com o Messias do Planalto. “O presidente Bolsonaro é, hoje, o principal aliado do vírus”, disse. Segundo Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde no epicentro da epidemia no País, São Paulo, 60% dos 1.662 novos leitos de baixa e média complexidade foram ocupados por pacientes com Covid-19. “Mesmo com todos os leitos que ainda vamos instalar, os dados mostram que tudo será ocupado muito rapidamente. Seguramente a gente vai ocupar em um curto espaço de tempo”, garantiu. Conforme dados oficiais do Ministério da Saúde, divulgados na segunda-feira 13, subiu para 13.717 o número de casos confirmados de coronavírus no Brasil. Foram 1.661 novas confirmações em 24 horas. Ou seja, o vírus não está saindo…

Ainda assim, o procurador-geral da República, Augusto Aras, comensal dos banquetes do PT à época da roubalheira de Lula e sua gangue e indicado para o cargo por um amigo do peito do presidente, Alberto Fraga, pretendente ao Ministério da Justiça no dia em que Bolsonaro se sentir com força para demitir Sergio Moro, recorreu contra a liminar concedida por Moraes, a que este texto se refere. Ele despachou que o presidente Jair Bolsonaro tem o direito de decidir sobre o “momento oportuno” para maior ou menor distanciamento social no enfrentamento do novo coronavírus. No parecer, ao qual o Estado teve acesso, o sucessor de Raquel Dodge afirmou também que, como o mundo passa por uma “crise sem precedentes”, repleta de “incertezas”, não é possível avaliar hoje, com precisão, se a estratégia de limitar a circulação de pessoas tem eficácia para impedir o avanço da covid-19.

Aras ainda não informou ao distinto público ameaçado pelo vírus terrível quando desembarcou do mundo da lua. Pois a vida real aqui, na Terra, é muito diferente. Por exemplo, hoje o epicentro mundial da pandemia é Nova York. Segundo o noticiário que abriu esta semana pós-Páscoa, “o Estado de Nova York somou 758 mortes em 24 horas em decorrência da covid-19. Agora, Nova York tem 9.385 óbitos atribuídos à doença pelo novo coronavírus, e deve superar a marca dos 10 mil mortos nas próximas horas”. Tais informações foram divulgadas pelo governador do Estado, Andrew Cuomo, em coletiva de imprensa transmitida nas redes sociais. Também dos EUA vem a notícia de que o epidemiologista que convenceu o presidente Donald Trump a deixar o negacionismo a que Bolsonaro se agarra, Anthony Fauci, afirmou que, “se o isolamento não tivesse tardado, não estaríamos registrando tantas mortes”. Esta é uma crítica a Cuomo, democrata de esquerda, que retardou a adoção do isolamento, mesmo quando ela era pretendida pelo presidente. “A pergunta é: o que aconteceria se não fizéssemos nada? O número subiria para entre 1,5 a 2,2 milhões de pessoas morrendo. Isso não seria possível, você veria pessoas morrendo nos lobbies de hotel, nos aeroportos. Isso não poderia continuar”, disse Trump na semana passada.

É possível encontrar no texto de um grande advogado brasileiro o recado certo para iluminar o cérebro de Aras, ocupado apenas em bajular o chefe do Executivo. No artigo publicado segunda-feira 13 na página A2, o ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho Almir Pazzianotto Pinto pregou o prego e virou a ponta, pontificando: “Países que subestimaram o isolamento pagam alto preço em número de infectados e mortos. (…) A pandemia trará prejuízos inevitáveis. Para o Brasil significa mais uma década perdida. Não há como evitá-lo.”

É isso, doutor: a escolha de Sofia que o anjo da morte sugere não existe. Mais cadáveres nas calçadas não reduzirão a recessão inevitável.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 13 de abril de 2020)

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